Não importa qual seja o objeto de sua fé, se falso ou verdadeiro; o que atua é a força do pensamento positivo. Você acredita em Yavé, em Alá, em Maria, em Santo Antônio, em Xangô...? Se a resposta é afirmativa, não duvido que você alguma vez se tenha recuperado de algum mal graças a essa crença. Mas não é só isso. Você pode até se curar tomando um comprimido de farinha que imaginar ser um remédio eficiente.
“Placebo é um termo emprestado do latim. Significa ‘agradar’. Serve para designar a substância inócua usada em experimentos clínicos que testam a eficácia terapêutica de uma nova droga. Nesses experimentos, os pacientes são divididos em dois grupos: o primeiro recebe o novo medicamento e o segundo, que servirá de controle, o placebo.... ‘O índice de melhora do grupo que recebe placebo chega a 40% dos casos, em média’, afirma o psiquiatra Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo. isso mostra que até quatro em cada dez pacientes sente alívio de algum sintoma físico somente por tomar um remédio de mentira acreditando que é verdadeiro. Eis o efeito placebo. A vontade de se curar, a crença no médico ou no poder terapêutico da substância trazem benefícios para o doente, desde potencializar a ação de um medicamento até reverter um quadro de dor, por exemplo. ‘O efeito placebo é real. Trata-se de ciência e não de esoterismo ou magia, como muita gente pensa’, diz o farmacêutico José Carlos Nassute, professor da Universidade Estadual Paulista. Em Araraquara.” (SUPERINTERESSANTE, agosto/2001).
O efeito placebo é o mesmo que ocorre quando o religioso obtém um milagre. Muitos relatos de fatos miraculosos que ouvimos são inventados para iludir o povo; mas alguns milagres acontecem, independentemente do objeto da fé, dependendo apenas da intensidade dela. Pode-se crer que algumas pessoas tenha mesmo obtido cura pelo contato com um charlatão que se aproveite da fé do povo, da mesma forma que alguém se recupera acreditando na ajuda da Virgem Maria, de algum santo ou algum orixá.
“Para a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da Pontifícia Universidade Católica de São Pualo, o efeito placebo soa como um fenômeno inexplicável porque o ser humano se acostumou a enxergar a capacidade de cura como algo externo a si mesmo. ’Projetamos o efeito curador no médico, no remédio, na cirurgia, num objeto mágico, numa imagem sagrada – ou no placebo.’
Denise cita a história do paciente Wright, um americano com câncer em estado avançado, que ficou famoso na medicina pela evidência do poder dos efeitos placebo e nocebo. Doente terminal, Wright apresentava tumores grandes e respirava com a ajuda de tubos de oxigênio. Ele descobriu que o hospital em que estava internado iria realizar testes com uma nova droga, o krebiozen, e pediu para ser incluído no grupo a ser estudado. Apesar de desenganado, estava tão entusiasmado que os médicos não tiveram alternativa senão aceitá-lo nos testes. Dias depois das primeiras aplicações de krebiozen, Wright deixou o hospital recuperado. Mas isso só durou até os jornais divulgarem pesquisas que questionavam o efeito terapêutico da droga. Wright ficou deprimido. Seus tumores voltaram, ele teve uma recaída fulminante e foi internado novamente, em estado grave. O médico, percebendo o efeito placebo, disse que tinha disponível krebiozen refinado, muito mais eficaz que a versão anterior. Wright recuperou a confiança na cura e, depois das injeções de placebo, recebeu nova alta. Quando o relatório final da Associação Médica Americana foi divulgado, dizendo que a droga de fato não funcionava, Wright retornou ao hospital e, dias depois, morreu.”
Shepard Siegel, psicólogo da Universidade McMaster, no Canadá, “cita um caso clássico de pessoas com alergia ao pólen – mesmo quando expostas a flores de plástico desenvolviam uma grave reação alérgica. ‘A associação entre a imagem da flor e a lembrança do malefício do pólen trazia a mesma reação à visão daquelas flores artificiais’.” Desta forma, é justificável enganar o doente com expectativa otimista, o que é ótimo remédio.
O paciente Wright acreditou e sua fé o teria curado, se ele não tivesse tomado conhecimento da ineficácia do remédio. Como um religioso que confia em um deus, um santo, um orixá, etc., ele confiou no medicamento e estava se curando; mas ao ser convencido de que o medicamento não curava, sucumbiu. O placebo funciona como qualquer deus ou santo em que uma pessoa creia. O pensamento positivo desencadeia reações positivas do organismo, e o paciente pode se recuperar da enfermidade.
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