poema ao Amazonas
Enveredei nas mansas águas do Amazonas
embriagando a memória em água, céu e mar,
onde o sol até parece que beija a fonte
sob um céu que o crepúsculo agrisalha
e vê esquadrões a galope no horizonte.
Velejando azuis espaços velejei estrada amazônica – rios
e igarapés – lagos de desejos, ilhas de fantasias – jardins secretos
de Afrodite, mosteiros e esconderijos de monjas lunares.
Tantas andanças por itinerário de nuvens azulescendo
a estrada do sonho no abismo que se esconde na fantasia.
Ficção engole a realidade, traz dos longes lendas bizarras,
encantamento do caboclo nos seringais e tribos;
nas selvas conheci o lado verde do mundo no coração
do Brasil – a transamazônica – portão aberto para o universo.
Em meio a pequenas grandes coisas senti mais perto do céu.
Navegando o Catamarã dei asas à imaginação, visitei rios, florestas,
campos e cidades – Tocantins e Araguaia, o Xingu e Tapajós,
Solimões e o colossal Amazonas, Santarém e Marabá, Belém e Manaus;
a procissão do círio de Nazaré, na linha do Equador mar sumindo em rios.
Na imensidão das águas um recital de poesia invade o território
Amazônico; em trânsfugas de poetas um turbilhão poético.
Embriagada no verde naveguei navios em mar de esperança.
Na ilha afrodisíaca de Marajó ancorei minha embarcação,
vislumbrei o encontro das águas verde-esmeralda do Tapajós
c´o as águas ocre-argila do insondável rio Amazonas.
Nas praias de água doce com ondas de mar deleitei o corpo semi nu
em Santarém, Alter do Chão, o Caribe brasileiro e em Marapanim
o nudismo; em Bragança a dança da Marujada e em Monte Alegre
grutas, cavernas, sítios arqueológicos e as fontes sulfurosas, margeando
Alenquer a Morada dos Deuses – concentração de rochas calcárias.
No embalo do carimbó busquei o silêncio das brenhas,
sorrindo e rindo mil abrolhos numa ânsia sutil de esquecer o mundo,
embriagada em açaí, pupunha e uxi e outros sabores tropicais
velejei teu leito manso, vaguei assim sem norte certo
e meu barco incerto levou-me à paz do teu remanso.
Ao visitar-te “um pedaço de mim foi-se c’ as ondas,
um outro, na areia se perdeu e outro, nos rochedos se alojou.
Outro pedaço de mim entrou nas dobras duma conchinha,
em meio a tantos nacos de sonhos e mil relembranças
fez-se um silêncio branco; pensei que se perdia, aos poucos, meu eu.
Uma outra parte de mim foi-se c’o a brisa e no horizonte se perdeu.
Uma outra parte de mim seguiu numa enorme embarcação de sonho.
A embarcação passou, ficaste c’o a brisa no oceano de água doce.
E eu, perdida em brisa de mar e rios e sem horizontes.
De meu eu, afinal, o que restou?
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