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Contos-->Núpcias de Policarpo -- 17/05/2002 - 14:52 (Semi Gidrão Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Núpcias de Policarpo...

Há muito Policarpo a namorava.
Enquanto todos procuravam a beleza, as especificações de atualidade, o charme traduzido no estrito enfoque da moda, ele tinha os olhos na sutileza, no detalhe de dignidade, na forma sóbria de existir, na funcionalidade, naquele modo sóbrio que só por existir se mantinha.
Quando passava, mesmo sem permitir que percebessem, Policarpo, mantinha os olhos presos a ela como quem fixa se no escopo maior da existência, mas sem se delatar, seguia rijo.
Na noite, sobre a insignificância de um catre solitário e paupérrimo, sonhava em toma-la as mãos, acariciar lhe as formas, em fim, permitir que seu sonho se concretizasse de forma plena e absoluta.
Entre o sonho e a realidade da noite solitária, restavam a Policarpo as preocupações com as responsabilidades cotidianas e o déficit orçamentário, tão contumaz que, algoz de seus dias, expoenciava sua insignificância, proibindo-lhe qualquer esperança, qualquer possibilidade.
Mesmo que as marcas cotidianas, que o garantir o prato feito e o coletivo de todos os dias, tenham se constituído no Colosso de Rhodes de uma existência minúscula, ainda assim, a essência permanecia intacta em Policarpo, menestrel de suas próprias dores, sonhava, navegava fabulas e mágicos momentos, alimentava um naco de esperança que o mantinha alinhado com a vida e toda a exploração que esta continha.
Neste naco de esperança, Policarpo encontrava força para, furtando de suas próprias responsabilidades o estorvo de alguns míseros trocados, mesmo que isso lhe custasse uma ida e vinda a pés para o trabalho, vez ou outra desviar algum para uma fezinha no bicho na banca do Leodário.
Como todos os pontos de um traço estão sujeitos a passagem da ponta do lápis, um dia, chegando a banca de Leodário, movido mais pelo habito que pela esperança, quase morre ao ser saudado pelo cambista com o jargão sorridente e festivo de contraventor, saudando-lhe a sorte grande.
Para quem jamais ganhara, se quer, elogio de vendedor de espelho, aquela saudação de Leodário era a aclamação episcopal ao pontifício católico, era a gloria, e ainda viria reunida a fortuna, a fartura, a um tempo de possibilidades nababescas.
Quinhentos e oitenta e três... cerveja, bicicleta, calça de mescla, rodízio com guaraná e sirva-se à vontade, e ainda, a possibilidade de...
No quarto, ainda sobre o catre, agora quinhentas e oitenta e três vezes menos insignificante, finalmente poderia toca-la, toma-la às mãos, sentir o aroma de sua pele macia e aconchegante, invadir-lhe as entranhas quentes e confortáveis e alem de tudo, saber que fora o primeiro e único.
Policarpo dormiu abraçado a ela e a satisfação era tanta que nem sonhou.
No dia seguinte, finalmente pode..., depois de tantos anos de espera, enfia seus rudes pés na mais bela botina que já figurara em todas as vitrines que jamais vira.
Como em um ritual de matrimonio, calçou, sentiu a textura interior, e garbosamente, ganhou a rua com as calças içadas até o umbigo para que todos pudessem perceber que a copula primeira havia sido sua.
Anos depois, quando os pés de Policarpo já conheciam outras e outras botinas, aquela que um dia fora alvo distante de sonhos, podia ser vista insignificantemente deformada e abandonada aos pés do paupérrimo catre.
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