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Contos-->A Primeira Noite -- 18/05/2002 - 16:27 (André Luiz Soares da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Olhos abertos. Está escuro, ainda deve ser madrugada. Olhos fechados. Estou tão cansado. Estou na minha cama ? Não, duro demais. Talvez tenha caído da cama enquanto dormia. Olhos abertos. Olho ao redor. Não é o meu quarto. Muita madeira a vista, tudo amplo demais. Onde estou ?
Onde estou ?
Me ponho sentado. Meu corpo dói muito quando faço isso. Por quê estou tão dolorido ? Olho ao redor. Estou em um depósito. Onde estou ? Muitas ripas de madeira ao redor. Está escuro, mas vejo bem. Que horas são ?
A festa. Sei onde estou. Estou em uma festa, uma festa rave. Não lembro o nome. Quando foi que peguei no sono ? Está silencioso. Onde estão todos ? Preciso me levantar, preciso me lembrar do que houve.
Mãos no rosto. O quê aconteceu ? Olho ao redor. Meu corpo está muito dolorido. Meu pescoço, mal consigo virá-lo. Torcicolo. Me levanto. Será que bebi demais ? Não. Não tenho gosto de bebida na boca. Será que desmaiei ? Teria sido a primeira vez.
Mas por quê estou aqui ? No depósito ? Lembro de tê-lo visto antes de entrar na festa. A construção no fim do terreno. Longe da festa. Por quê vim para cá ? Espere. Quase lembrando. Meu Deus.
Suzana.
Vim para cá com Suzana. A festa. A dança. Eu me lembro. Ela estava linda. Nós conversamos, nos conhecemos, nos beijamos. Oh não, será que transamos ? Minhas roupas. Não. Minhas roupas estão em ordem. Minhas calças. Meu cinto. É complicado colocá-lo. Eu me lembraria de tê-lo tirado e colocado. Nunca gostei desse cinto. Mas foi presente da minha mãe. Quê posso fazer ?
Não. Concentre-se. Isso aí, concentre-se. Ainda estou parado. De pé. Preciso sair daqui. Não. Tente se lembrar primeiro. Cheguei na festa sozinho. Estava entediado em casa. Sentado no sofá, lendo o jornal. Li sobre a festa no canto da seção de lazer. Vim sozinho. Hoje é domingo.
Não sou muito de dançar. Por isso fiquei no bar. Observando. Até que ela se sentou do meu lado. Suzana era branca. Muito branca. Usava roupa preta. Foi isso. Daí começamos a conversar. Minha noite de sorte. Ela me disse para irmos pro depósito. Eu aceitei. Gosto de correr riscos.
Sento em uma das pilhas de ripas. Preciso pensar. Hoje é domingo. Amanhã tenho que trabalhar. Essa não, tenho que ir para casa. Tenho que trabalhar. O quê aconteceu ? Tudo bem. Já é madrugada. Não vou chegar em casa a tempo. E mesmo que chegue, estou dolorido demais. Vou faltar o serviço hoje. Preciso de um atestado médico.
Concentre-se. Penso nisso depois. Estou com fome. Muita fome. Será que não comi nada na festa ? Nossa, que fome. Vim para cá com Suzana. Tenho certeza. Mas onde ela está ? Por quê me deixou aqui sozinho ? Meu pescoço dói muito. Não consigo virá-lo. Deve ser porque fiquei deitado aqui no chão tanto tempo. Vou dedilhá-lo, tentar aliviar a dor. Onde está Suzana ? Que horas são ?
O quê é isso no meu pescoço ? Estou machucado. Estou ? Sim, estou. Dois cortes, no meu pescoço. Está inchado. Suzana. Oh não. Foi ela. Tenho certeza. Me lembro agora. Estávamos aqui, nos beijando. Ela começou a beijar meu pescoço, eu senti uma dor. Oh que dor. Ela deve ser doida. Me tirou sangue. E se eu fosse um doente ? Doida.
Começou a clarear. Acho que o sol vai nascer. Então deve ser quase seis da manhã. Nossa, que fome. Tenho que sair agora. Preciso comer alguma coisa. Algo suculento. Um filé talvez. Que fome estranha. Ainda mais a essa hora. Acho que não comi nada na festa.
Meu corpo dói tanto. Me ponho de pé outra vez. Me espreguiço, alongo meus músculos. Estão tão doloridos. Acho que enfim estou lúcido. Me lembrei do que aconteceu. Nossa, que noite. Mas vai ser legal contar pro Luís logo mais. Afinal, não vou trabalhar, mas ainda posso ir pra faculdade.
Oh não, minha mãe. Ela deve estar preocupada. Droga ! Preciso ligar pra ela. Tenho que sair. Olho ao redor. Toco o bolso da calça, minha carteira está lá. Posso sair então. Essa Suzana. Doida. Me deixou aqui, sozinho. Por quê não lembro de nada depois daquela dor no pescoço ?
Por quê meu corpo dói tanto ?
Luz do dia. Mais intensa. Meu corpo dói demais. O quê é isso ? Me vejo melhor agora. Vejo a pele das minhas mãos. Estou tão pálido. Essa dor. Não estou aguentando. Minhas pernas estão cansadas. Sento no chão. Por quê estou tão pálido ? Levanto minha camisa. Minha barriga também está pálida. Meu pescoço. Suzana ?
Fecho os olhos.
Não. É impossível.
Isso não existe. Não existe !
Ridículo. Não pode. Não pode !
Olhos abertos. Está tudo mais claro agora. O sol nasceu. Que dor horrível ! Não pode ser. Impossível. O quê aconteceu ? Eu não acredito. Mas tenho que acreditar. Senão vou morrer. Eu vou morrer.
Impossível. Preciso me esconder. Preciso sair daqui, ir pra um lugar escuro. Sem luz do dia. Se fizer isso vou viver. É o único jeito. Vi em todos aqueles filmes. Mas são filmes, é impossível. Impossível.
Não vou a lugar algum hoje. Me levanto. Correr para dentro do depósito. Um canto, em meio as ripas. Achei. Meu corpo dói demais ! Preciso mover algumas. Rápido, rápido ! Essa, essa e essa também. Tenho um abrigo. Preciso me esconder. Senão vou morrer. Me escondo.
A dor diminui, um pouco. Fome. Muita, muita fome. Como vou aguentar, meu Deus. Me ajude. Alguém pelo amor de Deus me ajude. Eu imploro. Não vou aguentar. Não vou pra faculdade hoje, nem vou ligar pra minha mãe. Não disse a ela onde iria. Ela vai se desesperar. Oh droga.
Por quê ? Por quê ?
Ainda é cedo. Seis da manhã, por aí. Como vou aguentar tanta fome ? Sem pânico. Senão posso derrubar o abrigo. Tenho que me acalmar. E esperar. Talvez durma. Se tiver sorte e me acalma, talvez eu durma. Como vou aguentar tanta fome ?
Como vou aguentar até a noite ? Talvez eu durma. Tenho que torcer pra ninguém me achar. Torcer pra ninguém vasculhar as ripas, senão pode derrubar o abrigo. Tenho que ficar aqui, até de noite.
Aí eu posso sair. Não posso entrar em pânico. São só algumas horas, aí eu posso sair. Tenho que me lembrar de coisas. Lembrar de músicas, de filmes. Pra passar o tempo e não me desesperar até a noite.
A noite eu vou sair. A noite eu posso sair. Tanta fome. Mas a noite eu vou sair, vou comer bastante. Só isso que importa agora. Eu não tenho culpa. Estou com muita fome. Vou comer bastante. Qualquer coisa que mate minha fome.
Alguma coisa bem suculenta.
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