Metonímia
Essa mão que tocou a minha mão,
que hipnotiza meus olhos intimidados,
mão tão branca,
porcelana dúctil,
com seus dedos longos de pianista,
não tocou apenas a minha mão.
Tem poderes inusitados essa mão
uma vez que rompe carnes, nervos e músculos.
Percorre vasos, veias e artérias
banhando-se no meu sangue.
Repuxa e torce as minhas vísceras e,
sem demonstrar o menor cansaço,
comprime fortemente os meus pulmões
extinguindo meu fôlego de atleta.
Como se não bastasse,
essa mão,
(professoral e asséptica,
unhas rigorosamente aparadas),
sem a menor cerimônia,
com uma displicência enervante,
como se tudo a ela pertencesse,
achega-se,
acaricia,
envolve,
aperta,
dilacera
meu coração.
Esta mão! |