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Cronicas-->O mercador de profissões de Sta. Rita -- 06/05/2000 - 17:47 (Humberto Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sexta-feira 13. Agosto. Em 1915, nesta data, nascia o homenageado desta edição. No dia das assombrações, dos lobisomens, das mulas-sem-cabeça e no mês do cachorro louco, nascia o senhor José "Lalá" Tibães. Aqui se irá contar a incrível trajetória do homem que quase foi parar nas milícias de Getúlio. A surpreendente história do mercador de profissões. O homem que já vendeu macarrão, foi sapateiro, deu pensão e chegou a ser cortador de lenha. O homem que viu e sentiu de perto quatro das cinco piores enchentes que a cidade teve.

As lembranças
Antes de começar a entrevista, "seu" Lalá se ajeita numa de suas cadeiras que ficam na varanda de sua casa. Antes de dizer as primeiras palavras e responder as primeiras perguntas deste repórter, acende um cigarro, e dá suas baforadas.
Começa lembrando da rua onde morava o seu avó, hoje a avenida Beira Rio, Vítor Souza Pinto. "Essa avenida só poderia se chamar: Tibães velho, João Marins ou João Custódio. Os três primeiros moradores. Não entendo até hoje porque essa avenida tem o nome de Vítor Souza Pinto!". Na infància, "seu" Lalá brincava demais na casa do avó. A casa onde ele morava ficava logo ali. Era na rua do Queima.
Com 11 anos, "seu" Lalá teve a primeira experiência com o trabalho. Foi na sapataria do português Manoel "Manco". Por lá ele ficou apenas três meses. Não se adaptou com o velho português. A infància de Lalá foi como a de outras crianças daquele tempo. Não era só brincar. Logo cedo tinha-se que aprender a arte do engenho e do trabalho.

As profissões
Logo após a curta experiência que teve na oficina do seu Manoel "Manco". Passa a ter o seu próprio negócio. Primeiramente começa a retirar areia e pedregulho das águas do rio sapucaí. Um negócio que durou um bocado de tempo.
Para se exercitar e ganhar um trocado, seu Lalá conta que também foi cortador de lenha. A lenha que seu Lalá cortava tinha endereço certo. A grande maioria ia para o forno a lenha do restaurante que os pais de seu Lalá tinham. A outra parte ele vendia mesmo.
Mas as profissões não param por aí. Para descolar algum trocado, seu Lalá recorria a todos os tipos de serviços, de bicos. Os mais variados. Nunca gostou do serviço uniforme, sempre foi um mercador de profissões. Por que ao conseguir esses serviços trazia com ele vários outros "profissionais".
Por esse período em que ele não teve um emprego fixo ou não trabalhava no restaurante dos pais, seu Lalá viveu de mascate. "Mascateei muito. Vendia de tudo. Tudo que você imagina. Andava por essa região aqui toda".
Aos 15 anos, seu Lalá se reencontra com o ofício da sapataria. Desta vez seria a vez dele trabalhar um período com o senhor José Astorga. Período que não durou muito.
Da sapataria do senhor José Astorga para a sapataria do senhor António Francisco de Almeida, mais conhecido como António Turco. Aí ele ficou por dois anos. Ganhou muita experiência. Mas, ele conta: "o que fui explorado pelo seu António Turco, não está escrito. Ele me explorou muito. Não pagava o meu salário. Apreendi, mas sofri muito", diz.
O que mais marcou nas profissões de Lalá foi o ofício de sapateiro. Iniciou a sapataria em 1938, no ano que se casou. Trabalhou como sapateiro até 1968, quando se aposenta. Os fregueses que frequentavam sua sapataria eram dentre muitos, estes: Alcides Mendes, Rodolfo Brusamolim, Arlete Telles Pereira, José Padóia, Sérgio Moraes e o farmacêutico António Mendes.
Depois de 1968, ele abre uma pensão na própria casa para acolher os estudantes da ETE. Sua pensão vai até 1980.
Além de todos esses trabalhos, seu Lalá era um dos vendedores da fabrica de macarrão de Benedito Tibães. Uma das primeiras fábricas de macarrão do sul de minas. Fazia no lombo de uma égua ou a pé viagens para Bela Vista e Cachoeira de Minas para vender. O macarrão chegou a ser o mais vendido da região e a fábrica chegou a produzir 150 quilos por dia.

A história que não foi...
Revolução de 30. O Brasil está em pé de guerra. Aliancistas liberais lutam contra o poder dos conservadores da república velha. A Aliança Liberal lança como líder Getúlio Vargas.
Com 16 anos, Lalá caçava marreco pelas matas envoltas a cidade. Armado de espingarda de chumbo n.º 5, Lalá se machuca e cria um rombo na mão.
O comandante das tropas getulistas que aqui estava almoça no restaurante dos pais de Lalá. Garante a segurança dos amigos e da família de seu Benedito Tibães. Ao ver o garoto José Lalá Tibães com a mão toda machucada, em sinal de gratidão ao pai de Lalá, que tanto se preocupou em atender as tropas revolucionárias, convida e promete fazer de Lalá tenente do exército, logo que chegasse a Itajubá.
O sonho de pertencer as fileiras militares tinha caído do céu. Mas o temor da mãe, Benedita Tibães, em ter um filho levado pelo exército, falou mais alto e seu Lalá não acompanhou a tropa.
Mas isso não modificou o pensamento político de Lalá. Ele continuaria a pertencer ao exército de Getúlio. "Fui e sou um getulista".

As enchentes
"O que mais me marcou nessa vida foi a enchente de 1926. Tinha 11 anos", relata a esse repórter. Além dessa enchente, seu Lalá viu de perto as enchentes de 1946, 1970 e 2000. "Não tenho dúvida, a que mais me marcou foi a de 1926. A água subiu numa velocidade impressionante". E, foi assim, numa velocidade impressionante, que a entrevista chegava ao seu final.
E, ao fim da entrevista, seu Lalá continuou firme e tranquilo pitando mais um cigarro.

Publicado no jornal Minas do Sul no dia 19 de fevereiro
Autor: Humberto Azevedo
Escrito no dia 16 de fevereiro
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