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Artigos-->A Pornopolítica do Anti-fantástico -- 21/03/2007 - 17:37 (Luiz Carlos Assis Iasbeck) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Pornopolítica do Anti-fantástico

(Resenha Crítica do livro "Pornopolítica", de Arnaldo Jabor)



Luiz Carlos Iasbeck



Quer gostem, quer não gostem, Arnaldo Jabor é um fenômeno! Só não é fantástico porque atua na contra-mão da mesmice característica daquele programa de fim de domingo. Diretor de filmes antológicos da cinegrafia nacional, tais como Eu te amo e Toda Nudez será Castigada, nos anos 90 Jabor deixou de lado o cinema e partiu para o que ele aprendeu fazendo, da melhor maneira: o jornalismo opinativo. E como opina!



Jabor jamais pretendeu ser imparcial. Ele toma partido sempre, mas nem sempre ao lado de quem esperamos. Romper as previsibilidades das pessoas comuns parece ser a especialidade desse mestre das palavras. Ele não pondera, pontua; ele não acusa, demonstra; ele não difama, inflama.



Jabor sabe se intrometer em tudo o que é polêmico e criar polêmica em tudo o que aparentemente não tem condições de figurar na mídia. Ele busca encrenca e a trata como escândalo, entra em assuntos aos quais não foi chamado, mete o bedelho em tudo o que tem condições de virar mais notícia!



Revolucionário e reacionário ao mesmo tempo, sob diferentes ângulos, Jabor não se permite ser agarrado pelo leitor, pelo telespectador ou pelo ouvinte . Arrogantemente antipático com o seu nariz empinado na TV, irônico e acentuado nas suas falas pela rádio CBN, invisível nos filmes que fez e profundamente presente em cada palavra que caprichosamente seleciona para expressar sua inteligência, Jabor dá um nó de marinheiro naqueles que só entendem e julgam por rotulagem, por clichê.



No site de relacionamentos ORKUT, 36 comunidades são dedicadas a ele, 15 das quais propondo sua morte súbita, um lacre definitivo na sua boca ou mesmo desejando-lhe todas as infelicidades do mundo. As demais – a maioria – o amam: celebram seus produtos midiáticos, fazem tietagem aberta e comentam com ferocidade os ácidos pontos-de-vista do guru.



Por tudo isso, vale a pena ler Pornopolítica, paixões e taras da vida brasileira, último livro de Arnaldo Jabor, recém-lançado pela editora Objetiva, do Rio de Janeiro. São 45 crônicas em 235 páginas repletas de expressões agudas de raiva, pavor, alegria, êxtase verbal, clímax argumental e epifanias silogísticas.



São textos que merecem duas ou três leituras, no mínimo: a primeira, para entender o que se passa; a segunda, para compreender como o autor conseguiu dizer tudo aquilo daquele jeito e, a terceira, em voz alta, para sentir a sonoridade das palavras que parecem triturar-se entre nossos dentes.



Os temas de Jabor são aqueles mesmos a que nos acostumamos a ouvir dele na TV ou no rádio: a política, as dores sexuais, o cinema nacional, o besteirol que exala do mundo das celebridades, lembranças nunca gratuitas da infância, sentimentos e sensações indefinidos, contrastes sociais, o produto cultural norteamericano, tudo isso misturado em muitos crônicos artigos de sugestivos títulos.



Aliás, vale a pena dar um pequeno passeio pelos títulos: “Amor, sexo e um outro sentimento”, “Os psicopatas estão chegando”, “A cornidão é um sentimento nacional”, “Viva a crise!”, “As chuteiras sem pátria”, “Tenho saudades do futuro”, “Brokeback é um filme sobre machos” e “Maldita seja a pornopolítica”, que ensejou o título da coletânea.



A inteligência emocional de Jabor, circunstancializada por tantas palavras e expressões fortes, é uma aguda antena receptora e emissora de uma outra realidade, uma realidade que se alinha para além da imaginação padrão do homem médio brasileiro. Seu olhar enquadra situações sem podar os tentáculos com o cenário maior que as emoldura. Ele apresenta texto, contexto e intertexto servindo-se de diálogos paródicos que nos chegam em camadas quase didáticas, espontaneamente.



Essa competência vem, com certeza, da experiência com o cinema, mais precisamente da estruturação dos planos narrativos. Jabor nunca fala de uma coisa só, nem mesmo quando fala da solidão.



Machista, confessa que às vezes cede um pouco seus impulsos chauvinistas para fazer média com (uma) alguém. Só que não é bem assim que ele se expressa: vai direto ao assunto, não convida para jantar (talvez com medo dos canibais). E se o amor é prosa, aqui o sexo deixa de ser poesia para se tornar um jogo poderoso e desencontrado de interesses (leiam as crônicas “a mulher não existe” e “um amor de mercado”, sobre o romance de Daniella e Ronaldinho).



Acusado de neo-liberal, defensor irredutível das posições políticas de FHC, Jabor não se incomoda nem pouco, mas incomoda como nunca aqueles que se acomodaram na situação. Para o autor, “posição política” é algo que está mais para o Kama-Sutra e para o divã de Freud do que para posições ideológicas na tribuna da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.



Original nos deslocamentos de sentido, Jabor resignifica clichês e kits de pensamento instaurados na mídia e na mente dos bem-informados. Assim,. O “homem-bomba” deixa de ser um Roberto Jefferson para voltar a ser simplesmente o original, Osama (lembrado com referência ao profeta Maomé).



Politicamente exagerado, esboça – algumas vezes – um singular equilíbrio e uma inexplicável sensatez. Ele mesmo confessa o motivo dessas mudanças súbitas, ao final do excelente “Tenho saudades do futuro”:



Entendi que ser político e lutar pelo futuro exige vagar e respeito pela insânia do mundo, que a tragédia é parte essencial da vida e que tentar saná-la pode levar a massacres piores. Entendi que a luta política se faz com humildade e que só a democracia é revolucionária no Brasil. Fora disso, é o desastre.



Para aqueles que não se dão bem com sinceridades estilísticas, o novo livro de Jabor pode fazer mal à saúde. Ele oscila constantemente reflexões de altíssimo nível com expressões de baixíssimo calão, não tem nenhum escrúpulo em usar e abusar de palavras chulas, mas as realoca em lugares nobres, de tal maneira que parecem bem ali onde estão. O que nos deixa com uma estranha sensação de culpa, de caretice.



Mas nada disso depõe contra a sensibilidade e a qualidade do autor. Ele parece estar bem acima de tudo o que nos incomoda e subjuga . Jabor paira sobre as mesquinhas preocupações de correção do homem comum, apontando caminhos só possíveis a quem passou pelo inferno da sujeição e sobreviveu às intempéries do competitivo mundo corporativo (das organizações públicas, privadas, da academia, das ciências, dos paradigmas e dos dogmas)



E é assim, bem à vontade, que ele forja um novo modo-de-ser/estar na mídia. Suas fantasias não são acessíveis à classe média que se deslumbra com os fantásticos domingos globais. Elas passam longe da inteligência competitiva dos empresários que se refestelam nos sofás e muito mais além ainda da competência perceptiva de disciplinados pesquisadores do saber organizado. Jabor é assim mesmo, tal como se fez e se faz a cada texto que produz: um crônico crítico da fantasia barata, o pós-fantástico dessa careta idade mídia.







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