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Artigos-->Meu passado me antena -- 23/04/2007 - 20:28 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minha TV era P&B e foi um choque quando descobri que o Garibaldo da Vila Sésamo não era verde, era pink. Sempre percebi o zíper na roupa do Ultraman, mas, ainda assim, esperava cada novo episódio como nunca esperei o Papai Noel. Aliás, nunca achei que o bom velhinho fosse aparecer em minha casa; nós não tínhamos chaminé. No lugar dela estava a antena de uma televisão, primeiro Telefunken, depois e sempre, uma Phillips, essa coloridíssima e grande para os meus olhos de criança. Comi muita Geléia de Mocotó Colombo direto do vidro e vidrado nos Muppets que, em época de inglês pouco, era Mabete Show. De todos os bonecos, curtia mesmo eram os velhinhos rabujentos do camarote, sempre sacaneando o Caco. Pobre Caco... meu alter-ego marionete.

Cresci grudado na lente de uma televisão cheia de pontinhos vermelhos, verdes e azuis. Nunca cheguei a ficar cego como previa minha mãe. Até enxerguei melhor a vida através do tubo. Uma campanha de marketing de um novo carro da GM aposta na força desse passado de quem deixou os trinta, mas ainda não catou os quarenta. No VT comercial, várias personagens da infância de um jovem adulto o perseguem pelas ruas: Bozo, Gasparzinho, Fofão e outras figurinhas. A legião de mascotes conduz o homem já barbado ao seu “primeiro grande carro”. E o locutor completa: seu passado trouxe você até aqui. Feliz estratégia!

Muito do que eu sou, e você também, leitor de mais de três décadas de vida, foi construído com um pouco disto tudo: o “psiti!”do Didi, o “cacild´s” do Mussum, a risada e a careca do Zacarias (eram só esses Os Trapalhões, não eram?); as belas Panterinhas; os Herculóides com aquele rinoceronte que soltava pedras pelo chifre; o Elo Perdido e o Tchaca, parente distante do Chewbacca de Guerra nas Estrelas (os dois poderiam ter feito uma série juntos: Chewbacca e Tchaca na Butchaca); o Cyborg, homem de seis milhões de dólares, uma pechincha se fosse hoje; o Daniel Azulai, com Piparote, Chicória e toda a Turma do Lambe-Lambe; os filmes da Sessão da Tarde: Elvis Presley, Jerry Lewis (Zumba!), Flauta Encantada; os Detetives: Kojac, Columbo e o outro; filmes de terror às sextas na Record; Sílvio Santos no domingo à tarde (maestro, qual é a música?); a música de abertura do Globo Cor Especial (Não existe nada mais antigo, do que Cowboy que dá cem tiros de uma vez...); os “zing! pow!” de um Batman barrigudo, os comerciais do Polenguinho, da Varig e das Casas Pernambucanas.

Podem chiar todos os educadores. Se televisão é, em si, um mal capaz de estragar uma criança, minha geração é de estragados. E não me venham com essa balela que diz que os programas de hoje são mais violentos que os de antigamente. Nesse antigamente, um pássaro corredor metido a besta torturava sadicamente um Coiote burro que nunca morria, o que só aumentava o sofrimento do coitado. Muito ingênua e singela essa relação!. Jerry era um amor com o Tom, não era? Movido por Bonanza, James West e Chaparral, brinquei muito de mocinho e – mais legal! – bandido com Réplicas de Colts cabo branco. Aos trinta e cinco, ainda não transformei esse suposto treinamento do mal em assassinato ou outro desajuste social e nada indica que terei tempo ou vontade para isso.

Também não vale afirmar que os programas tinham mais qualidade. Tecnicamente, eram primários. As câmeras mais modernas, na época, eram monstros pesados com tubos e produziam imagens com pouca definição para finalização em máquinas Duplex sem recursos. O conteúdo também era de qualidade no mínimo questionável: enlatados americanos ponteados por iniciativas louváveis dessa ou daquela emissora que dava um jeito de driblar a censura e os interesses comerciais. Sem contar que a oferta de programação era bem menor (quem me dera ter uma TV Futura na minha infância!)

Ciro Marcondes**, em seu livro Televisão: a vida através do vídeo propõe uma visão objetiva da televisão, não como um monstro doméstico que perverte criancinhas, nem como olhos poderosos e dominadores que se infiltram em nosso lar. Para ele, culpar a TV é localizar o “inimigo” de forma equivocada. Mais ou menos assim: TVs não matam pessoas; pessoas matam pessoas (o verbo matar usado aqui em seu sentido mais amplo).

Menos hipócritas, podemos assumir nosso passado televisivo que não nos condena, mas nos antena para a possibilidade do uso construtivo, mágico e transformador desse hábito que nos define como humanos modernos: assistir à televisão. É isso aí, da poltrona!



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