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Artigos-->PEQUENAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O SONETO -- 04/12/2006 - 22:14 (Amauri Carius Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Soneto (originariamente o vocábulo significava "pequeno som") poesia de forma fixa, ou seja, utiliza métrica (medida de versos) e esquema de rimas (ritmo). É composto por 14 (catorze) versos, distribuídos em 02 (dois) quartetos e 02 (dois) tercetos (soneto italiano), geralmente utiliza versos decassílabos (dez sílabas poéticas) ou alexandrinos (doze sílabas poéticas). Também pode ser formado por 03 (três) quartetos e 01 (um) dístico (dois versos) - soneto inglês.



Esquema mais frequente de rimas: abba - abba- cde - cde (soneto italiano).



No Modernismo Brasileiro (1922 - Atualidade) foi muito cultivado o soneto branco, isto é, catorze versos sem rimas, porém, com métrica (versos decassílabos ou alexandrinos).

Principal cultor no Brasil: Mário de Andrade (1893-1945).





SONETOS ITALIANOS



SONHO DE POETA



Cantas tua musa e tuas verdades.

Tu és alegre, tu és sensível.

Queres para o Mundo: felicidades.

Poeta torne seu sonho possível.

Desejas para todos: liberdades.

Tu possuis idealismo invencível.

Sonhador... Artesão das sensibilidades...

poeta criatura indestrutível.

Defendas os valores cotidianos.

Que tua vontade dure por anos.

Canta o choro do coração fendido.

vítima flechada pelo Cupido.

Cantas para o Amor que não frutificou

da triste alma que o destino separou.



"Que ninguém doma um coração de poeta!"

Augusto dos Anjo (1884 - 1914)



A FAMÍLIA CAJU



Era uma vez a FAMÍLIA CAJU

composta por Pai, Mamãe, Sofia e Ju.

Sofia (CAJU): faz balé e natação,

livros, textos, cinema e televisão.

Por que CAJU? Chamam-na de Jujú,

todos dizem - vem cá Ju - (CAJU) ficou.

A família (CAJU) vive a viajar,

rota: Rio, Saquarema, Petrópolis e BH.

Papai (CAJU) come: jiló com chuchu.

Mamãe (CAJU) gosta de aipo e angu.

CAJU tem os cabelos cacheados

corre para não serem penteados.

Cresce a família caju.

Aos domingos: churrasco e peixe cru.



SONETO BRANCO



SONHO DE AMOR



Sonhei em sonho de amor que estava

em terra de paz e felicidade.

Cicerone: fantástica loura.

Musa: grandes, lindos olhos azuis.

Um corpo magro, modelado, esguio...

Adorei esta loura e, encantado,

quis com as forças do meu coração

namorar esta maviosamulher.

Infelizmente, intrépido não sou,

não tenho Símbolo de Nobreza,

humilde discípulo em Letras sou.

Mesmo assim, Ela deu-me o "telefone",

"liguei"..., obstou a família e NÃO!!!

Adorável sonho... Sex Rapunzel!!!







PEQUENA ANTOLOGIA DE SONETOS





Melhores sonetistas de Portugal:



Luís Vaz de Camões (1524 - 1580) - Renascimento.

Nasceu (provavelmente) em Lisboa.

1572 - Primeira edição de Os Lusíadas.

Poesias: Rimas (1595).



Principais sonetos:



Sete anos de pastor Jacó servia

Labão, pai de Raquel, serrana bela;

Mas, não servia ao pai, servia a ela,

e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias na esperança de um só dia,

passava, contentando-se com vê-la;

Pórem o pai, usando de cautela,

Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos

Lhe fora assim negada a sua pastora,

Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,

Dizendo: - Mais servira, se não fora

Para tão longo amor tão curta a vida!



Transforma-se o amador na cousa amada,

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

pois consigo tal alma está liada. (ligada)

Mas está linda e pura semideia, (semideusa)

Que, como o acidente em seu sujeito,

Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;

[E] o vivo e puro amor de que sou feito,

Como a matéria simples busca a forma.



Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo onde subiste,

memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te

Alguma cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus que teus anos encurtou,

Que tão cedo me leve a ver-te,

Quão cedo de olhos te levou.





Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o Mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades,

O tempo cobre o chão de verde manto,

que já coberto foi de neve fria,

e em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mor espanto,

que não se muda já como soía.



Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?





Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 - 1805). Neoclacissismo ou Arcadismo (1756 - 1825).

"Elmano Sadino".

Nasceu em Setúbal.

Poesias: Idílios Marítimos; Rimas (3 volumes) e Parnaso Bocagiano - poesias eróticas, burlescas e satíricas.

Principais sonetos:



Soneto V



Meu ar evaporei na lida insana

Do tropel de paixões que me arrastava;

Ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava

Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana

Existência falaz me não doirava!

Mais eis sucumbe Natureza escrava

Ao mal que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!

Esta alma que sedenta em si não coube,

No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, oh Deus!...Quando a morte à luz me roube,

Ganhe um momento o que perderam anos,

Saiba morrer o que viver não soube.





Retrato Próprio (Soneto LXXXI)



Magro, de olhos azuis, carão moreno,

bem servido de pés, meão na altura,

triste de facha, o mesmo de figura,

nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,

mais propenso ao furor do que à ternura;

bebendo em níveis mãos por taça escura

de zelos infernais letal veneno.

Devoto incensador de mil deidades

(digo, de moças mil) num só momento,

e somente no altar amando os frades.

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

saíram dele mesmo estas verdades

num dia em que se achou mais pachorrento.





Antero de Quental (1842 - 1891) - Realismo.

Nasceu em Açores (Ponta Delgada).

Obras:

1ª fase - Odes modernas (1865); Primaveras românticas (1862) e Raios de extinta luz (1892).

2ª fase - Sonetos completos.



Principais sonetos:



Mais luz!



A Guilherme de Azevedo



Amem a noite os magros crapulosos,

E os que sonham com virgens impossíveis,

E os que se inclinam mudos, impassíveis,

À borda dos abismos silenciosos...

Tu, lua, com teus raios vaporosos,

Cobre-os, tapa-os e torna-os e insensíveis,

Tanto aos vícios cruéis e inextínguiveis,

Como aos longos cuidados dolorosos!

Eu amarei a santa madrugada,

E o meio dia em vida refervendo,

E a tarde rumorosa e repousada.

Viva e trabalhe em plena luz: depois,

Seja-me dado ainda ver morrendo,

o claro sol, amigo dos heróis!





Soneto II



Num céu intemerato e cristalino

Pode habitar talvez um Deus distante,

Vendo passar um sonho cambiante

O Ser como espetáculo divino.

Mas o homem, na terra onde o destino

O lançou, vive e agita-se incessante:

Encher o ar da terra o seu pulmão possante...

Cá na terra blasfema ou ergue o hino...

a idéia encarna em peitos que palpitam:

O seu pulsar são chamas que crepitam,

Paixões ardentes como vivos sóis!

Cambatei pois na terra árida e bruta,

Té que a revolta o remoinhar da luta,

Té que a fecunde o sangue dos heróis!



A JOÃO DE DEUS



Se é lei, que rege o escuro pensamento,

Ser vã toda a pesquisa da verdade,

Em vez da luz achara escuridade,

Ser uma queda nova cada invento;

É lei também, embora cru tormento,

Buscar, sempre buscar a claridade,

E só ter como certa realidade

O que nos mostra claro o entendimento.

O que há-de a alma escolher, em tanto engano?

Se uma hora crê de fé, logo duvida:

Se procura, só acha... o desatino!

Só Deus pode acudir em tanto dano:

Esperemos a luz de uma outra vida,

Seja a terra degredo, o céu destino.







GRANDES CULTORES NO BRASIL:



Gregório de Matos e Guerra (1636-1696) - Barroco.

Nascido em Salvador, Bahia.

Por ser muito crítico à sociedade de seu tempo foi apelidado de "Boca de Inferno".

Somente no século XX é que a Academia Brasileira de Letras deu lume as suas obras, organizadas da seguinte maneira:

I - Sacra (1929);

II - Lírica (1923);

III - Graciosa (1930);

IV e V - Satírica (1930);

VI - Última (1930).

Sonetos mais conhecidos:

"Buscando a Cristo". (Sacro)

"Sonetos a D. Ângelade Sousa Paredes". (Lírico)

"A Jesus Cristo Nosso Senhor". (Sacro)

"A instabilidade das coisas do mundo". (Lírico)

"À cidade da Bahia". (Satírico)

"Aos Caramurus da Bahia". (Satírico)

"Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia". (Satírico)



Cláudio Manuel da Costa ("Glauceste Satúrnio").

(1729-1789) - Arcadismo.

Nascido em Mariana, Minas Gerais.

Participou do movimento denominado "Inconfidência Mineira".

Poesias:

Obras poéticas (1768) - obra literária que inaugurou o Arcadismo (1768 - 1836) no Brasil.



Principais sonetos:



Soneto XCVIII



Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci: oh quem cuidara

Que entre penhas tão duras se criara

Uma alma terna,um peito sem dureza!

Amor, que vence os Tigres, por empresa

Tomou logo render-me; ele declara

Contra o meu coração guerra tão rara,

Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,

A que dava ocasião minha brandura,

Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós que ostentais a condição mais dura,

Temei penhas, temei; que Amor tirano,

Ondehá mais resistência mais se apura.





Soneto XIII



Nise? Nise? onde estás? Aonde espera

Achar-te uma alma, que por ti suspira;

Se quando a vista se dilata e gira,

Tanto mais de encontrar-te desespera!

Ah se ao menos teu nome ouvir pudera

Entre esta aura suave que respira!

Nise, cuido, que diz; mas é mentira.

Nise cuidei que ouvia; e tal não era.

Grutas, troncos, penhascos da espessura,

Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde,

Mostrai, mostrai-me a sua formosura.

Nem ao menos o eco me responde!

Ah como é certa a minha desventura!

Nise? Nise? onde estás? aonde estás?



Soneto II



Leia a posteridade, ó pátrio Rio,

Em meus versos teu nome celebrado;

Por que vejas uma hora despertado

O sono vil do esquecimento frio:

Não vês nas tuas margens o sombrio,

Fresco assento de um álamo copado;

Não vês ninfa cantar, pastar o gado

Na tarde clara do calmoso estio.

Turvo banhando as pálidas areias

Nas porções do riquíssimo tesouro

O vasto campo da ambição recreias.

Que de seus raios o planeta louro

Enriquecendo o influxo em tuas veias,

Quando em chamas fecunda, brota em ouro.



Soneto XIV



Quem deixa o trato pastoril amado

Pela ingrata, civil correspondência,

Ou desconhece o rosto da violência,

Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos transladado

No gênio do pastor, o da inocência!

E que mal é no trato e na aparência

Ver sempre o cortesão dissimulado!

Ali respira amor sinceridade;

Aqui sempre a traição seu rosto encobre;

Um só trato a mentira, outro a verdade.

Ali não há fortuna, que soçobre;

Aqui quanto se observa, é variedade:

Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!



MANUEL ANTÔNIO ÁLVARES DE AZEVEDO (1831 - 1852) - ROMANTISMO.

Segunda geração romântica.

Nasceu em São Paulo.

Tornou-se conhecido como "poeta da morte", "poeta da solidão".

Poesias:

Lira dos vinte anos (1853);

Pedro Ivo;

Poesias diversas;

Poema do frade;

O conde Lopo.



Principais sonetos:



Pálida á luz da lâmpada sombria,

Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria

Pela maré das águas embalada!

Era um anjo entre nuvens d alvorada

Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...

Negros olhos as pálpebras abrindo...

Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!

Por ti - as noites eu velei chorando,

Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!



já da morte o palor me cobre o rosto,

Nos lábios meus o alento desfalece,

Surda agonia o coração fenece,

E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto

Tento o sono reter!... já esmorece

O corpo exausto que o repouso esquece...

Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeu, o teu adeus, minha saudade,

Fazem que insano do viver me prive

E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!

Volve ao amante os olhos por piedade,

Olhos por quem viveu quem já não vive!





OLAVO BILAC (1865-1918) - PARNASIANISMO (1870 - 1922).

Nasceu no Rio de Janeiro.

Membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896).

Em 1907, foi eleito "Principe dos Poetas".

Poesias:

Poesias (1888);

Poesias infantis (1904);

Tarde (1919).



Sonetos de maior realce:



XIII



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direi agora: "Treloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas". (VIA-LÁCTEA)



XXV



A Bocage



Tu, que no pego impuro das orgias

Mergulhavas ansioso e descontente,

E, quando à tona vinhas de repente,

Cheias as mãos de pérolas trazias;

Tu, que do amor e pelo amor vivias,

E que, como de límpida nascente,

Dos lábios e dos olhos torrente

Dos versos e das lágrimas vertias;

Mestre querido! viverás, enquanto

Houver quem pulse o mágico instrumento,

E preze a língua que prezavas tanto:

E enquanto houver num canto do universo

Quem ame e sofra, e amor e sofrimento

Saiba, chorando, traduzir no verso. (IDEM)



Nel mezzo del camin...



Cheguei. Chegaste. Vinha fatigada

E triste, e triste e fatigado eu vinha,

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada

Da vida: longos anos, presa à minha

A tua mão, a vista deslumbrada

Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida

Nem o pranto os teus olhos umedece,

Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,

Vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo. (SARÇAS DE FOGO)



Língua portuguesa



Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela

Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho! (TARDE)



A um poeta



Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do clustro, na paciência e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se constitua

De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostra na fábrica o suplício

Do mestre. E, natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade. (IDEM)



A Iara



Vive dentro de mim, como num rio,

Uma linda mulher, esquiva e rara,

Num borbulhar de argênteos flocos, Iara

De cabeleira de ouro e corpo frio.

Entre as ninféias a namoro e espio:

E ela, do espelho móbil da onda clara,

Com os verdes olhos úmidos me encara,

E oferece-me o seio alvo e macio.

Precipito-me, num ímpeto de esposo,

Na desesperação da glória suma,

Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...

Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:

E a mãe-d água, exalando um ai piedoso,

Desfaz-se em mortas pérolas de espuma. (TARDE)





Raimundo Correia (1859 - 1911) - Parnasianismo.

Nascido no Maranhão.

Juntamente com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac formaram a "Trindade Parnasiana".

Poesias: Sinfonias (1883).

Principais soneto: "As pombas" e "Mal secreto".



Alberto de Oliveira (1857 - 1937) - Parnasianismo.

Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro.

1924 - Eleito "Príncipe dos Poetas" no vaga de Olavo Bilac.

Poesias: Meridionais.

Sonetos mais conhecidos: "Vaso grego", "Vaso chinês" e "A estátua".





JOÃO DA CRUZ E SOUSA (1861 - 1898) SIMBOLISMO.

Nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis (Santa Catarina).

Poesias:

Bróqueis (1893);

Missal (poemas em prosa, 1893);

Evocações (poemas em prosa, 1898);

Faróis (1900);

Últimos sonetos (1905).



Principais sonetos:



Cárcere das Almas



Ah! Toda alma num cárcere anda presa,

soluçando nas trevas, entre as grades

do calabouço olhando imensidades,

mares, estrelas, tardes, naturezas.

Tudo se veste de uma igual grandeza

quando a alma entre grilhões as liberdades

sonha e sonhando , as imortalidades

rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas

nas prisões colossais e abandonadas,

da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,

que o chaveiro do céu possui as chaves´

para abrir-vos as portas do Mistério?!



SINFONIAS DO OCASO



Musselinosas como brumas diurnas

descem do ocaso as sombras harmoniosas,

sombras veladas e musselinosas

para as profundas solidões noturnas.

Sacrários virgens, sacrossantas urnas,

os céus resplendem de sidéreas rosas,

da Lua e das Estrelas majestosas

iluminando a escuridão das furnas!

Ah! por estes sinfônicos ocasos

a terra exala aromas de auréos vasos,

incensos de turíbulos divinos.

Os plenilúnios mórbidos vaporam...

E como que no azul plangem e choram

cítaras, harpas, bandolins, violinos...





ALFHONSUS DE GUIMARÃES (1870 - 1921) SIMBOLISMO.

Nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais.

Poesias:

Setenário das dores de Nossa Senhora.

Obs.: os sonetos quando não recebem título vindo do autor, são nomeados de acordo com o primeiro verso.

É o caso do soneto abaixo transcrito.



"Hão de chorar por ela os cinamomos"



Hão de chorar por ela os cinamomos,

Murchando as flores ao tombar do dia.

Dos laranjais hão de cair os pomos,

Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: - "Ai, nada somos,

Pois ela se morreu silente e fria..."

E pondo os olhos nela como pomos,

Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,

Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la,

Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...

E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,

Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"





AUGUSTO DE CARVALHO RODRIGUES DOS ANJOS (1884 - 1914) SIMBOLISMO.

Nasceu na Paraíba (no engenho Pau d Arco).

Poesias:

Eu (1912);

Eu e outras poesias (1919).



Principais sonetos:



VENCEDOR



Toma as espadas rútilas, guerreiro,

e à rutilância das espadas, toma

A adaga de aço, o gládio de aço, e doma

Meu coração - estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro

E o mais possante gladiador de Roma.

E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,

Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.

Veio depois um domador de hienas

E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...

E não pôde domá-lo enfim ninguém,

Que ninguém doma um coração de poeta! (Pau d Arco - 1902.)



BUDISMO MODERNO



Tome, Dr., esta tesoura, e... corte

Minha singularíssima pessoa.

Que importa a mim que a bicharada roa

Todo o meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!

Também das diatomácias da lagoa

A criptógama cápsula se esbroa

Ao contato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida

Igualmente a uma célula caída

Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades

Fique batendo nas perpétuas grades

Do último verso que eu fizer no mundo!



PSICOLOGIA DE UM VENCIDO



Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênise da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me a boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme- este operário das ruínas -

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!



VERSOS ÍNTIMOS



Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Escarra nessa boca que te beija. (Pau d arco - 1901)



DEBAIXO DO TAMARINDO



No tempo de meu Pai, sob estes galhos,

como uma vela funérea de cera,

Chorei bilhões de vezes com a canseira

De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvores, de amplos agasalhos,

Guarda, como uma caixa derradeira,

O passado da Flora Brasileira

E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios

De minha vida, e a voz dos necrológios

Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à patria da homogeneidade,

Abraçaram com a própria eternidade

A minha sombra há de ficar aqui!



O MORCEGO



Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! e este morcego! E, agora, vede:

na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."

- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. e vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite, ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!





VINÍCIUS DE MORAES (1913 - 1980) - MODERNISMO.

Nasceu no Rio de Janeiro.

Poesias:

Obra poética (1968);

Poesia completa e prosa (1974).



Principais sonetos:



Soneto de Fidelidade



De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assimn, quanto mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive);

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.



Soneto de Separação



De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do movimento imóvel fez-se o drama.

De repente não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.



Soneto de Contrição



Eu te amo, Maria, eu te amo tanto

Que o meu peito me dói como em doença

E quanto mais me seja dor intensa

Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa

Meu coração é um vago de acalanto

Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma

Nem melhor a presença que a saudade

Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade

Que tão mais te soubesse pertencida

Menos seria eterno em tua vida.



Soneto do Amor Total



Amo-te tanto, meu amor... não cante

O humano coração com mais verdade...

Amo-te como amigo e como amante

Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,

E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.



Soneto de Véspera



Quando chegares e eu te vir chorando

De tanto te esperar, que te direi?

E da angústia de amar-te, te esperando

Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrima terei

Para esquecer o que vivi lembrando

E que farei da antiga mágoa quando

Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa

Pelo martírio da memória imensa

Que a distância criou - fria de vida

Imagem tua que eu compus serena

Atenta ao meu apelo e a minha pena

E que quisera nunca mais perdida...

























Amauri Carius Ferreira (Augusto de Sênior)











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Referência bibliográfica:



MOISÉS. Massaud. A LITERATURA BRASILEIRA ATRAVÉS DOS TEXTOS. 23ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2002.

------- PEQUENO DICIONÁRIO DE LITERATURA BRASILEIRA. 6ª ed. São Paulo: Cultrix, 2001.

NICOLA, José de. LITERATURA BRASILEIRA DAS ORIGENS AOS NOSSOS DIAS. São Paulo: Scipione, 1998.

CAMPEDELLI, Samira Youssef. LITERATURA - HISTÓRIA E TEXTO.4ª ed. v.1 - São Paulo: Editora Saraiva, 1996.

------- E ABDALA JÚNIOR, Benjamim. TEMPOS DA LITERATURA BRASILEIRA. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2001. (Série Fundamentos)

HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 2ª edição revista e aumentada. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.

AMARAL, Emília et al. NOVAS PALAVRAS: LITERATURA, GRAMÁTICA, REDAÇÃO E LEITURA. V.1 e V.2 - São Paulo: FDT, 1997. - (Coleção Novas palavras)





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