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Artigos-->O sopro -- 11/04/2007 - 09:15 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sopro



Fernando Zocca



Van Grogue fora convidado, naquela manhã linda de maio, a assistir um casamento há muito marcado. Ele surpreendera-se num dos raros momentos de lucidez, ao receber da noivinha bonita, o convite impresso para a solenidade.

Superando o baque da proposta (há muito ninguém o convidava para mais nada em Tupinambicas das Linhas), ele agradeceu e pensou logo então nos trajes que deveria vestir para os festejos.

Grogue fazendo um esforço considerável pôde lembrar-se que tinha ainda um terno usado na formatura do curso de Técnico em Contabilidade. Era um tanto quanto antigo, mas na conjuntura atual vivenciada, outras alternativas não seriam realizáveis, ou tão possíveis.

Depois de vasculhar o guarda-roupa Van juntou o que poderia ser as vestes com as quais iria aos comes e bebes.

Percebeu nosso amigo que tinha tudo: sapatos, meias, cueca, camisa e paletó. Mas faltava um item importante: faltava a gravata.

Acendendo um cigarro Van matutava:

- E agora onde vou achar uma gravata? Posso comprar fiado uma bem simples na loja do Salim. Será que custa mais do que R$ 10? Disseram-me que existem gravatas com valores superiores a US$600. Mas isso é loucura. Imagine fazer uma atrocidade dessas? Quem teria coragem para botar tanto dinheiro em cima de um pedaço de pano? Só um descontrolado mesmo! Quem compra esse tipo de coisa, por esses preços, tem até diamante azul. Ou então, possui tanto dinheiro quanto 10 sistemas de televisão.

Os cabelos cacheados negros e compridos escorreram pelo rosto do Van. Ele sentia-se angustiado quando não conseguia resolver problemas como esse. Achou que poderia tomar alguns comprimidos para aquela dor danada no cocuruto. Mais uma vez a dúvida assustou-o:

- E se o remédio me fizer mal? Será que o doutor do posto de saúde não vai ralhar comigo por usar medicação não prescrita por ele? Ó cruel dúvida cruel!

Van Grogue lançou a bituca pela janela escancarada não se importando se poderia ou não acertar algum transeunte.

Irritado esfregou as mãos entreabertas no rosto como se o lavasse debaixo do chuveiro.

- Que sinuca de bico! – exclamou caminhando pelo quarto. E depois já pensando em tomar um banho quente:

- Seria mesmo bom se estivesse agora na Flórida numa praia acolhedora. Desse jeito é capaz de me dar uma crise nervosa!

Eram quase quatro da tarde. Ao passar pela sala rumo ao banheiro viu o Diário de Tupinambicas das Linhas no sofá largado por alguém que não tivera tempo de o fechar ao deixa-lo. A manchete gritante chamou-lhe a atenção. “AS PIRADAS DO CABIDE. Saiba como 37 malucas conseguiram emprego na Prefeitura Municipal de Tupinambicas das Linhas fraudando o concurso”.

Van Grogue, acendendo um cigarro, lembrou-se do caso. Tratava-se de um vovô aposentado há mais de 45 anos (ele trabalhou só cinco) na prefeitura e por não agüentar mais a quizumba causada pelas netas e agregadas, na casa onde vivia muito bem e só, antes da chegada delas, pediu ao vereador Fuinha Bigoduda (sócio tácito do Jarbas caquético-testudo nas maracutaias licitatórias) que lhe vendesse o gabarito das provas a se realizarem em abril. Por uma questão de somenos importância houve desentendimentos entre os idealizadores dos exames e o “prédio caira” com a publicação do escândalo na imprensa.

As dores de cabeça do Van não cessavam. Antes só pioravam com o problema das gravatas. Mas afinal de contas, é mesmo obrigatório ir ao casamento com gravata? Não serve uma borboleta?

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