O Uso de Rótulos Negativos
( por Mônica de Oliveira, estagiária da Assessoria de Comunicação em palestra de Carlos Roberto Bacilo *)
O uso de rótulos negativos ‘marca’ e desqualifica uma pessoa. Esta marca é o que chamamos de estigma. As pessoas estigmatizadas passam a ser reconhecidas pelos aspectos ‘negativos’ associados a esta marca, ou rótulo.
O estigma é gerado pela desinformação e pelo preconceito e cria um círculo vicioso de discriminação e exclusão social, que perpetuam a desinformação e o preconceito. As conseqüências para as pessoas que sofrem o estigma são muito sérias.
A rejeição, a incompreensão e a negligência exercem um efeito negativo na pessoa, acarretando ou aumentando a imagem negativa que os portadores desenvolvem a respeito de si.
Estudos têm mostrado que o estigma é a influência mais negativa na vida das pessoas.
A discriminação causa dano: destrói a auto-estima, causa depressão e ansiedade, cria isolamento e exclusão social.
Segundo o professor Carlos Roberto Bacilo*, especialista em Ciências Penais e doutorando pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), o termo estigma vem desde a Antiguidade: na Grécia Antiga. Era a marca que identificava os traidores; e, em Roma, era utilizada para diferenciar as pessoas de baixa qualidade social.
Bacilo traz os aspectos históricos e faz uma comparação entre as origens dos estigmas e os preconceitos atuais. Pretende no discurso, ajudar os estigmatizados a deixarem de ver o estigma como um valor em si, e superarem as barreiras colocadas pela sociedade.
Segundo o professor, as pessoas estigmatizadas acabam agindo conforme o valor que lhes é atribuído.
“A sociedade primitiva era igualitária. Era o sonho de todo socialista pela distribuição igual do trabalho”. A estigmatização da mulher, por exemplo, surgiu com a divisão de tarefas na era primitiva, quando o homem, nômade, precisava travar batalhas com outras tribos, e, a mulher, muitas vezes, grávida, não podia lutar e ficava com os filhos. Com o passar do tempo, o homem ficou sedentário, e começou a viver da agricultura, mas a divisão permaneceu.
Já o preconceito contra raças minoritárias tem sua origem também nas batalhas travadas pelos homens primitivos: quando uma tribo era vencida nas lutas, tornava-se escrava da raça vitoriosa, e acabava sendo diferenciada. Essa estigmatização prevaleceu por muito tempo entre as raças dominadas no passado.
O problema da discriminação dos pobres, por sua vez, vem desde a Antigüidade com a Lei de Talião, quando a vingança indiscriminada “evoluiu” para a vingança privada: “Apesar de alguns acharem que a Lei de Talião foi uma barbárie, na verdade foi um progresso para o Direito. A lei do olho por olho, dente por dente, estabelecia que a pena deveria ser proporcional ao crime”, explica Bacilo. Entretanto, havia uma alternativa às punições físicas - as chamadas composições, que eram as multas. Mas a lei tinha um defeito, pois apenas as pessoas que tinham dinheiro podiam pagar a pena alternativa, restando aos pobres a sentença de morte ou a violência.
Esse tipo de estigmatização prevalece até hoje. Como um exemplo, cita o caso da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que, ao lançar um dirigível como meio alternativo de fiscalização das favelas, acabou piorando a situação. “O dirigível não vigia os edifícios de classe média, os shoppings, as lojas de departamento ou o Congresso. Na favela, a maioria dos moradores é trabalhador, mas a Secretaria acabou criando o estigma de que embaixo do balão estão os criminosos”.
Já a origem do preconceito contra grupos religiosos está ligada ao desconhecimento humano. A religião é uma explicação mística para as coisas que os homens não conseguem entender, e a sociedade acaba atribuindo a uma pessoa a responsabilidade de explicar os fenômenos estranhos à natureza humana. O grande problema é que essa pessoa passa a deter muito poder, utilizando-se de argumentos religiosos para manter tal situação.
Quando a sociedade classifica um grupo minoritário como estranho, como ‘outsider’, a discriminação acontece.
“Temos que sair e olhar como se todos fôssemos iguais”, conclui o professor.
* Professor da PUC do Paraná, em palestra sobre a estigmatização do negro, da mulher, do pobre e dos grupos religiosos dentro da sociedade.
|