A serpente, lenta, enfrenta a mente, mente
Mente a amante, em frente, antes
Se ausenta, senta e afronta a sua sombra
Cresce o vazio da verdade
E faltam palavras para jurar suas mentiras
Tira do ar o profundo gosto do amor
Enquanto a serpente dá o bote, não mais fatal
Tal qual o fogo, seu veneno arde
Agora, melhor que tarde, seus dentes rasgam
Abrem a ferida que renova a vida
E, falsa, resvala e desce seu penhasco
Já não causa asco, o asco inflama
Retarda a cicatriz que já se faz tarde
Mas a serpente, lenta, olha a retaguarda
Guarda sua prepotência e se retira
Atira seu último olhar como se cordeiro fosse
E aqui guardo minhas mágoas
Salgo as águas turvas deste rio
Enfrento a cachoeira e rasgo as pedras
Surge das espumas a água cristalina
E linda surge minha nova vida
Para que eu viva, de novo.
|