Estava compilando meus poemas
repassando alguns temas
e, de repente
te vi na minha frente
nu, absolutamente despido
feito menino inocente.
Tive desejos indecentes
incitou-me a libido
te quis como homem objeto
ou animal descartável
Nu, mas como homem-feito
nu, pelos à mostra
sexo ereto,
pele (suada, salgada, viscosa) exposta.
Também vi a mim
desnuda em teus braços
perdida entre amassos e abraços..
Eu e você, bocas coladas
corpos fundidos
difícil dizer onde você inicia
onde é o meu fim
se somos dois siameses
ligados abaixo do umbigo.
Eu e você
pecado, malícia
Você e eu
fazendo amor noite afora
vivendo amor dia a dentro
sonhando amor sobre, delirando amor sob
suando amor fora, pingando amor entre
comendo amor atrás, sugando amor na frente
nós, lado-a-lado no amor
amor nada complicado
amor salpicado de doce
amor que foi compilado.
E, seja amor, seja pecado
seja o que for esse desejo
(esse tesão abençoado)
foi ricamente encadernado.
Agora o folheio
e, sem censura, nos leio.
Te vejo até de olhos cerrados
entre os tomos dessa obra
e os hematomas em meu corpo
que me cobra
o peso do teu corpo
e me implora este amor animal
sintetizado em versos curtos
em estilo coloquial
traduzido em mil idiomas
escrito em alto relevo
para que apressados, leigos, forasteiros
e mesmo cegos tenham em mente
que te quero por inteiro.
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© Valéria Tarelho - 05/07/02
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