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Artigos-->A MÍSTICA DE SÃO FRANCISCO -- 28/12/2006 - 07:37 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos










A Mística de São Francisco



* Frei Vitório Mazzuco

Setembro/2006





Quero iniciar contando para vocês um fato real.



Não é lenda. Eu trabalhei alguns anos como editor da Editora Vozes. Onze anos num trabalho editorial Sonhava trazer para o Brasil: “Palavras”, uma publicação de um dos grandes místicos do Oriente.



Ele é um mestre sufi. O sufismo é a mística do Islã. Normalmente nós temos uma idéia muito errada. Aquilo que os meios de comunicação, aquilo que as agências de notícias mostram para nós, mostram apenas o radicalismo fundamental islâmico: ações terroristas, ações radicais.



No entanto, eles falam também de um patrimônio espiritual de um povo, talvez, porque a mística e a espiritualidade não tenham este espaço que nós gostaríamos que tivesse nas ações humanas.



Mas há dezoito anos atrás ele ainda estava vivo.



Ele é falecido há dezoito anos. Morava nas montanhas da Turquia, o grande mestre sufi. O nome dele é Mula Nussaldin.



Mula significa A grande Alma, a grande pessoa. A mesma coisa: Mahatma Gandhi. Exemplo: Mahatma Gandhi, a grande alma.



Ele nunca tinha aparecido em vida em publico. Um jeito original e surpreendente de falar. Quando todo mundo esperava que ele estivesse indo pelo caminho normal daquilo que é comum, considerado normal na fala, ele surpreendia a todos. Tinha um espírito de humor fabuloso. Era surpreendente no seu método.



Quando ele completou 80 anos ( até 80 anos esteve escondido, nunca escreveu um texto, nunca publicou um livro) a sua fala veio se espalhando pela oralidade. As pessoas iam ouvindo, guardando e repassando.



O que existe hoje, existe porque seus discípulos e discípulas passaram para a humanidade. Por esta razão, quando eu era editor quis trazer para o Brasil uma coletânea de textos de Mula Nussaldin. Mas na época, o conselho editorial da Vozes não aprovou, alegando que um autor desconhecido não seria capaz de atrair um público.



Mas eu gostaria de contar pra vocês, que quando Nussaldin completou 80 anos, para surpresa de todos, ele aceitou pela primeira vez na sua existência e na história daqueles que o admiravam: falar em público. E aceitou ir para um encontro como este .... em Istambul na Turquia. As pessoas queriam ouvi-lo. E como ele era conhecido já pela tradição oral, 480 pessoas se reuniram em Istambul para ouvi-lo. O encontro não tinha nem tema nem lema. Era ele.



Surpreendentemente, quando ele chega lá, ele olha um auditório com 480 pessoas... entregaram para ele um microfone como esse e ao começar, ele olha para o público. Estavam todos muito atentos, naquela expectativa de ouvir o grande mestre ...



Ele olha para o público e faz uma pergunta simples. Pela primeira vez as pessoas ouviram a sua voz... Pela primeira vez... a não ser poucos e poucas discípulas e discípulos que tinham encontrado com ele. A pergunta dele é muito simples. Ele olha para o público e diz assim... e pergunta:



- Vocês sabem o que eu vim falar? Quem sabe o que eu vou falar levante a mão.



Vocês estão vindo aqui para esse encontro e está tudo muito bem arrumado: a temática, o espaço, o lugar... mas, o público daquele encontro não sabia e não reagiu, ficou completamente em silencio e não teve nenhum gesto de reação.



E ele olhou para o publico e disse o seguinte:



- Bem, já que vocês não sabem o que eu vou falar , eu não tenho nada que fazer aqui. E entregou o microfone e saiu da sala.



Os organizadores do evento foram atrás dele, surpresos. O público ficou estático. Gente que tinha vindo de longe, de perto... para ouvi-lo.



Ao ser procurado fora do ambiente as pessoas insistem para que o grande homem volte dizendo que elas estão nessa expectativa e esperam anos e anos para ouvirem a sua fala. Pedem que em consideração, volte... Ele volta. Ele volta, pega o microfone, olha tranqüilamente para o público e repete a pergunta. Surpreendentemente, ele repete a pergunta:



- Vocês sabem o que eu vou falar? Quem sabe o que eu vou falar levante a mão. Como não queriam perdê-lo todos levantaram as mãos. Alguns levantaram as duas mãos. E ele olhando com calma disse:



- Muito bem, já que vocês sabem o que eu vou falar, eu não tenho nada o que falar. E mais uma vez ele se retira e mais uma vez as pessoas vão atrás dele pedindo que ele retorne. E nos dez minutos que ele fica fora o público ansioso e na sabedoria se organiza. Ah! Aquele cochicho entre todos fez com que o público se articulasse e, ele volta pela terceira vez.



E as pessoas dizem: - Agora ele começa e mais uma vez ele repete a pergunta. Mas aí, o público estava a vontade Agora não tem como, se ele repetir a pergunta nós sabemos como fazer. E ele repete:



- Vocês sabem o que eu vou falar. Quem sabe o que eu vou falar levante a mão. Como eles tinham se organizado metade levantou a mão e metade continuou com a mão abaixada. Vocês que sabem contem para os que não sabem. Aí as pessoas então perceberam que não tinham nada o que fazer ... e foi aí que ele começou e ao começar ele dizia assim:



Eu não tenho nada de novo para dizer Ainda que as pessoas estejam necessitadas do fervor da palavra da fecundidade da palavra eu não tenho nada de novo a dizer.



Ele dizia: o Novo está em despertar, e eu quero despertar em vocês o melhor de vocês. O novo está dentro de vocês. E não na fala, e não nas palavras. O novo está dentro da tranqüilidade intima de cada ser humano aonde ele se lança apaixonadamente a um projeto E aí ele começa.



Ele disse: a minha função não é falar, mas despertar.



E é este, o grande tema desta reflexão. Esta é a fala no início da manhã deste encontro. Eu vim aqui para despertar vocês para mística deste santo. E vamos começar pensando exatamente o que é a mística?



A palavra mística vem do grego Müen. E a palavra grega Muen significa introduzir as pessoa nos mistérios. Criar uma grande iniciação, iniciar ao valor essencial, isso é mística.



Mística também significa quais são as motivações internas que você tem. O impulso interno. Aquilo que está dentro, que tem dentro do seu coração e que salta para fora. Isso é mística. Além de que, trazendo para a espiritualidade, Mística é o recolhimento para a raiz. O recolhimento para a (...) pessoal. Por isso que a mística exige momentos como esse aonde nos sentamos, sossegamos nossa vida, fazemos silêncio e para que nos façamos uma grande escuta.



Normalmente a Mística não está na fala, ela está na escuta. Escutar uma grande convocação. Escutar uma grande Inspiração. Então isto é mística. E vocês viram o tema:



“Falar da Mística de São Francisco”. O que é isso?



Francisco de Assis é um humano medieval. Um personagem que nasceu em 1186, na cidade de Assis, na região da ÚMBRIA na Itália. Morre com 44 anos, bastante jovem. Era filho de Pedro Benadon um rico mercador. Ele mesmo faz parte de uma casta social emergente: os novos ricos do período medieval que era a classe dos mercadores, a baixa nobreza chamado também de burguesia . Estava crescendo o status social. Ele é rico, inteligentíssimo, líder da juventude da sua (...) Num determinado momento ele larga tudo e vai viver com os leprosos . Isto causa um escândalo e impacto na sua sociedade.



(...) a ordem franciscana está num processo de comemoração dum grande jubileu. Francisco chega num lugar chamado São Damião em 1205, e ali entre 1205 e 1206, portanto nós estamos no século XIII. Ele começa um processo de decisão na sua vida. Em 1209 ele requer aprovação para viver sua própria (...). Portanto, em 2009 nós vamos fazer 800 anos de conversão na história (...) e nós, a família que nasce a partir da experiência dele.



E nós estamos em 2006, portanto 800 anos em que alguém começa a experiência radical entre os leprosos. Eu estou usando a palavra leproso , que é o termo medieval, certo? Claro que depois mudou para hanseniano (hoje se diz: pessoas atingidas pela hanseníase, por sugestão do MORHAN- Movimento de Reintegração...), mas o período medieval não conhecia este termo. Mas eu queria colocar então esta experiência e a partir disso ir atualizando.



Nesse processo de mudança para despertar nele o melhor de seu coração, Francisco faz uma grande escolha: ele é um convertido. Os gregos dizem que conversão é METANOIA, isto é mudar de mentalidade, eu mudo de mentalidade.



Para Francisco, conversão não é isso Conversão significa mudar de lugar. É muito diferente.



Porque eu posso mudar de mentalidade mas não ir a lugar nenhum. Então eu tenho aqui nesta sala, um grupo humano extremante qualificado porque vocês dão passos corretos em direção ao humano, portanto existe dentro de vocês uma conversão natural.



Se nós olharmos o código de transito é muito simples: aquilo que a teologia, aquilo que a antropologia, a sociologia os estudos de ciências da religião, as vezes, gastam teses, ensaios e textos para explicar o que é o convertido, o código de transito diz de forma muito simples e completa: conversão significa encontrar o retorno. Ou a direita ou a esquerda... e tomar outro caminho.



Então, o convertido é aquele que tem a coragem de fazer a conversão, isto é mudar a rota, mas, para dentro de si mesmo. Para dentro do melhor do humano, de modo que hoje, convertência é qualificar a vida, qualificar o humano.



Isto, a principio, anos atrás toca este jovem chamada Francesco Ibernardone que passa a ser conhecido como Francisco de Assis e ele muda de lugar... muda de lugar e vai viver em Pio (1205, 1206... 1209) junto à cúria romana....



Portanto, estamos há 800 anos desta experiência. Ele vai viver num lugar chamado São Damião, que era uma paragem.



O período medieval é uma época onde havia a experiência de um povo viato, isto é o peregrino, o andante, o caminhante.



Aqueles que andavam nas caravanas, aqueles que andavam na peregrinação aqueles que andavam na aventura. O povo medieval é um povo que anda muito, sobretudo a pé, porque o cavalo era o símbolo de status do poder de quem tem. Então o cavalo só pertencia aos ricos, aos nobres e aos (...) isto é, aqueles que viviam o exercício de serem soldados. O exército, aqueles que davam proteção.



Este fato de andar a pé cria certos lugares e formam paragens. Então... São Damião era uma paragem. Lá havia o estábulo para recuperar os cavalos, uma enfermaria para cuidar dos pés dos caminhantes, um imenso dormitório coletivo onde os andantes e os peregrinos descansavam. Lá havia também, uma capela dedicada a São Damião e São Cosme pela tradição da Antigüidade. Cosme e Damião são enfermeiros, e esse lugar estava em ruínas quando ali chegou.



Ruínas... completamente abandonado. Porque é como posto de gasolina hoje em dia: se não melhora a concorrência cria um outro melhor e ele vai ser abandonado e largado na beira da estrada.



Nós, hoje, temos muitos paradouros a beira da estrada que estão abandonados. Então, acontece isso com São Damião.



O medieval tem uma dificuldade enorme com ruína. Ruína significa aquilo que perdeu a vitalidade, o que a história perdeu, aquilo que sofre a falta da valorização. Aquilo que já não tem mais sentido... isso é ruína. De modo que o mundo medieval detestava a ruína.



Por isso, as cidades medievais são feitas de pedra com lava vulcânica para ficar bem sólida e, eles colocavam tudo novamente em pé.



A ruína significava a perda do vigor, perda da originalidade. Então, eles sofriam com isso. A arquitetura medieval não mostra a ruína. As muralhas derrotas nas batalhas eram reerguidas rapidamente.



Então, quando ele chega ali nas ruínas, o que ele encontra lá? Leprosos. Isso mexe fundamentalmente com a vida dele.



Esse é um aspecto, mas também no período que ele está na convivência com leprosos, não há proximidade. Ele está vendo de longe, olhando, analisando, observando.



Mas tem um momento na vida de Francisco, em que ele está vindo com seu cavalo e, num determinado momento ele encontra numa estrada um leproso. A primeira reação que ele tem é apertar as rédeas, tocar o cavalo fortemente com o estribo e sair a galope, fugir.



O que ele faz? Desce do cavalo, aproxima-se do leproso, abraça e beija.



Isto está na sua ( ...) nas ( ...) franciscanas medievais. Ele abraça e beija o leproso.



A partir desse momento ele muda, porque para a Mística deixar-se beijar é mais do que beijar. O beijo e o abraço significa envolvimento amoroso. É trazer para perto. A questão não é a exclusão, mas a inclusão. Passar o hálito, o sopro. Passar o melhor de você quando o outro está podre. A partir do momento que ele faz esta experiência ele muda radicalmente.



Então, olhando o tema que nós estamos falando, nós já temos alguns fatos. Em primeiro lugar: o que é a ruína?



A ruína é a falta de cuidado.



Saber cuidar é o valor que hoje, a pós-modernidade recupera. E isso já está presente em todas as épocas da vida. E Francisco de Assis assume isso com imensa reverência há 800 anos atrás, por isso ele continua sendo atual, continua sendo uma grande inspiração para as práticas de hoje.



Despertar significa iluminar as práticas.



Nós temos que fazer uma pergunta muito séria:



Quem cuida do humano? Quem cuida do humano?



(....) Governos cuidam de humanos?



Nem sempre. Vocês estão aqui numa ação governamental concreta. Mas isso é quase que uma exceção. Governos cuidam de bancos, de fundos monetários de uma nação. A pessoa humana não é prioridade para os governos.



Se vocês perguntarem se escolas cuidam de humanos?



Nem sempre. Escola prepara pessoas para o mercado, prepara para competir, não é verdade? nem sempre preparam para a solidariedade.



Igrejas cuidam prioritariamente de humano?



Nem sempre. Às vezes é a disputa hierárquica, o status, uma posição. Às vezes é o discurso de falar de temores e pecados para baixar a auto-estima do humano e, quando o humano está com a auto-estima baixa ele se arrasta, e você coloca um cabresto sobre ele e o leva para onde quer, inclusive esvaziando seu bolso.



Então, nem sempre, quem devia cuidar de nós está cuidando. E hoje, nós temos pessoas que colocam camisetas levantam faixas e vão para as ruas fazer passeatas: Salvem as capivaras! Não é verdade?



Lutam para que não desapareça o mico-leão-dourado, a ararinha azul, o jaboti, as espécies da fauna e da flora. Lutam para a não extinção das begôneas e orquídeas. E a espécie humana?



Quem cuida da espécie humana?



Será que a espécie humana não é uma espécie em extinção? O humano verdadeiro? Por isso eu estou aqui com muita alegria e com muita reverência.



Desde que eu cheguei aqui na sala, vi exatamente isso. Estar diante de vocês é estar diante de quem cuida da espécie humana. Vocês fazem parte de um grupo humano extremamente diferenciado. Isso significa a não ruína humana, mas ir buscá-lo para colocá-lo novamente em pé.



E tem mais, no período medieval, existe uma realidade que vou contar pra vocês que ela é extremamente chocante. Eu descobri isso num livro, esse livro ( ....) para a língua portuguesa. Só existe em alemão. Recentemente foi para o francês e para o italiano. E ele é de Anton Rodpeter um historiador suíço que escreveu um livro chamado Franciscus. É sobre Francisco.



E ele faz um estudo dos documentos da época e à luz desses documentos ele recria as legendas que se escrevem sobre São Francisco. E num momento, baseado em documentos medievais, ele conta, a existência, ele narra e prova a existência de um rito de Exclusão: num determinado momento eles reuniam nas praças das cidades medievais, por exemplo podia ser Urvietto, Siena, Assis ou qualquer cidade medieval da Alemanha, da Inglaterra, da França, mas falemos da Itália já que o contexto aqui é o da Itália. Reuniam na praça central todos os doentes contaminados.



Tem uma questão muito séria: a Idade Média trouxe o termo leprae que significa o chagádo , o pútredo , o marcado por uma doença , leprae necessáriamente não era só a hanseníase. Eles misturavam todas as doenças que eles não podiam precisar. Eles misturavam todos os contaminados.



Agora... a leprae era tão forte que ao misturar havia um contágio, de modo que para eles que não tinham um laboratório de análises clinicas, nem sabiam o que era isso. Para eles a doença era de extremo contágio. Por isso eles reuniam no centro da cidade em determinado momento, todos os contaminados, especialmente os leprosos e, após estarem todos ali reunidos aparecia o bispo ou o abade que vinha paramentado, missal na mão, com as antífonas, as orações da missa de exéquias.



Não era celebrado uma eucaristia, não. Apenas ele lia, distante, as antífonas da missa de exéquias, isto é, o rito dos mortos.



Em seguida, ele chamava um acólito e ele trazia sobre um batizeiro, uma bandeja. Não pensem que nessa bandeja estava a água benta, ou óleo da unção.



Não, não! Era terra... uma porção de terra. De onde? A terra do cemitério do local. E ele pegando punhados daquela terra jogava sobre os leprosos , dizendo: vocês estão mortos. Aí que se criou o termo medieval Mors tua vitae mea . A sua morte é a minha vida .



Eles tinham plena convicção que erradicar o doente do convívio social era salvar-se.



Expulsar para fora das muralhas era salvar a sociedade.



Faziam isso com a plena convicção que eles estavam purificando e criando o sadio da existência para aquele lugar, para aquela redondeza e assim eles achavam que eles eliminavam as pestes, as doenças contagiosas.



Aí, logo após esse ritual, o leproso recebia um cajado. Nesse cajado tinha um sininho, porque cada vez que ele se aproximasse de um ser humano ele tinha que tocar o sino para que o ser humano fugisse. Isso é o ritual de exclusão.



O que Francisco faz? Muda de lugar. Vai viver no meio de leprosos.



Mudar de lugar significa viver a ética do cuidado.



Mudar de lugar significa viver o segundo aspecto da Mística que é o que eu vou dizer agora. Que é o que vocês têm, por isso eu digo: eu estou aqui, a imensa reverência diante de vocês, que é a definição Terapêutica.



Hoje quando nós falamos de terapeuta, nós logo nos remetemos ao analista, ao psiquiatra ao psicólogo, ou então aquele que tem o rumo de terapias holísticas: especializado em shiatsu, massoterapia, Reiki, não é? Aquele que tem ações alternativas no cuidado da saúde.



Só, que a palavra terapeuta está presente desde o tempo da Alexandria. Para o mundo alexandrino, terapeuta somos todos nós.



Quem era o terapeuta?



O terapeuta é aquele que instala aonde está o sadio da existência.



O que é o sadio?



A palavra Sadio vem de Salus. Nas revisões se usa demais essa expressão, muitas vezes... sem saber do que se trata. Para eles Salus é soter, do latim. Soter, salus significa o sadio. Salvador. Salvar significa sanar. Sarar na língua alemã é a mesma que cuidar.



De modo que o terapeuta é aquele que instaura o sadio, é aquele que vive num estado de saúde, aquele que leva a humanidade à saúde. Só que saúde não é ausência de sintomas. Saúde é fazer o que o coração pede.



Isto é o verdadeiro sentido da saúde. Porque hoje pessoas doentes são aquelas que não tiveram a chance de se realizar. Que não são amadas, não são percebidas, não são cuidadas, são colocadas à margem da experiência humana.



Hoje nós temos muita gente doente porque o coração não é prioridade. E não estou falando de problema cardíaco, estou falando de uma questão existencial.



Doenças, devido a ( ...) bloquear as melhores energias que estão em nós. De modo, que se existiu um momento em que a humanidade experimentou a maior chaga de todos os tempos, a lepra , é porque ela, humanidade, deixou de cuidar.



Quando você exclui o humano, ele adoece. Quando ele não é prioridade para você, ele adoece. Quando ele não ocupa o espaço do seu coração, ele adoece.



Hoje, o que está faltando é o contágio do coração. A hora que nos deixarmos contagiar pelo coração desaparecem as doenças, desaparecem as patologias. Isso é Mística.



Mística significa perguntar o que está dentro do seu coração. O que toma conta do nosso coração toma conta do corpo inteiro. O que toma conta do coração toma conta da vida. Nós somos aquilo que nós colocamos no coração, porque para a Mística o órgão do conhecimento não é o intelecto, mas é o coração. Amar e cuidar. Amar e perceber: isso é Mística.



Então, existem alguns aspectos que nós temos que pensar quando nós trabalhamos um tema como esse.



Existe um poeta mineiro, Marcos Noronha, de Itabira, conterrâneo de Drummond que diz assim: “Aonde existe o podre, a semente tem sempre o que fazer.”



No encontrar essas situações de exclusão, de abandono, de falta de cuidado e de depositar aí a semente do coração, a semente da especialidade, a semente das técnicas, a semente das ações, a semente daquilo que está aqui neste projeto, ações de controle, ou que está nas palavras motivadoras deste folder ... nós só podemos seguir crescendo na atividade que abraçamos e amamos.



Eu estou vendo, e nós devemos isso ao mundo feminino, o masculino também tem lá seus símbolos, e ( ...) eu estou vendo anéis, alianças, brincos, colares,pulseiras. Todos eles vem da raiz da historia da humanidade que significa esse gesto aqui... O encontro de braços. O envolvimento amoroso do cuidar. Esse é o grande símbolo do anel; porque a aliança significa o pacto que eu faço para cuidar de alguém, para cuidar das minhas emoções, para cuidar dos meus sentimentos, para cuidar do bem estar de uma pessoa, para cuidar do melhor do humano, qualificar a vida, qualificar o humano.



Então isto que está dito aqui, nesta frase, abraçamos e amamos. Então, abraçar e compactuar é trazer tudo para a proximidade, para a vizinhança porque o trabalho de vocês não é simplesmente um trabalho técnico, mas uma explosão afetiva amorosa, vocês cuidam do humano.



Por isso o dia de hoje e o dia de amanhã, não significa simplesmente uma atividade a mais para preencher a agenda. É decisivo para a humanidade. Enquanto existir vocês a humanidade tem futuro. Porque quem cuida essencialmente de uma porção da humanidade, salva humanidade inteira, salva a vida inteira. De modo que o trabalho de vocês é mais do que uma missão,... e aqui diz assim se o ideal for renovado:



Nós só podemos seguir crescendo na atividade que abraçamos e amamos se o ideal for renovado e se nossa capacidade de sonhar não se limitar aos problemas e for sempre maior que eles.



Renovar, fazer nova todas as coisas,despertar... é a mística da ação. E diz aqui, a nossa capacidade de sonhar.



Somos sonhadores, imensos realizadores. Vocês trabalham com uma utopia, vocês trabalham para erradicar, eliminar, cuidar, sanar, controlar um mal onde o Brasil ainda lidera as estatísticas do mundo.



Como pode o nosso país tão grande, tão bom, com o povo que nós temos... ainda ter gente chagada.



E tem mais. Eu gostaria de ir à mística do Evangelho. Quando Jesus convive na Terra dos humanos, ele é a presença encarnada de um Deus.



Encarnação significa morar junto, encarnar-se significa tomar a mesma forma, tomar a mesma causa, tomar a mesma carne, o mesmo lugar. Isso é encarnação. Deus vem morar na proximidade do humano. Homem evangelho: ELE sempre está tocando, curando e sanando... e quando ele se aproxima de coxos, de paralíticos, de cegos de surdos de mudos e sobretudo de leprosos, ele diz: Levanta-te! Vem para o meio. ...Menina, levanta! O que significa isso?



Nós somos da raça chamada Homo erectus , nós nascemos para viver em pé, peito aberto, em pé, altaneiros, olhando para tudo, percebendo a vida. Quando chegamos aqui ficamos embasbacados olhando pela janela esta explosão urbana que nos cerca.



Nós nascemos para ficar em pé. Humano não nasceu para rastejar. A falta de cuidado faz o humano prostrar. Humano nasceu para ficar em pé. Vocês que têm filhos, filhas, netos e netas... vocês sabem quando a criança perde a vitalidade?



Quando ela vai para a cama. Uma criança que não está em pé, serelepe brincando o lúdico da vida, ela está doente. Nós percebemos quando ela não está no seu melhor dela mesma quando ela se deita, já não se levanta mais, de modo, que o humano nasceu para colocar-se em pé.



Esta linguagem não apenas alegórica, mas real, é para dizer que o trabalho de vocês é recolocar a humanidade no local onde ela deve estar.



Jesus fazia assim, tanto assim que o capítulo VI de Matheus que todo ele é chamado O Sermão da Montanha.



A introdução desse Sermão da Montanha começa com um texto conhecidíssimo da Bem-Aventurança, e ele diz assim:



Bem aventurado os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus. E ele trata dos mansos porque possuirão a Terra, ele traz os puros de coração porque virão a Deus. A expressão bem-aventurada que é repetida aí chamou tanto a atenção, marcou tanto a história da humanidade, a história das religiões e a história do cristianismo que ela foi causa de muitas pesquisas e estudos.



Recentemente Ruraq, um grande rabino judeu, ao ir estudar aramaico que é a língua original de Jesus, a língua que ele falava e ensinava, ele descobre que lá na raiz no aramaico a palavra bem-aventurado tem outro significado.



Faz vinte séculos que bem-aventurado está sendo traduzido como feliz, o realizado. Não está totalmente errado. Só que Ruraq descobre que bem-aventurado significa em pé, em marcha... no aramaico. Posicione-se - então muda o sentido, dá uma dinâmica ao sentido se você relê a luz do texto original.



Em pé, os perseguidos por causa da justiça, em pé, os puros de coração, em pé os pobres de espírito, em pé os mansos. Significa: apresente-se!



No início desse ano eu estive em Angola dando informação para os meus confrades que estão na (... ) e surpreendeu que quando eu chegava pro povo, os jovens os adultos, chegavam para as atividades e a gente saudava porque em Angola vocês sabem: fala-se português. Não é que é colonização portuguesa. E eu dizia:



- Bom dia ! E eles não respondiam assim: bom-dia, boa-tarde, boa noite, tudo bem!



Quando eu dizia assim bom dia, boa tarde, qual era a resposta?



- Obrigado.



E aquilo me chamou atenção, aquilo me saltou aos olhos e aos ouvidos. Boa tarde, e a pessoa dizia, Obrigado!



O que significa isso? Saudar é se perceber. E ao ser percebido, agradecer. Eu posso ser quem eu sou, mas eu tenho que ser percebido.



Eu agradeço a minha existência. A minha alma engrandece porque você está aqui, diz um grande antropólogo, filósofo e sociólogo, numa de suas obras. Ele fala exatamente isso: que aldeias africanas não usam cumprimento como nós usamos.



Quando alguém chega naquelas aldeias do interior diz assim: Eu me apresento! E o outro responde: Aqui estou! Eu me apresento e o outro responde: Eis-me aqui!



De modo que cuidar do humano é trazê-lo de volta ao convívio. Viver é importante. Conviver é mais importante ainda.



Hoje, nas periferias, no interior, nas selvas, nas cidades, a estatística dos hansenianos aumenta porque ele se esconde por detrás das chagas e da falta de cuidado.



O preconceito, o pré-juízo, a discriminação, faz com que pessoas humanas não se apresentem mais. É preciso trazê-los de volta para o meio. Vem para o meio! Levanta! Anda! Vem caminhar conosco!



Esse é o trabalho de vocês: colocar a humanidade novamente em pé!



Essa força dessa expressão: ‘colocar-se novamente em pé’, é uma força mais emocionada de amor, aliás, é isso que vai, nós precisamos colaborar com os médicos , nós temos que engajar-nos com a mística.



Fraternidade, igualdade e liberdade começou com o hino Alles enfantes em pé, enfantes. De modo que o trabalho de vocês redime a humanidade .



Redimir é a mesma coisa que colocar em pé.



Redenção, é a mesma coisa de colocar em pé.



Por isso a imagem do Cristo Redentor está em pé, de braços abertos. Não é o Deus crucificado, caído. Não são mecanismos de morte, mas gerar mecanismos de vida. Isso é a mística do trabalho de vocês. Mas tem muito a haver sim, com o feliz. Bem-aventurado significa feliz, mas no sentido de realizado e não de sucesso.



Há uma diferença muito grande entre uma pessoa realizada e uma pessoa de sucesso. O sucesso é para agir, ele dura apenas alguns meses, alguns capítulos de novela. Alguns se sentirão felizes por algum tempo, mas o sentimento desaparece. A realização... é para sempre.



De modo que a grande questão da mística é perguntar: quais os sonhos que a vida me deu?



Qual a realização que a vida me deu?



Certamente vocês aqui são a concretude de um sonho. Somente quem acredita num sonho chega à vitória, chega a iluminação das práticas.



Vocês são a certeza do sonho que a humanidade não se vai.



Então: ações... ações de luta, de prática, de combate, de controle. Ações que vão evitar a doença, que vão evitar a produção de vírus, de bactérias, de males, ações que precisam envolver-se na epidemiologia, ações que precisam estar na vigilância, na plena atenção ao ser humano só pode ser algo extremamente bom, necessário, profundo e real para a humanidade. Esta é a mística franciscana!



Nesse outro momento eu também gostaria de dizer porque estou aqui.



Em primeiro lugar o jeito franciscano não é o jeito da publicidade e o jeito do escondimento.



Nós temos 800 anos de compromisso com a causa da hanseníase, porque é o nosso carisma inicial. Francisco era um santo. Infelizmente hoje a palavra santo e santa é ligada ao mundo cristão católico, ao mundo da canonização oficial.



Só que a palavra santo e santa para o medieval é algo muito diferente, porque saúde e santidade não se separam. O Santo significa a grande pessoa, é o Mahatma, é o Mula, é a Grande Alma, é a qualificação humana, é a qualificação da vida, é preencher a vida de prioridades para o melhor.



Escolher, é a purificação da escolha, escolher sempre o melhor. Então, quando falo assim: São Francisco é humano são, sadio; quando eu digo: Santa Clara, uma mulher sã, sadia... para nós franciscanos, santidade não é o altar... é o envolvimento com o povo.



Então, nós temos 800 anos de prática, algumas expressivas, outras extremamente expressivas, algumas, hoje até em crise.



Na minha província (nós estamos divididos em Províncias, no Brasil) nós somos divididos em 6 Provínicas Franciscans. A minha situa-se aqui no Sudeste: vai desde o Norte do Espírito Santo até Santa Catarina. Nós somos 483 frades, 66 casas e inúmeras obras. A irmã (que está na platéia) trabalha conosco no Sefras ( Departamento de Obras Sociais) ...que eu gosto porque reúne todas as obras sociais da nossa província.



Nós estamos presentes em três grandes sanatórios que são antigas colônias de leprosos: de Venda das Pedras, Itaguaí, Rio de Janeiro, Pirapitingui aqui em Salto de Itu/ Sorocaba/ São Paulo, Piraquara na grande Curitiba. São as antigas colônias.



Vocês sabem que havia polícia especializada em buscar os hansenianos, caçá-los, tirá-los do convívio e levar para essas colônias. E nós temos que estar lá. Nossos frades estão lá segurando a mística e projetos. Usando a força de captação de recursos que às vezes nós temos através de instituições na Europa e com aquelas que nós geramos com as próprias mãos e investimos. Mas, sobretudo, a nossa missão é sempre a motivação daqueles profissionais da saúde.



Frei Johansen Bauman deveria estar aqui, mas ele está na Alemanha, exatamente trabalhando pela causa da hanseníase. Ele deveria estar aqui para anteceder a minha fala, para falar de um projeto que nós começamos este ano, exatamente dentro da comemoração da ‘eliminação’ da hanseníase.



Nós estamos fazendo parcerias com grupos alemães, holandeses de grande porte para a captação de recursos para comprarmos materiais técnicos e distribuirmos onde existir ações concretas como a de vocês, porque fazer... nós não podemos. Nós temos que alimentar e ajudar os que estão lá também. Um frade sozinho não pode fazer nada, mas ele tem a função de trabalhar e motivar, assim como ajudar a captação de recursos. Então, esse é o trabalho que estamos fazendo.



Eu poderia contar muitas experiências, mas quem sabe numa próxima oportunidade ... Eu não moro com os hansenianos, a minha missão hoje como (...) superior dos frades aqui no Brasil é a formação permanente deles. Meu trabalho é formá-los e eu faço a ( ...) teológica, filosófica, da espiritualidade, da mística para encontrar o melhor jeito de trabalho. Também dou formação para os nossos voluntários e voluntárias, colaboradores e colaboradoras....



Mas eu queria encerrar essa fala, essa reflexão... contando para vocês um fato. Quem me contou, (não faz muito tempo), foi Frei Ruy ...



O Frei Ruy está há mais de quarenta anos morando na colônia de Piraquara, na grande periferia de Curitiba junto com os hansenianos. A vida dele é ali.



Aliás, também um dos nosso trabalhos que fazemos é ajudar a localizar hansenianos através de nossas obras e indicar o melhor lugar para o tratamento.



Recentemente trouxeram para nós um hanseniano encontrado na floresta do Pará ( a floresta amazônica). Ele vem com avião da FAB, isolado, porque ele está completamente deformado. Quando encontrado, seu rosto era uma chaga só. Além disso, insetos, mosquitos, depositavam a larva nas feridas. Então... o rosto dele era um impacto. Ele foi entregue para nós lá em Curitiba. Chegou às 17:00hs.



O Frei Ruy foi buscá-lo e às 18:00 ele já estava na enfermaria da colônia em Piraquara.



O Frei Ruy e duas enfermeiras, pacientemente (o primeiro trabalho foi com uma pinça cirúrgica) tiraram um por um centenas e milhares de vermes, larvas. Era um ninho... um trabalho de horas ( das 18 às 21 horas). Foram preenchendo todos os recipientes cirúrgicos, tirando larva por larva. Quando atingiu 21 horas, havia uma exaustão, tanto do doente, como do Frei Rui, como das enfermeiras. Um cansaço... e aquela situação difícil, desafiadora: o paciente ali... um humano sendo comido pelos vermes, e pelas chagas. Quando eles tiraram, fizeram curativo, fizeram assepsia, deram banho e levaram o hanseniano para dormir.



O Frei Ruy não se agüentando mais em pé de cansaço, às 9:40 já estava em sua cama em sono profundo, quando escuta bater em sua porta:



-"Pan, pan, pan..." Ele vai atender e é o hanseniano que, apesar do rosto completamente deformado, tinha um sorriso maravilhoso. Os médicos, a chaga, não tinham tirado dele sua vitalidade. Ele podia ter o corpo em ruína, mas a sua alma ainda sorria. Ele diz:



- “Frei Ruy o Sr. tá muito cansado?” O Frei Ruy diz:



- “Não!”. Ele explica:



É o seguinte: “Eu vim da floresta, eu tô com saudade das estrelas, eu tô com saudade da lua, eu tô com saudade do céu que eu via lá na floresta . Aqui tem muita luz, mas por outro lado, eu tô vendo aqui. Nós estamos aqui na colônia e hoje, o céu tá muito estrelado, mas eu tenho uma curiosidade, Frei Ruy. Lá na floresta eu perguntava, perguntava e ninguém nunca me respondeu. De modo que o Sr. é um homem que me deu atenção, eu queria que o Sr. me respondesse uma mera pergunta:



- Quantas estrelas têm lá no céu?



O Frei Ruy pensou: Nunca ninguém me fez essa pergunta. O Frei Ruy ficou pensando: Como é que um homem desse, corroído desse jeito, quase que apodrecido na aldeia, chegou aqui num estado que ninguém queria vê-lo, tocá-lo. Como um homem que nunca experimentou o cuidado... como é que sua alma sensível não está corrompida e faz uma pergunta existencial? Não é uma mera pergunta estatística: Quantas estrelas tem no céu?



E o Frei Ruy sabia que não podia naquela hora também dizer que não sabia. E criou com ele então uma tática. Falou assim:



- Olha, é o seguinte, eu não sei... mas desconfio que é uma coisa que nós podemos saber. Vamos contar? E levou no pátio, e disse assim:



- Olha: eu vou fazer. Eu monto uma cruz no céu, assim: duas partes aqui, duas partes .... você conta aqui, e eu conto aqui. E ele começou devagarzinho.. porque ele não tinha mais rosto mas ele tinha olhos, e ele sabia contar. E ele começou devagarzinho, um dois, três quatro... E o Frei Ruy rapidamente começou uma duas, três, duzentas, duzentas e quarenta, duzentas, mil, mil e quinhentas, e ele passando, e aí o Frei Ruy falou:



- Quantas você contou aí? Frei Ruy tem duzentas. Eu contei aqui um milhão e trezentas. Então, você soma (...) aqui agora o Universo que deve ter quatro vezes esse tamanho e então deve ter mais ou menos uns vinte milhões de estrelas.Tá bom? Ele falou:



- Tá bom!



- Então vamos dormir. Boa noite, boa noite! Foi dormir.



E o Frei cansado escutou bater de novo:



-" Pan, pan pan". O Frei Ruy foi lá, meia noite e dois e era o hanseniano dizendo:



- Frei Ruy eu não consigo dormir. Mas você tá com muita dor?



- Não, eu estou muito feliz. Eu estou muito feliz, porque pela primeira vez na vida alguém contou comigo as estrelas. Pela primeira vez na vida alguém teve tempo pra me dizer as coisas que eu quero saber. A doença não tirou em mim a vontade. A doença não tirou de mim a vontade que eu tenho de conhecer.



Olha gente, a língua francesa diz que ‘conhecer’ significa ‘nascer com’ ... então, conhecer , experimentar é nascer junto com a experiência. O trabalho de vocês, a vida de vocês, a competência de vocês, o profissionalismo de vocês, a capacidade de vocês são o verdadeiro conhecimento. Nascer junto com a experiência do humano que sonha, fazer valer o melhor do humano... Enquanto vocês existirem, existe uma humanidade possível, um mundo possível, e a gente acredita esperançosamente na humanidade.



Muito obrigado por vocês. Muito obrigado por me ouvirem nesse momento. Obrigado por estarem aqui. Muito obrigado por esse momento e por esses ( ...). Deus abençoe o trabalho de vocês!

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•Frei Vitório Mazzuco – escritor,conferencista, pertence a Ordem dos Frades Menores. É paulista, nascido em Jundiaí, atualmente é o VICE_PROVINCIAL da PROVINCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÂO DO BRASIL, com sede em São Paulo. É Chanceller da Universidade São Francisco. Membro pesquisador do IFAN (Instituto Franciscano de Antropologia e do NEF ( Núcleo de Estudos Franciscanos Medievais, da UNIFAE, Curitiba, PR.).



* (Palestra proferida durante o XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP, setembro de 2006, por Frei Vitório MAzzuco)





Divisão Técnica de Hanseníase/CVE/CCD/SESP-SP – 2006

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