Em Família
Tenho pressa
Me leve para a cama
tome posse
deste corpo de mulher (devassa)
e se aposse
desta alma de menina (travessa)
Abraça teus travesseiros
e me ama em sonhos molhados
mesmo que acordado
Deixa em mim tua marca
eu me entrego a ti em oferenda
Vem, entra, embarca
sente meu cheiro adocicado
prova do mel de minha boca
meus lábios, minha fenda
enquanto rouca
louca de paixão
urro, gemo, rio
em completo desvario
e arrepios de tesão
Eu, mulher, te servirei de abrigo
enquanto eu, menina, brincarei contigo
Eu, mulher, te darei banho de língua
eu, menina, dançarei ao teu redor
A mulher em mim te fará carícias ousadas
e a menina, contará estórias engraçadas
Eu, mulher e menina, sou um sonho
sou carma, tua doutrina, tua sina?
Imagino ser teu desequilíbrio de ébrio
quando, sóbrio, te embriagas de mim
E, confesso a quem quiser ouvir
tomo porres de ti até cair
em coma profundo (em cama profana)
onde, o que me falta de teu contato (penetração)
sobeja em solitário ato (masturbação)
É assim que te amo
e te possuo só meu
É assim que me terás
uma posse às avessas
um desencontro com encanto
e com a pressa
de quem precisa sonhar
com você, comigo
Uma espécie de "nós"
que dificilmente acontecerá
Só ficaremos à sós dispersos
num canto qualquer de um verso
perdidos entre letras e linhas
E, se houver um encontro
entre um parágrafo e outro
marcaremos um ponto
repetiremos o bis
fazendo amor nas entrelinhas
nas dobras do papel
nos pingos dos is
nos sinais de exclamação
que tirarão o chapéu
para nossa ousadia
De nosso tesão
geramos poesia
Somos uma família!
© Valéria Tarelho - 04/07/02
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