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cronicas-->A vida em poesia de Dona Ondina -- 06/05/2000 - 17:30 (Humberto Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"Quando vejo a humanidade, praticando horrores mil. Sinto ver tanta maldade destruindo nosso Brasil"

Lágrimas... ou quando é negado o direito a uma professora de dar aulas!
Era um dia de 1914, Cincinato Marques de Azevedo, um santa-ritense que cursava fora a faculdade de Odontologia chegava ao ritmo de uma banda de música que o esperava na estação ferroviária. Afinal, não era para menos, naquele instante aportava por aqui o primeiro dentista formado de Santa Rita do Sapucaí. E com ele o futuro de uma mulher que transpira poesia começava a chegar!!!
O senhor Cincinato que era casado com Anália Ferreira de Azevedo. Não vira o filho primogênito nascer, por estar estudando fora. Mas um ano depois de sua volta, em 1915, ele ficara todo encantado ao ver a esposa dar a luz ao segundo filho do casal, uma menina que recebera o nome de Ondina Marques de Azevedo. A menina que como a grande maioria das moças da época se formaria professora. Mas uma professora especial!!!
Especial porque de alguma forma fora prejudicada para poder dar aulas. Dona Ondina, como todos a conhecem, se diz que foi muito perseguida pelos políticos da época. Pois, suas colegas logo eram chamadas a darem aulas em escolas públicas, o que nunca aconteceu com ela.
Formada na turma de 1935 da Escola Normal Oficial, da qual foi escolhida a oradora da turma, nunca conseguiu que seu nome fosse nomeado professora da então excelente rede pública de ensino. E não fora por falta de capacidade!!! Nos vários concursos que prestou para assumir uma cadeira de alguma disciplina, ela sempre ficava entre os primeiros colocados. Das cartas que recebia da secretaria de educação do estado, todas diziam-lhe que faltava o diploma para que a professora Ondina assumisse o cargo. Diploma que só foi achado no ano de 1941, quando se esgotou o tempo para que assumisse as cadeiras de professora nas escolas. Ela conta que procurou várias autoridades, porém nenhuma delas resolveu o problema. E quando ela relatou sobre esse assunto, seus olhos ficaram marejados e lágrimas surgiram...

A escola particular
A solução então foi partir para o ensino particular, ou seja, acompanhando alunos que tivessem com dificuldades na escola ou preparar crianças que entrariam na escola posteriormente, após a alfabetização. Com muita dificuldade, em 1936, Dona Ondina abre as portas da Escola Nossa Senhora das Graças que funcionaria em um cómodo de comércio pertencente ao seu pai, ao lado de sua casa. Com pouquíssimo apoio, dona Ondina transformou uma pequena escola que preparava os alunos para o famoso exame de admissão para o curso ginasial num centro de ensino com mais de 150 alunos.
Em 1938 veio a oficialização da Escola Nossa Senhora das Graças pela secretaria de educação do estado autorizando o funcionamento de mais um estabelecimento de ensino. A escola veio a funcionar a todo vapor até 1944, quando por motivo de noivado, dona Ondina fechou as portas da escola. As professoras da escola, além de Ondina, foram: Dagmar Marques Azevedo, Carminha Raposo e Maria José de Souza. Para Ondina os alunos que mais se destacaram na passagem que tiveram pela escola dela foram os alunos: Maria Garcia de Jesus; os irmãos Mário Ibsem, Mirtes e Weber Brandão; também os irmãos Hélio e Eunice Gonçalves Telles; além de Luís Teófilo de Andrade Marinho e Elsa Ribeiro.

Festas, festas e festas!
Festas eram mesmo com dona Ondina. Ela contribuiu e muito para a realização de várias quermesses que ajudaram a construir o asilo. Promovia festas e mais festas, que ela as chamavas de Festas Caritativas, que os alunos chamavam de Festas do Barulho. Se fosse para ajudar alguma causa boa, beneficentes a igreja ou para a cidade mesmo, dona Ondina não media esforços para arrecadar e assim contribuir bastante para as obras necessárias.
Ela não media mesmo esforços para ajudar. Exigia a participação dos alunos na realização das festas na cidade. E, em uma dessas festas, ela conseguiu que o dinheiro arrecadado pelo festejo fosse além do esperado, das expectativas. E uma pessoa da organização, muito influente na cidade, foi agradecer o apoio recebido por dona Ondina e da Escola Nossa Senhora das Graças para a realização da festa e do sucesso que ela obteve. E nessa conversa, esta pessoa, disse então que Ondina poderia pedir o que quisesse que ela a atenderia. Dona Ondina respondeu que não precisava de nada. E a pessoa insistiu que ela pedisse. E, diante da insistência, Ondina então pediu que esta pessoa conseguisse a nomeação que lhe era justa como professora de alguma escola pública. E esta pessoa respondeu, para o não entendimento até hoje de dona Ondina, que isso ela não poderia dar, pois, os irmãos de Ondina eram ricos!?!?!?

O casamento, a alegria do parto e a tristeza da morte
Em 1945 Ondina casa-se com o primo paulista Otaviano de Azevedo Júnior. Vai e fica em São Paulo no ano de 1946, onde dá aulas em um colégio particular na capital paulista. Em 1947 volta para Santa Rita onde fica até o nascimento da primeira filha. A partir daí vai para Itu onde consegue a nomeação para ser professora rural. Tudo parece que ela iria mesmo se assentar na pequena, mais agradável cidade do interior paulista. Fica grávida da 2ª filha que nasce em Santa Rita. Depois do resguardo a que mães de recém nascidos têm direito, volta para Itu.
Em 1954 a filha caçula passa a viver doente. Consegue a nomeação de professora titular em uma escola urbana de Itu. Parece que finalmente o sonho de ser professora da rede pública se tornaria realidade. Porém a doença da filha vai se complicando. Os médicos não sabem dizer que doença é essa que maltrata tanto tão pobre criança. O tempo vai passando...
Com a doença da filha cada vez mais grave, ela pede licença de três meses na escola rural onde dá aulas... A doença da filha vai se agravando mais e mais, outros três meses de licença são concedidos... A doença é grave e ela não pode voltar a dar aulas. Acaba perdendo o tempo para assumir a cadeira de titular na escola urbana de Itu e também na escola rural.
O jeito é voltar para Santa Rita. O ano é 1955. A filha fica doente por três anos. Vem a falecer em 1956. Por esse tempo Ondina não soube o que é dormir direito, passava as noites em claro vendo o suplício da filha sem poder fazer nada. Os médicos desconheciam a doença e também nada podiam fazer.
A força da resistência, acredito eu, nasce a partir deste instante, para uma mulher que transpira poesia. A dor que estava sentindo é resumida neste pensamento que esta senhora me disse ao ler em um dos seus caderninhos, onde registra sua criação literária: "Os desenganos marcaram min´halma, mas, Jesus desfez essa mágoa dando-me de presente duas filhas. Uma delas, ele emprestou-me e logo a levou... Para suavizar meu sofrimento, ele cobriu-me com o manto da saudade".

Aulas, poesias e literatura
Após a morte da filha, dona Ondina passa a dar aulas na disciplina de história geral na antiga escola de comércio, hoje Grupão. Ensina a língua portuguesa para os alunos do colégio dos jesuítas, no extinto prédio do IMEE. Também dá aulas na Escola Nossa Senhora de Fátima e eventualmente nas escolas públicas como professora substituta.
A partir de então a veia poética de dona Ondina abre cada vez mais. Ela escreve poesia a qualquer momento do dia ou da noite. Vai registrando seus pensamentos durante os tempos em vários caderninhos. Diz que escreve quando surge a inspiração. Vive escrevendo contos que reúnem suas experiências e visões. Lê, escreve e transpira poesia!!!
Foi uma das fundadoras do Clube Feminino da Amizade em 1964 e se diz grata por ser a membro mais idosa do clube da 3ª idade.
Afirma que o livro que mais a chamou a atenção foi o livro "O ex-ateu" de Niemar de Barros por todo o lirismo que o livro possui e por ser tão profundo nas coisas que ali está escrito. Perguntado por este repórter se gostaria de pertencer a Academia Santarritense de Ciências e Letras, ela diz que não teria capacidade. Pois, este repórter afirma que não só capacidade dona Ondina tem, como poderia estar enriquecendo as letras de Santa Rita.

Publicado no jornal Minas do Sul no dia 12 de fevereiro
Autor: Humberto Azevedo
Escrito no dia 9 de fevereiro
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