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Contos-->Policarpo e a arte de fazer papagaio -- 17/05/2002 - 17:43 (Semi Gidrão Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Policarpo e a arte de fazer papagaio

Policarpo era o melhor aluno do grupo escolar. Realizava as tarefas com precisão. Estudava regularmente os pontos para as provas. Mantinha os cadernos e a cartilha sempre bem encapados e cuidados, além de gozar de excelente conceito entre os colegas, e principalmente com os professores.
Entre as práticas da molecada estava o pião, a finca, a mãe da rua, e também, as pipas e papagaios. Isso tudo envolto em universo de fantasias, que fazia da escola um prazer superior aos ritos de tarefas e exercícios curriculares.
Seja na cantina ou no carrinho de picolé, seja na cesta de bolos e salgados ou até mesmo no tabuleiro de doces e guloseimas da dona Anastácia, em todos estes pontos, nós, moleques partícipes da festa diária denominada recreio, acabávamos por demonstrar uma certa aptidão ao exercício das atividades financeiras.
Além do lanche, usualmente trazido de casa, comprávamos e deliciávamos daqueles verdadeiros banquetes de nosso microuniverso consumista, doces, balas, chicletes, algodão-doce, pipoca etc. E para tal, comprometíamos os parcos trocados que na afã de nos agradas, pai, mãe, tios e tias nos davam.
Tocada a sirene do recreio. Uma avalanche de desejos derramava-se sobre cada um desses comerciantes de sonhos.
Balas, pipocas, chicletes, quebra-queixo, pedaços e mais pedaços de prazer. Vendidos a miúdo, por miúdo, que nós, os miúdos amealhávamos entre carinhos e favores comprados de nossos amigos e familiares mais velhos.
Por entre as grades do portão, com olhinhos pidões e ar de profunda responsabilidade, num tom de compromisso de gente grande, Policarpo destacava dos demais garotos.
Apropriava devidamente das palavras. Prometia adequadamente o pagamento para o dia seguinte e acabava por contrair o compromisso, a dívida, o pendura, o prego, fazer o papagaio.
Com os trocados que deveria pagar as guloseimas, ao término das aulas, atravessava a rua, ia a papelaria de seu Abelardo, duas ou três folhas de papel de seda. Do bambu do varal, duas varetas bem trabalhadas com faca e saco de vidro, um carretel de linha zero dez, lepidamente furtada do baú de costura de Vó Liça, e os sonhos voavam pelo céu.
Por três ou quatro dias era o rei dos ares. A pipa mais bela e voante do campinho de terra improvisado no terreno que a prefeitura havia destinado ao futuro. Quem sabe uma praça de esportes?
Depois, pela cobiça dos colegas, pelo apelo emotivo que as pipas de sua autoria, podíamos chamar autoria, como fazedor de papagaios, Policarpo era realmente artista. Acabava por vender a aeronave de sonhos e, com o arrecadado, pagava vez ou outra, um picolé, um chiclete, ficavam para trás.
Primário, ginásio, colegial, faculdade, escritório, empresa, grupo, multinacional, assim foi Policarpo, bem como picolés e guloseimas, bicicletas, moto, carro, apartamento, maquinário, filiais, bolsa de mercadorias...
Semana passada uma notícia de telejornal chamou-me a atenção. Era policarpo, que fora pego pelos repórteres quando, no aeroporto, fugia da Justiça, depois de uma gigantesca fraude no mercado financeiro.
Interessante foi notar que, mesmo na pressa de tomar o jatinho particular que já taxiava na pista, Policarpo parou em uma banca, dessas ambulantes, que costumeiramente são encontradas nos aeroportos, repleta de guloseimas, comprou uma mão cheia de rebuçados. Pagando com uma nota bem maior que o valor da compra e com ar de bom moço mandou o vendedor guardar o troco.
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