ANHANDUÍ
Rio sentido de longe
Água morna se há frio,
Palmilhei tantas tristezas
Para chegar ao vazio...
Decisão tomada e errada,
Mas, o certo, quem acerta?
Nesta noite penumbra,
Enfeitada de estrelas e grilos...
Sòzinho neste natal,
Sòzinho à beira do rio,
Minhas armas--- meu destino,
Inúteis dentes de aço
A remorder o vazio...
Tanto tempo demorei Anhanduí!...
Meus passos ficaram presos
Nas teias todas da vida,
Mas cheguei, peso maior de tristeza,
Para passar contigo o natal,
Na imensidão desta noite...
Acendí esta fogueira,
Para que possamos ver-nos melhor,
Se bem que advinho-te todo
Sem necessidade de luz...
Mas, --- Quem vem lá?
E por onde? Com passos dissimulados...
Meu companheiro revólver,
Alerta e engatilhado,
Perfura a escuridão com seu olho,
Negro, escuro, arredondado...
Instinto que ficou desperto,
Por tantas surpresas passadas,
Presentes na escuridão,
Fantasmas semi-apagados!
Oh! Mas quem esta chegando
É um pensamento atrasado,
Extraviou-se na mata,
Ao reconhecer todos os lados...
Cumprimentou tantas árvores
Musgos e troncos virados,
Reconheceu todas as pedras
E inúmeros passos quebrados...
Mas agora incorporou-se,
Aos sonhos e às ilusões passadas.
Observa também a fogueira
Um pouquinho amedrontado...
O rio nunca dorme, presença viva acordada,
Com soluços e risos,
Nesta noite do tempo parada...
Lenine de Carvalho
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