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Contos-->SAUDADE DUM PESCADOR -- 27/05/2000 - 09:03 (Sérgio Eduardo Sakall) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A poucos dias atrás, sentado sozinho às margens de um lago num pesqueiro de São Paulo (eu não pescava nada porque o tempo não estava para peixe), um homem de certa idade (creio que já atravessava a casa dos 60) perguntou-me se podia sentar ali, bem próximo. E lhe respondi que sim.

Depois que acomodou todas aquelas "tralhas", que qualquer pescador carrega, logo começou a conversar. De princípio, o senhor João se apresentou, é claro. Seguidamente, falou de seu pai e de sua mãe (ambos falecidos), de seus irmãos, de sua esposa, de seus filhos (cinco), do seu estado de saúde (recuperava-se de uma operação), falou de sua formação acadêmica – nenhuma, da rua em que havia nascido, das proximidades da mesma rua, até citou sobre uma antiga indústria importante daquela região, enfim, quase que falou sobre o bairro inteiro!

Estava um pouco fria a temperatura... Disse que há muito tempo já era aposentado, enquanto vestia o seu casaco. Eu o achava muito parecido com o meu avô materno, pois durante todo o tempo olhava-me bem dentro dos olhos.

E continuou sua sessão nostálgica... além de ser maio o mês que se comemora o dia das mães, ele se lembrava muito da sua porque se fosse viva, agora, faria aniversário... Acácia era o seu nome. Foi do signo de touro, muito teimosa (cabeça dura), mas uma excelente mãe protetora. Que quando moça, com exceção da Vera Fischer, ela foi a mulher mais bonita do Brasil! Assim ele contou. (É provável que tenha sido verdade, pois afinal das contas ele também tinha belos traços.)

Depois disse que todos os anos era a mesma coisa, ele viajava para a cidade de Aparecida para prestar uma homenagem à sua mãe! Que com isso, ele sempre matava a grande saudade que sentia. Tudo o que ele falava, eram lembranças afetuosas, suaves, acompanhadas por um desejo de tornar a vê-las...

Portanto, já estava programado seu pequeno passeio para o próximo final de semana. Sua mulher comentou que seria melhor que, desta vez, ele fosse sozinho. (Estava na cara que ela havia se enchido da tal viagem...)

O senhor João era muito devoto de Nossa Senhora Aparecida e ainda sabia dar qualquer tipo de informação! Disse que no dia 12 de outubro acontecia, na enorme Basílica, a festa da padroeira do Brasil. Que a cidade fica a 137 quilômetros de São Paulo, pela BR – 116, e que da porta de sua casa até lá, era mais perto (tinha apenas 121 quilômetros). Que a imagem foi encontrada no rio Paraíba em 1717, e até hoje, atrai milhares de romeiros de todo o país. Chegam de ônibus, caravanas, de joelhos ou a pé, carregando cruzes para pagar promessas... Que a imagem da Santa apareceu na rede de pescadores num tempo em que a pesca estava escassa, e logo em seguida, no tal do rio, surgiram inúmeros peixes! Que havia uma oração poderosa da Virgem Maria, a qual ele gostaria de me presentear mais tarde.

Enfim, disse tudo e mais um pouco. Até me convidou para ir junto com ele!

Assim, deliciosas horas se passaram. Foi maravilhoso escutá-lo. Pediu-me o número do meu telefone, e já estava escurecendo quando ele se despediu. Nem eu ou ele, sequer pegamos algum peixe naquela tarde.

No entanto, pude novamente descobrir com tudo isso (mesmo de uma forma bem casual ou simples) que através da comunicação e da boa reflexão, recomenda-se deixar sempre à mão o interesse, a disposição, a atenção ou algo que o valha. Porque na aplicação de atos e palavras, além de se demonstrar amabilidade, consideração e cortesia para com o próximo, mostra-se também o quanto existe de incentivo e estímulo por detrás de todas as coisas...

E, especialmente naquele senhor, pude ver (até sentir) em seus olhos mareados a saudade que ele tinha de sua querida mãe. Tanto, que fiquei com uma vontade louca de visitar a minha!

No final do mesmo dia (como não poderia ser de outra forma), já na casa da minha mãe – Celina (graças a Deus ainda a tenho), eu lhe contava sobre o senhor João. Depois, lembramos as histórias do meu avô, o quanto ele brincou comigo, e ainda comentou que como o senhor João, ela também sentia muitas saudades de seus pais. Falamos sobre a sua mãe, da mesma forma sobre a Mãe de Jesus, e sobre quantas vezes nós já fomos visitar a Basílica de Aparecida, enquanto comíamos um delicioso bolo que ela havia acabado de retirar do forno.

Então, foi assim que percebi num instante derradeiro o tanto que, mesmo sem saber, o senhor João tinha contribuído conosco. (Pensei – obrigado senhor João!)

Final de Abril de 2000, São Paulo/SP. Para comemoração do dia das mães.
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