Desde que Vasco Pulido Valente, cronista político do jornal " Público", afirmou que eu, entre os portugueses genéricos, não regulava bem da cabeça, a pouco e pouco, passando da abrupta indignação à calma da lucidez com os ponteiros das horas e dos minutos postos na testa, pus-me então em matutado anseio à procura de regulação. Em conclusão, como adiante exponho, pela minha parte desde já estendendo a mão ao castigo da evidência, retiro as minhas extemporâneas críticas, a antipatia advinda do preconceito e apresento minha humilde desculpa pública a VCP, que afinal tem toda a razão em raciocinar assim e inclusive até permitiu que me desvendasse na amplitude da simplíssima expressão de todo acessível (?) à mais ínfima absorção racional.
Recuei um imaginado milénio a interrogar-me se homens como Viriato, Sertório e os líders que se seguiram até D.Afonso Henriques, teriam ou não conciência do privilégio geográfico que era habitar e viver na Lusitania, no Condado Portucalense e enfim em Portugal. Daí para a frente, os que defenderam e conquistaram mais território, expandindo-se pelos mares fora em busca de outras terras, terão porventura aquilatado tal noção, considerando os seus domínios definitiva base ideal e segura que lhes permitiria toda a espécie de façanhas? Que lutaram sucessivamente com denodo até à exaustão e à morte para conservar e alargar a sua Pátria não há dúvida histórica alguma. Sob este ambiental raciocínio, também eu não duvido que houve desde sempre reconhecimento da preciosidade do habitat lusitano e português, tantas e tantas vezes assediado e até tomado pela cobiça estrangeira.
Ao cabo de um milhar de anos, grosso modo, desde que nasci, beneficiei e benefício dos estóicos e extremos esforços de todos os meus antepassados. Ao longo de 68 anos que tenho de existência nunca houve guerra em Portugal (privilegiada herança geográfica). Houve sim, nas mais diversificadas situações e circunstâncias, muita-muita falta de cabeça e juízo oportuno como infelizmente de lés a lés continua a haver, com os portugueses voltados para uma egoísta, desmedida e ambiciosa implosão, agarrados ao carrinho, ao telemóvel e à esperteza do saloio evoluído - exceptuando exemplarmente os heróicos emigrantes - não fazendo caso algum do privilégio herdado. Para vê-lo, basta tão-só abrir os olhos, ver o que vai pelo mundo fora, e fechá-los com o pensamento em extensão. A nossa casa em paz significa um milénio de inteligência factual em permanente exercício. Ora, se quem tem paz e liberdade não tem tudo...
Eis o que em princípio me pareceu uma imbecil senilidade: "Os portugueses não regulam bem da cabeça - VPV " = (V)iva (P)ortugal (V)ivo
Aqui pequei, aqui expio!
António Torre da Guia |