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Artigos-->Atrás da fila dupla -- 23/04/2007 - 20:26 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Saia de casa para um compromisso importante perto do meio-dia ou no fim da tarde. Pode ser uma entrevista para um emprego, um almoço ou café com um cliente, uma conversa definitiva com o seu amor rebelde. Qualquer evento que não tolere o seu atraso. Você já está em cima da hora, planeja bem o percurso e, no meio do caminho, encontra não uma pedra, mas uma praga urbana: pais de alunos parados com seus carros em fila dupla esperando os pimpolhos que saem da escola. Se você for um pouco parecido comigo, ficará pê da vida com a folga desses senhores e senhoras.

A fila dupla é irritante, atrapalha muita gente que nem parente dos alunos é e que acaba ficando preso no engarrafamento do mau-exemplo de pais e escolas. Pais que poderiam estacionar o carro, ou dar a volta, e perder os minutos deles e não os meus e os seus. Escolas que fingem que nada acontece ou que isso é normal. Educação de primeira em ponto-morto.

Se a bagunça na saída do colégio fosse um fato único, eu aceitaria o contra-argumento de que não há nada muito condenável nela. Afinal, a vida é assim mesmo, cheia de diabinhos para nos testar a tolerância. Mas há, escondido na fila dupla, uma razão que em Minas Gerais deu origem a um singelo ditado: farinha pouca, meu pirão primeiro. Não são só os apanhadores de filhos que se apóiam nesse lema. “Ema, ema, ema! Cada um com seus pobrema!” é a idéia que move nossas vidas e costura pequenos atos a granel aparentemente pouco importantes com o fio de aço do descaso pelo alheio. Vive-se como se cada um fosse cada um mesmo, isolado do outro por um escudo de desinteresse pelo conviver atrás do qual vale tudo para salvar a própria pele e outras partes da anatomia.

A grande corrupção que é filha da pequena não é uma figura nova; foi um dos principais temas de um estilo de época chamado Realismo, no final do século XIX. Machado de Assis e Eça de Queirós, por exemplo, retrataram como poucos a capacidade que o ser humano tem de pensar em seus próprios interesses e apenas neles. Várias obras literárias, não apenas do Realismo, provam que a Arte serve muito bem para desmascarar os vírus letais existentes nas pequenas pílulas do dia-a-dia.

A poesia de denúncia é um ótimo meio de purificação da revolta. Para quem lê e para quem escreve. Anos atrás, essa mania que nós temos de achar que crime é só aquilo que está escrito no Código Penal já tinha tirado meu sono e invadido uma poesia de catarse. Mesmo sabendo que esse não é o melhor espaço para poetizar, termino a prosa como um poeta, em versos, Eh:

Eh, homem! / No pouco está o muito. / Seu espirro é a gripe do país. / Sua infecção, tísica do mundo. / Sua apatia, morte de tudo que existe.

Eh, homem! / Partir não é a saída. /Todo lugar é o mesmo / Para quem foge da própria sombra, / Para quem vive à sombra de asas de águia.

Eh, homem! / A música não pode parar / E o maestro está velho e sem vontade./

Mate o maestro com a batuta e siga o concerto. / A sinfonia afinada virá da inspiração de cada violino que livre vibrar.

Eh, homem! / Não falar é dizer tudo./ Fala que só a sua palavra é sua. /Fala que a palavra não é muda e muda o mundo todo. / Fala que a palavra que você covarde engole sufoca e mata o seu irmão de fome.

Se mataram alguém, / A culpa é de quem? /Se prenderam ninguém, / A culpa é de quem? / Se a dor se mantém, / A culpa é de quem?

É sua! / Que pouco sua, / Que não deixa a cara nua, / Que amarra a cabeça na lua, / Que choca zeloso o ovo da falcatrua // Nos pequenos atos ilegais: / - Meu troco com reais a mais! / Na discriminação mascarada: / - Negro em quarto de empregada! / No medo de ser pouco nobre: / - Não repara que a casa é de pobre! / No costume de se acostumar: / - Longe de mim querer incomodar!

Fale, homem, fale! / Faça, homem, faça! / Falar não é arte. / Fazer não causa enfarte. / Peça aparte, / Faça parte, / Faça a sua parte!

Lute. / Labute. / Mate o maestro,/ A águia, /Outros bichos.

Mate com batuta,/ grito, / outras armas.

Acorde, homem! / Oriente-se, homem! / Manifeste-se, homem! / Seja enfim o que é: homem! / Eh, homem, eh!



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