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Cronicas-->PRA NÃO VIRAR TESTEMUNHA! -- 17/02/2002 - 11:02 (Airo Zamoner) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRA NÃO VIRAR TESTEMUNHA!
© Airo Zamoner

Não sei quando aconteceu, mas aconteceu! Quantos anos eu tinha? Isso não importa! Foi há muito tempo. Quando me olho no espelho, vejo que ainda sou suficientemente jovem. Talvez minha aparência esteja mais para alguém maduro. O importante é que me sinto cheio de energia. Estou neste exato momento olhando-me neste maldito espelho e preciso confessar que minha aparência já é pra lá de maduro. O pior é que sempre foi assim. Desde que me conheço por cidadão, sempre tive esta aparência.
Não sei quando aconteceu, mas aconteceu! E o que aconteceu comigo não revelei pra ninguém. Apenas me aproveitei do acontecido. A primeira vez foi com meu sócio e ex-amigo. Numa tarde antiga estávamos os dois sentados na Rua das Flores, bebericando e jogando o tempo fora, quando tivemos a idéia. Ambos estávamos formados e desempregados. Tínhamos ambos nossas economias. O César falou primeiro:
- Vamos abrir um negócio? Só nós dois?
Confesso que estava pensando exatamente naquilo quando ele abriu a boca. Fizemos todos os planos e em poucos meses tudo se concretizou.
A coisa até que ia indo bem. Num final de tarde, cansados, estávamos os dois no mesmo lugar, bebericando e fazendo planos para o futuro, quando ouvi claramente:
- O que eu quero mesmo é ficar com o negócio só pra mim. Não sei porquê preciso dividir tudo! Ainda dou um jeito de me livrar definitivamente de você!
Levei o maior susto. Pensei estar enlouquecendo. Larguei o copo na mesa com tanta força que o chope jogou estilhaços dourados pro alto. Algumas gotas se penduraram no vasto bigode do meu sócio.
- Dá pra repetir o que você acabou de dizer, seu palhaço? - despejei enraivecido.
- Que é isso, cara? - pegou o lenço e, graças a Deus, limpou-se. Não suporto bigode sujo - Não falei nada! Estou aqui quieto, só pensando... Acho que você está trabalhando demais.
Nem preciso contar todos os outros episódios estranhos como esse, para vocês entenderem o que aconteceu. Lembro de um jantar que tivemos na casa do César. Nós dois e nossas esposas. Assim que chegamos a esposa do César beijou a minha, e eu ouvi:
- Você é uma mulherzinha caipira mesmo, hein? Vê se isso é roupa que se apresente!
Antes que eu pudesse me atirar sobre ela, ouvi embasbacado minha esposa responder:
- Você também está lindíssima!
Foi aí que percebi tudo! Estava "ouvindo" os pensamentos alheios. As explicações científicas para o fato pouco me interessavam. Minha vida se tornou muito divertida. Rompi aquela sociedade e a amizade, a tempo de evitar uma traição arrasadora. O importante é que além de ouvir os pensamentos, comecei a perceber que eu podia deslocar minha audição especial para qualquer lugar distante da minha posição física. Com isso potencializei meus poderes. Um dia fiz um teste. Sentei-me à frente da casa de um político muito conhecido. Claro que não vou citar o nome dele em público. Nem espere isso de mim! Pelo menos por hora... As coisas que ouvi me deixaram arrasado. Em poucos dias, aconteceu. Foi um desastre. Eu devia ter evitado... Não pude!
Esses poderes são muito úteis. Já deixei minha mulher. Não havia mais jeito. Era olhar pra ela e ouvir o que dizia de mim. Foi difícil aguentar calado. Um dia, eu estava trabalhando e desloquei minha audição lá pra casa. Ouvi cada coisa! Depois disso, fiquei sozinho, mas tenho me divertido muito! O que me incomoda é acordar no meio da noite, e ter que chamar a polícia. Os vizinhos pensam cada coisa! Tenho até abortado alguns crimes. Faço isso como anónimo, pra não virar testemunha!

Airo Zamoner é escritor
airo@cepede.com.br
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