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Poesias-->A CORDA ESTENDIDA -- 11/06/2000 - 11:34 (Luís Sérgio Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CORDA ESTENDIDA



Luís Sérgio Santos

Para Tânia





“A mulher amada

É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro

No seu tempo”

Vinícius de Morais.



“Meu corpo de lavrador selvagem te escava

e fez soltar o filho do fundo da terra”.

Pablo Neruda.



1.

Eu te amo no fluir de um amor maduro.

Pacto insondável, risco de clarão no escuro

existindo entre o fruto e as sementes,

e no resplandecer do que em mim inventes.

Eu te amo até a exaustão das folhas

que o vento folheia na árvore dos adventos

disto que é essência dos conhecimentos,

íntimos como a água e a terra, ou outras escolhas.

Outras escolhas para ver o teu rosto

nos espelhos, nas poças dos desejos da tarde,

outras escolhas para te fazer um alarde.

És uma música estremecendo o decomposto

silêncio quando faço em ti viagens

criando ruas, praças, e moradas em tuas paisagens.



2.

Almas nos cristais, palavras nos cristais,

conheces como a estes seres que fogem dos quintais

quando transpomos os muros da infância

para desvendar o azul, e abrigar a ânsia.

Conheces os olhos dos bichos, e as selvagens

ternuras neles ocultas, e os enigmas nas mensagens

dos brinquedos dos parques em dias de equinócios.

Sabes que temos trabalhados para alguns ócios.

Sabes da beleza que há num cavalo marinho,

e que o aquário é um temporário desalinho,

e que morrer é a nossa vida mais antiga.

Sabes a fábula da cigarra e da formiga

e como as pequenas coisas pesam nos ombros,

quando percebemos que é nelas que estão os assombros.



3.

Plenos, calmos, e claros, assim

vão teus passos pela casa e fronteira,

estavas ali pronta a vida inteira.

Há um tempo sem princípio e sem fim.

Andas longe, depois andas perto,

sei onde estás e sou descoberto.

Diurna és noturna e prontamente

vives o que o teu ser consente.

Pisas sobre o dia dentro da noite e vem,

pisas sobre a noite dentro do dia e vai,

para onde a sombra na tua sombra se esvai.

Este é um tempo em que caminhar contêm

todos os teu passos encontrados

e então se silencia em nossos lados.



4.

Há ventanias entre os teus cabelos.

Há um cata-vento em tuas portas,

e rangem as primaveras nas comportas

do tempo, rangem a te pedir os zelos.

Há latitudes, profundos meridianos

que não dividem e só ampliam os danos

em distâncias. Se para sempre anoitecer

apenas iremos desta mesma noite renascer.

Nas raízes dos dias os relógios são magos,

não há como fugir de um calendário de afagos.

As águas dos olhos não molham o mar.

Aonde decifraria em mim o teu estar ?

O tempo nunca é perdido nem encontrado,

se eu te prendesse, seria por mim mesmo aprisionado.



5.

Garimpo o minério dentro do teu mistério.

São afáveis e vertiginosas as cachoeiras,

andarei descalço pelo teu nome nas rudes beiras

do abstrato, do concreto, do infinito, e do etéreo.

Abstrato amor, se me alcanças, somos alcançados.

Haveremos de formar letras para uma palavra,

seremos tênues e assim mesmo ossificados

a renovarmos a terra onde a luz se crava.

Concreto amor, és de uma míngua, e és de um excesso,

tens diversa natureza, singular e plurificada

a quem entrego os braços de uma enseada.

Infinito e etéreo amor, somos pedaços do tempo,

pedaços infinitos porque divisíveis qual o vento.

Vento de nosso princípio, vento onde não cesso.

6.

Por razão de ser um, os que eram dois,

o amor nos prepara outra identidade,

e reconhecemos no antes e no depois

a entrega, e espera de cada metade.

O amor é rio rompendo a terra

e atravessar é ato que não se encerra,

sempre estaremos no princípio, porém cedo

ou tarde, faz um só tempo: o do passaredo.

Tempo de horizontes e de existir o que é asa

para quem ultrapassa, e extravasa

para o outro ser o espaço do voar.

Voar após mergulho, e ver do alto

o alvo, o salto/sobressalto

do que pode ser o amor em vôo e navegar.



7.

Vemos os rios, e somos o que é correnteza,

vemos e somos partes da natureza.

Há em ti múltiplos rumos de sabores

prontos de plenitudes em vastas cores.

És guardiã e sigo os teus passos,

abro tuas aquarelas, teus prontos laços.

És guardiã do muito e do pouco

e a minha linguagem é de mar feito rouco.

Sei o ruído após o silêncio, teu mundo

sei o incêndio de um mar profundo

vejo a água que sai dos teus olhos.

Sei o inventário de tuas margens

divides o vento das minhas paisagens

teus olhos são partes dos meus olhos.



8.

Percorri o pânico dos teus olhos ao vento,

esqueci no fogo o sopro e o assobio,

dependurei pássaros em fios sem sustento,

molhei as mãos e perdi os meus dedos no rio.

Todos os pensamentos não cabem num porão

onde trocaria a luz pela lâmpada de um cego.

Há sangue nas faces das facas e não nego

que os esquecimentos germinam um vasto grão.

Ante o rio em que escavo uma das margens

deixo o grão-semente sendo alguma foz,

e na outra margem busco a origem da tua voz.

Nunca estarei onde só te vejo em imagens:

É como a chuva não afogando a uma cidade,

é como faiscar a treva para trovoar a claridade.

9.

A mão direita deve ter outra mão direita

certo como há um sol que se levanta e se deita,

a mão esquerda deve ter outra mão esquerda,

certo como todo achado é de alguma perda.

Não a perda eventual e dita desnecessária,

mas a perda que é o exato e grande ganho

do amor arrumando com gravidade o seu lanho

para que possa pousar e demarcar uma área.

Área / Áurea de alacridade com frente e dorso,

área de se ver face a face e no esforço

de quem abre o mar e pensa um navio.

Navio para aventuras de se chegar a ilhas

onde ser descobridor é criar as maravilhas

do que permite o tempo com seu inarrável poderio.



10.

Vives em mim e trazes o teu beco,

guardas ali a minha espada

dentro da árvore alada

que germina o frio-quente-úmido-seco.

Vives em mim quando vou a nascente,

uso o sol, e te vejo de uma janela

onde teu nome me escuta e revela

quando / onde sou em ti nascente.

Sou em ti nascente, sou em ti poente.

Vejo o mar, imagino desafios,

vejo o mar e teu corpo são rios.

Vives em mim qual uma nascente

da água que vou na chuva, no rio, no mar.

Vives em mim, és um mar dentro do olhar.



11.

Percebo haver em mim um novo acontecimento,

um poder de quem abre um livro e não se ilude,

e porque deverei ser saciado numa plenitude

farei signos e profecias neste firmamento.

Aconteces novamente em minha antiguidade.

Acho que escrevi estas linhas noutra vida.

Há uns cento e cinquenta anos de sensualidade,

de sonetos, e de neles haver dito: - És florida.

Ajardinas as férteis terras da minha juventude,

trazes em teu cio os verbos da lua: - luarir,

luançar, lurejar, luacenir, luranar, enluir.

Não somos irreais, e nem encontrados ao acaso,

e este profundo calor, e este frio tão raso

são os meus silêncios ante a tua amplitude.

12.

A carne se recompõe bem mais que a alma,

áspero e úmido é o coração, é quase um lago

onde caem pedras, e na turva água não há calma.

A carne é o pão, e as terras de uns países

nos quais as árvores nascem com cantigas nas raízes,

e após expandem as folhas até as distraídas

ruas que caminham para dentro de nossas vidas.

Trago muitos dias do teu corpo ao meio do dia

que não os demarcados pelo clamor da numerologia.

Eu te recomeço, tu me recomeças: - vamos nascer.

Há um tempo em que o amor não pode ser

a idéia de uma estrela perto da idéia do carvão,

terrível é querer as sombras das árvores da paixão.





13.

As palavras da carne são várias

quais faces de luzes em luminárias.

São ventos ou quase dentes,

são montanhas ou seios em poentes.

És em luz branca, branca qual lírio,

és de repente outra cor, és delírio,

podes ser olhos cheios de laranjas

podes ter flores que em ti arranjas.

Há horizontes em um lugar – céu.

Há vozes descobertas sem véu,

e a carne conhece desconhecida palavra.

É onde o silêncio sempre fala,

é onde o silêncio mais cala

que a carne se faz palavra que se lavra.



14.

Volto às lendas do mar e da areia

e a olhar crepúsculos por longo tempo,

deve ser a paixão repentina aldeia

de pontes, vales, e um trem com os vagões de alento.

Volto as pedras e nelas vejo significados.

Penso terias vasculhando teus nexos

coloridos onde antes nem os comuns reflexos

diziam que os prismas poderiam ser encontrados.

Volto a amanhecer, a entardecer, e a anoitecer,

a estas três estâncias que conviviam numa só

enquanto estive único, e torto no próprio nó.

Volto aos fôlegos, e aos quatro ventos a dizer

que a esperança tece uma rede que nos levita.

Volto a ser o acreditado, e o que ainda acredita.

15.

Serei um guerreiro e o repouso

é o que te pedir ainda ouso,

a(r)mar, a(r)mei para amar

a armadura de quem vai o amor arcar.

Desa(r)mado porém estou para a guerra

trago as noites fechadas, e serei escudo

para tua defesa. Só iludo

se disser que a paz não encerra.

Não me defenderei, seremos vencedores,

vejo a tua pele de mulher em rubores

de quem tem a chave dos dias para nos mover.

Não te defendas, seremos vencedores,

vejo que caminhas, e sei dos rumores

que hás de voltar sendo o nosso vencer.



16.

Vens de regiões antigas e conhecidas

eras o mistério de uma maçã,

sabes das dores consentidas

do que era costela e se fez lã.

A lã do sol acordado iluminado

qual novelo se desfazendo em raios

de onde se tece um dia e se faz um arado

para o que há em ti, de arco-íris e ensaios.

Arar todo o teu corpo, em guerra

onde cada gota noutra se agarra,

como se ali habitassem todas as chuvas.

Saber teus olhos e abrir

qual o sol trazendo o repartir

de laços em tuas mãos, e nos campos uvas.



17.

De que argila faz teu ventre o não limite

na construção de um espaço sem medida

que volta em ondas, laços, e não omite

as linhas da minha mão em tua vida?

Repartir a fúria dos dedos, dos sopros, das bocas

metamorfose de nó sendo nós a substância,

tuas margens, tuas árvores, tuas frutas ocas,

e saber como fica perto, perto qualquer distância.

Saber / repartir numa exata ciência

e estar entre estes grãos, esta consciência

de que somos muitos quando dois em unidade.

Montanhas como terras planas, montanhas

sendo um dia que se escala quando me acompanhas

onde habito o teu ser, teu ser como a uma cidade.

18.

Agita tua voragem de sono não consentido e vem,

e vem dançar na rua de minha artéria, pulsa,

dança até o amanhecer, dança até o gemido

de um galo que não se cansa de te anunciar. E pulsa.

Pulsa para cada ramo onde o sangue dobra

em minhas partes, em tuas úmidas partes,

o sangue como a língua de um rio e obra

de alimentos, e desenhos que em mim repartes.

Pulsa, salta que salto de assalto a tua boca

e tua caverna dúbia, tua caverna espessa e oca.

Pulsa e lateje tua chuva, teu brando crepúsculo.

Andar teus caminhos, andar / nadar

como se atravessando um rio a molhar

o tempo, o sentido e a direção de cada músculo.



19.

Do verde em meus olhos arranquei a rosa

que te dei, que te visto, sou prosa

para poder teu ser assim ajardinar,

tens a fertilidade da semente no ar.

Tua paisagem permite vastos cultivos

e são canteiros de gestos cativos

que um dia te dão rosas, noutro margaridas,

- um dia se faz terras, noutros vidas.

És acolhida de um tempo por inteiro

invadindo o verão, outono, inverno

e trazes a primavera em cio eterno.

Para que nasçam flores é que cantas,

e porque cantas, as flores são tantas.

És a terra, és a terra, és terna, sou verdadeiro.



20.

Eu é que lavo os olhos em tua boca,

e ainda te escavo atravessando através

do luar rondando uma nuvem oca

quando naufrago no ruído das marés.

Tu que és a criação de uma floresta,

- o que aprendemos em um vagalume?

Por quais sombras levas o que resta

do que me ensina o que lume?

Eu que te respiro em vastos arrepios,

por que não vens e bebes dos meus rios?

O meu coração é um peixe que acorda.

Te invoco sonho, e te invoco musa

e tocaria em teus dedos mesmo na recusa:

- És a viola onde estendo a minha corda.





































































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