Não me olhe assim
como quem quisesse ultrapassar fronteiras.
Conserva em ti esse desejo
porque em mim jamais ouve abrigo
do mesmo modo que abrigo não se encontra
no que resta de uma casa incendiada
no que resta de um navio naufragado.
Não me olhe assim,
o que vês te engana,
ainda que seja vontade minha estreitar-te nos braços
fazer-te conhecer o delírio.
Não me olhe assim, não que me obrigue a vacilar
e imaginar que esta cidade transformou-se em Veneza,
que és Tadzio e sou louco.
Não, não me olhe,
para que não veja em ti o que fui,
para que não cometa o desatino de transformar-te em mim
que sou casa incendiada
que sou navio naufragado
que fui desfeito em pó, em lágrimas
pelos homens que amei.
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