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Artigos-->De caso com a leitura -- 23/03/2007 - 21:46 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Professor, esse livro é muito chato!

Não importa o autor, não interessa a obra. Basta indicar um livro, e o professor de literatura do Ensino Médio, alguns dias depois, ouvirá essa reclamação da boca de um aluno ou, mais comum, de vários deles. Quando o motivo da queixa é um texto mais distante da realidade e da variante lingüística da moçada – e da rapaziada! - do século XXI, seja um Guimarães Rosa ou um Lima Barreto, pode-se pensar que o julgamento do aluno é baseado na dificuldade de entendimento de palavras ou idéias contidas no livro. Fosse isso, algumas orientações lexicais e conceituais resolveriam o problema. Não resolvem. A idéia de que o livro é chato acompanha títulos bem mais acessíveis. De Fernão Capelo Gaivota ao Pequeno Príncipe. Não é esse ou aquele livro que desagrada. Para a maioria dos jovens, ler é, em si, chato.

Chato é aquilo que não tem relevo, que é plano, monótono. Monotonia é inimiga do prazer. Freud descobriu que o homem busca o prazer tanto quanto foge da dor. Não sei se chatice dói, mas o prazer também serve para aliviar a mesmice do mundo e não há nada de errado nisso. Mas os prazeres andam tão fáceis. É só ligar o computador, a televisão, o microondas, o celular e encomendar um prazerzinho básico para todos os gostos. Tudo tão acessível que ninguém está disposto a esperar para sentir prazer. Todos querem o fast-pleasure: chega rápido e passa rápido, pois precisa dar lugar a outro prazersuperplus que já vai chegando in delivery.

A leitura é um prazer único e nem preciso explicar os porquês. Mas ler está longe de ser uma fonte de prazer imediato. Para conseguir ativar o mecanismo prazenteiro de um livro é preciso paciência, pois livros são como pessoas. Não se conhece um homem apenas pelo aperto de mão, nem um livro pelas primeiras páginas.

O segredo da leitura, e da convivência, está em criar vínculos. Uma vez ligado ao livro por uma intenção forte de aceitá-lo como ele é, o leitor deixará de tentar encaixar a obra num modelo ideal de narrativa. Como num relacionamento, passamos por cima de certas características menos agradáveis quando o objetivo é estar com o outro. É preciso, também, querer estar com o livro, lê-lo sem exigências. No começo, será um desafio, uma batalha cheia de ajustes na qual a palavra chave é persistência. Vencida essa etapa, aí sim, saberemos se aquele livro é nosso amigo (inesquecível!) ou nosso inimigo (irrelevante!). Em ambos os casos, teremos vivido uma aventura muito prazerosa.

O adolescente nascido no mundo da velocidade alucinante estranhará a idéia de leitura apresentada acima. Criar vínculos não é o forte de uma geração que troca o contato real pelo virtual. Ser paciente também nunca foi um traço da puberdade. É difícil convencer um jovem de que o livro é um convite para um relacionamento no qual o prazer tem grandes chances de superar a chatice, basta reduzir a marcha, atrasar os julgamentos e dar uma chance à obra, seja ela qual for. Sem paciência, o aluno não percebe que o livro não é para “ficar”. É para curtir um grande e longo caso de amor!

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