"O clamor das histórias" é o título deste artigo, publicado originalmente pelo DIE WELT online (Berlim, 05/11/01), sobre "Bilder von der Oberfläche der Erde" [Imagens da superfície da terra], um livro contendo fotografias feitas pelo cineasta ao longo de seus projetos cinematográficos. Responsável pelo lançamento é a editora Schirmer/Mosel, de Munique. O volume (124 páginas) custa 78 marcos.
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trad.: zé pedro antunes
Dificilmente haverá hoje um outro diretor de imagens em movimento (cinema) cujos projetos tenham sofrido tamanha influência das imagens estáticas (fotografias) como o foram os filmes de Wim Wenders.
Uma reportagem fotográfica de Walker Evans sobre a depressão no sul americano tornou-se, assim, o compasso óptico para “No correr do tempo” (Im lauf der Zeit), o primeiro grande filme do cineasta: "Acontecia de nos determos na rua para rodar uma cena, porque um pedaço de paisagem ou um motivo arquitetônico nos trazia à memória algumas daquelas fotos". É assim que Wenders rememora as filmagens, quando percorreu, por assim dizer, a periferia alemã.
Em "Imagens da Superfície da Terra" estão reunidas fotos panorâmicas de localidades que o diretor veio a conhecer ao longo dos seus projetos cinematográficos. O deserto do Novo México e um estacionamento em Dallas ("Paris, Texas"). Um cemitério de fuscas e uma cratera aberta por um meteorito na Austrália ("Até o fim do mundo"). O porto e um estande para engraxates em Havana ("Buena Vista Social Club"). A floresta de bambus e o mosteiro Toshodaiji no Nara japonês ("Tokyo-Ga").
As imagens estáticas do cineasta são praticamente vazias de seres humanos, tendo sido, muitas delas, etapas de preparação para filmagens: "Há paisagens que de imediato clamam por histórias", como ele diz.
Uma vez fixado este grito de socorro [nas fotos do livro], Wenders pode então criar algum tipo de ajuda, preenchendo as paisagens com personagens e com suas vidas.