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Artigos-->O MARCO DA LITERATURA MOURIANA NO CHÃO TOCANTINENSE -- 09/04/2007 - 09:33 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Marco Pioneiro da Literatura Mouriana, no Chão Tocantinense



Ana Braga









MOURA LIMA, Membro Efetivo da Academia Tocantinense de Letras, advogado e pós-graduado em Língua Portuguesa, é profundo conhecedor da cultura sertaneja, destaque na literatura do Brasil Central. Vem de uma região de belas fazendas e de extensas lavouras, no rico município de Heitoraí, em Goiás.

Autor de várias obras literárias: peças teatrais,ensaios, ROMANCES e contos. Seu prestígio como escritor sagrou-se com o romance "Serra dos Pilões - Jagunços e Tropeiros", que obteve elogiosas críticas, de consagrados escritores nacionais.

Premiado pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, com o título "Personalidade Cultural", com respeitável e garantido nome, na sua carreira literária.

MUCUNÃ, livro de contos, de sua autoria, é uma obra literária baseada em observações e pesquisas. Obra de grande alcance sociológico. Com certeza, fará crescer, mais ainda, o prestígio desse autor, tão moço ainda, porém, com sua obra difundida e seu nome bem posicionado e citado, com altas referências elogiosas.



É que, nesses contos vive-se a vida do sertanejo, tal qual era, há décadas, nas paragens do ARAGUAIA - TOCANTINS. Em cada conto, as características fisiológicas e psicológicas dos personagens: brancos, pretos, escravocratas, peões, vaqueiros, mulheres e homens castigados pelos tempos e pela ignorância, que as distâncias e o isolamento originavam.



Nos dezoito contos de "MUCUNÃ", MOURA LIMA se revela um hábil artista. Trabalha no que descreve, combinando, bem, as palavras e os termos.

Assim, das raízes aos períodos de sua lingüística própria e atraente, constrói seus contos, que prendem e enchem de curiosidade o leitor, estimulando-o à pesquisa e o significado, ainda, o uso de tantos vocábulos, antes ignorados. É à volta ao tempo, à busca da identidade de uma literatura naturalista e regionalista e que, de fato, é algo temporal e espacial, entre o homem de uma época e o homem de todas as épocas. Nesse sentido, os contos do MUCUNÃ fazem o leitor reviver situações vivenciadas por gerações idas, recriando emoções e restaurando, mentalmente, um passado de culturas anteriores.



No primeiro conto: "UM BALSEIRO DO RIO TOCANTINS", o autor nos leva a uma "viagem" de balsa, lentamente, sobre o rio do Sono, "de roldão, a jusante, de rota batida para o Tocantins". Dentro dela, os costumes dos balseiros, seus hábitos e, até, como se resistir, ali dentro, entre banzeiros e correntezas atrevidos, uma tempestade. Eram aqueles tempos de transportes demorados e sofridos. Na balsa, aprende-se, também, a prosa dos balseiros, as lendas que contam e os "causos", sempre ricos de imaginação.

Nesse conto conhecemos a importância do precário meio de transporte, a balsa, que seguindo as estradas fluviais, ajudava, outrora, o ribeirinho e o homem dos sertões tocantinenses na luta pela prosperidade, que lhe custou dois séculos de quase total obscurantismo.



Todos os contos de MOURA LIMA, no MUCUNÃ, cujos títulos estão nominados à entrada do livro, criam um universo autônomo, onde os figurantes, brancos, pretos, escravocratas, vaqueiros, mulheres e homens, expressam uma realidade imaginária, e atingem o concreto do dia a dia, numa região. Época de conflitos e de inseguranças! O medo e a valentia se paradoxando, de mistura com a pureza e o pecado, com o desprendimento e o sofrimento dos humildes, a usura, a maldade e as vinganças dos poderosos. Somente as crendices, as lendas e as festas costumeiras espantavam a monotonia daquele viver perdido nas solidões.



Não falta a participação do indígena nos contos de MOURA LIMA. Nem poderia ser de modo diferente. Pois, também, nesses contos, o autor repete seu difícil trabalho, o de escafandrista de termos coloquiais usados na linguagem tocantinense, naqueles sertões de outrora. Seus contos se enriquecem com a participação do indígena, forte caldeante de nossa etnia, junto com o negro e o elemento europeu, o branco.



Os contos de MOURA LIMA, todos nos levam à vivência anterior e à entrada lenta e sofrida do progresso, na região do ex-norte de Goiás. A evolução sócio-cultural ali se iniciou com a implantação, primeiramente, com a criação de educandários, pelos padres e irmãs dominicanos e, posteriormente, com a inauguração da rota do Correio Aéreo Nacional, em 1935, do Rio de Janeiro a Belém - PA. Até aí, apenas, a dura realidade entre a solidão, os sonhos e a imaginação. Por tudo isso, os dezoito contos de MUCUNÃ são narrativas que seguem o curso normal daqueles lugares, em tempos distantes, com as características de plausibilidade, quando, num átimo, entram elementos inverossímeis, cenas afastadas da realidade atual.

Há que se dizer, nesse particular, que o autor colocou em - “O Lobisomem", "O Cavalo Canga", "Os Cabeças Vermelhas" as crendices e supertições em curso, na época. Além do mérito do autor ao descrever e buscar o convencimento, há, ainda, o de dar força e aparência real ao imaginário, aos "fatos". Ressalta-nos, aqui, algo de novo: em MUCUNÃ o autor inicia a catalogação de antigas lendas e crendices populares, tão comuns em regiões subdesenvolvidas. Também, fez o uso constante de vocabulários provincianos, modernamente, quase desconhecidos. Ressuscita-os. Nisso, o autor transporta o provincianismo de outrora à literatura atual. MOURA LIMA mostra, ao mesmo tempo, a falta de instrução e, até, a ingenuidade que dominava os rincões, hoje encaixados no próspero e belo Estado do Tocantins.

Os tipos da LITERATURA MOURIANA - Há no MUCUNÃ o imaginário e o real movimentados por uma galeria de tipos, imaginários ou não, espetacularmente caracterizados, fotografados literariamente em adequadas cores, pela rica imaginação e capacidade descritiva do autor MOURA LIMA.

Hábil construtor de balsa é o "cabra, venta aprecatada", Pitomba.

Mestre Jatobá, barqueiro e conhecedor dos mistérios dos rios do Sono e do Tocantins; "balseiro veterano".

Dona Zefa, "a sertaneja zelosa", que na hora do "gargaru", amassava com dedos os pedaços de abóbora.

Beato Severino, "que só queria ajudar os pobres a ter um pedaço de terra".

MUCUNÃ é o escravo, preto de alma branca, honesto, que só desejava a liberdade, adquirida com dignidade, pela carta de alforria, comprada.

Coronel Josino Candiru, cruel senhor de minas, "para quem negro só mereceria” peia “, trabalho, e ser ajoujado no tronco".

Pedro Tiúba, no mutismo de seu desejo de vingança, aguardando na tocaia, o assassino de seu filho, o criminoso Mucura.

Mumbica, "negro de sujeição", "bigorrilha de marca maior, lábios de gamela, olhos injetados de sangue, perverso, sádico". Um valentão que se acovarda ante assombração.

O Berranteiro Leontino, o mais famoso tocador de berrante, entregue às festas e comilanças, atrevido conquistador, galanteador de moças.

O velho jagunço Mão – de -Onça, que castrou Leontino vingando a honra da filha Lola.

Romildo "andado de mocorango, de jeito atabanado", mas, soube conquistar a professora Fiota, mulher inescrupulosa, e desavergonhada.

Esses tipos criados pelo contista MOURA LIMA representam a variedade dos encontrados nos gerais, onde, igual em todo lugar, como bem diz Victor Hugo, "a alma humana é um calabouço". É que as pessoas se diferenciam, não apenas pela cor, posição, instrução e educação, também, por suas atitudes, e comportamentos. Uns extrovertidos; outros, irresponsáveis; muitos, solitários; festeiros e mentirosos, em grande número, não faltando os maus, os vingativos nem os eternos sonhadores.

O que se sente, lendo estes contos de MOURA LIMA, é a firmeza com que ele coloca sua arte, a serviço desta obra, que, pessoalmente, julgo de grande valia para nosso mundo literário.

Sabemos das andanças do Autor, na peleja diária, anos seguidos pelos cerrados, chapadões e matas, vazando coloridas paisagens. Também, os agrestes separados da civilização. Entendemos que MOURA LIMA, nestes seus atraentes contos, transportou suas vivências por aqueles solitários e desbrugados caminhos, para as descrições que faz no MUCUNÃ. Seus personagens formam paisagens étnicas - sócio - culturais, que existiram e, talvez, ainda existam nos longos brugados, onde grande número de brasileiros desconhece o mundo civilizado.

O que viu, o que sentiu e, especialmente, o que registrou da fala cotidiana dos antigos moradores destes chãos tocantinenses foi passado, por MOURA LIMA, para estes contos: costumes, danças, comidas, fala, crenças, sentimentos e o vocabulário.

Não podemos negar que as pesquisas do autor dão um toque de autenticidade, onde, a ficção habita, tornando, assim, admiráveis os contos do MUCUNÃ.

A cultura popular enriquece os livros de MOURA LIMA, registrando, também, as danças as lutas indígenas. Nestas, os rijos corpos "pintados com a tinta preta do jenipapo", movimentam-se, em ritmo quente, sob o efeito do calujji. Nas lutas, dentro dos ubás, nas praias ou, nadando, mostram-se hábeis no manejo do arco e das bordunas. O autor ressalta a cultura indígena, bem como a dos tropeiros e, boiadeiros. Enfeita tudo com festas iguais às de São João, e outras, ou com o manso deslizar das balsas e canoas, em lentos dias, até a era do batelão. Meios usados, antigamente, pelo na região norte - goiano, o atual Estado do Tocantins.

Aqueles eram os tempos de insegurança e das dificuldades, exigindo garra e coragem dos homens e das mulheres. Tempo da justiça feita com as mãos; tempo dos conflitos por "barra de terra, barra de ouro e por barra de saia". Tempo longo e difícil, em que se construiu, a duras penas, a história de uma região esquecida, em que não faltaram heroísmos e ideais. É a história do Estado do Tocantins. Hoje, inspiração para os grandes artistas dos pincéis, da música e das letras. Entre tantos, MOURA LIMA, com o romance "Serra dos Piões, jagunços e Tropeiros" que o tornou conhecido, nacionalmente.

Agora, presenteia-nos com "MUCUNÃ", contos que terão o mesmo êxito que o romance citado. É que, vinculam-se à sua obra literária os aspectos indispensáveis que lhe dão singularidade e dimensão: a o artístico - literário, na beleza e correção dos trechos que escreve; aproximação da realidade ao fictício e a curiosidade e interesse despertados pelos títulos escolhidos.

O Autor segue à risca as normas vernáculas, sem se esquecer de fazer atraente sua linguagem, que é arte colorida com as tintas da originalidade.



MOURA LIMA é um escritor que foi ver e viu, nos longos sertões tocantinenses, o que agora escreve. Seus contos no MUCUNÃ iniciam uma viagem, numa balsa antiga e original, saindo pelo rio do Sono, que deságua no Tocantins.

Breve, irão ao encontro das puras e profundas águas da crítica de notáveis timoneiros da literatura moderna, que lhes darão o valor que a prefaciante tenta mostrar aos estudantes, especialmente.

MOURA LIMA, por seu MUCUNÃ, meus aplausos!

Recomendo os notáveis contos que enriquecem o MUCUNÃ aos estudiosos de nossa literatura regionalista, impregnada de termos afro-indigenas.







Ana Braga- Presidente da Acad. De Letras e Artes de GO.

Historiadora e Membro do Instituto Histórico e Geográfico de GO.





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