Episódio I -Sonhos Negros
Diante de mim surge uma donzela
E me estende num instante um cálice
“Bebe desta seiva pura” disse-me ela
e eu o fiz, cego pela beleza efêmera em seu ápice
Sorvi o néctar, e o amor, assim como o inverno
Para meu peito voltou, regelando a dor
Senti-me o mais feliz dos poetas, o eterno
Enquanto bebia, apunhalava
Refrescava-me no sangue que escorria
…e quando a donzela para mim sorria
percebi que o amor me embriagava
“Amor?” perguntou-me ela sorrindo
sim, é ele que me alucina
“Pois neste cálice não existe beleza, nem paixão
este néctar cheira a amor, mas, pobre de ti, bardo
tu bebes a essência negra da traição!”
Episódio II – O Despertar
Afaguei seu sono aos versos
Acordei-te às rimas de um amor dormente
e me deste o verde puro de seus olhos
como singelo presente
Inspire-me com seu belo amor
Que volte a felicidade
Adeus às lágrimas de dor
Sou seu poeta, seu amante
beije-me amor, em teus sonhos
Que eu canto-lhe os olhos
...nesta noite arfante.
Episódio III – A Dor e o Amor
Acordaste Primavera? Um suspiro teu ouvi
"Ouvi tuas rimas, bardo, quão belas são!"
Suas elas são, para ti as escrevi
"Rimaste amor com dor, que desolação!"
O amor me conduz, mas a dor me persegue
são dois cordeiros que trilham o mesmo caminho
mas julgados diferentes: "um é santo, o outro é herege"
Mas ambos são brancos, semelhantes
então, quando chegam a um bosque chamado vida
o desejo julga tudo de forma ardente
confunde-se caverna e ermida
baralha-se diabo e benevolente
Mas, além da vida os sentimentos somem
amo, mas sinto dor também
pois além de poeta sou homem.
Episódio IV – A Volta
Volta o Sol a me esquentar
Volta a Vida…os sonhos
O Vento do Amor volta a soprar
Em meio ao pântano um lis brotou
Seu beijo despertou belos versos
Sorria Bardo, a Primavera voltou!
Estranhas visões, uma cascata negra a secar
Esmeraldas como chuva a cair
Alegre-se Primavera, o Bardo voltou a amar!
Jorge Augusto Senger
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