Tenho certa inveja daqueles que têm uma boa noção das circunstâncias, e que
por isso conseguem ter vários pontos de vistas, optando por uma boa solução,
que sempre resulta em algo bom.
Particularmente, tenho o dom de afastar essas e outras virtudes pra bem
longe de mim. E é por isso que vou vivendo com essa visão óbvia, limitada e às
vezes embaçada.
Dizem que nunca é tarde para conseguir o que se deseja e que a solução está
em jamais desistir.
Não faço idéia de quem disse tal frase, ou se ela é verdadeira ou não, o
fato é que parece querer o bem, e isso já é um bom começo.
Conta a fábula, que já foi contada muitas vezes, por bons e maus contadores
de histórias, que o rei da floresta convidou seus súditos fiéis e infiéis
para uma festa em seu palácio.
O primeiro a chegar foi o urso, o grande e velho urso.
Encontrando a caverna cheia de ossos malcheirosos, tapou o nariz.
Furioso com a indelicadeza, o leão atirou-se sobre ele: - Patife! Que falta
de respeito. Entra em meu palácio de mão no nariz!
E o matou.
Em seguida, apareceu o macaco.
Este também sentiu o mau cheiro, mas quando viu o urso estirado ao chão,
compreendeu a trama e disse:
- Que palácio aconchegante! Quanto bom gosto! E como o ar exala um perfume
estonteante! Sinto-me como se estivesse num jardim!
Putzz, que macaco mais cínico!
O leão se enfureceu novamente e disse descontrolado: - Está ironizando?
Está zombando do seu rei? Pois toma lá... TABÉFE!!.... e com um forte golpe o
matou, impiedosamente.
Chegou a raposa e com a máxima cautela, ao ver estirados no chão os corpos
do urso e
do macaco, deduziu que no palácio real não é nada sensato ser absolutamente
sincera, nem extremamente bajuladora.... Sentiu-se diante de uma situação
delicada, que exigia sabedoria e muito bom tato para se
chegar a um final, se não feliz, pelo menos equilibrado, onde ao menos a
sua pele saísse ilesa.
- E você, que acha do meu palácio? - disse o rei, sem maiores rodeios.
- Para lhe ser franca e falando a verdade - disse a raposa educadamente -
não posso emitir uma opinião
correta. Fiz uma longa viagem, exposta à ardente luz do sol que ofuscou a
minha visão; pouco estou
conseguindo perceber aqui dentro. Peço-lhe desculpas pela situação
incômoda.
- Mas, o que me diz do cheiro? Normal ou insuportável? - continuou o rei,
que queria por que queria matar a coitada da raposa.
Este rei, cá pra nós, era um baita fiho-da-mãe, você também não acha?
- É outra coisa que não posso perceber, pois uma forte gripe afetou meu
olfato... disse a raposa.
Enfim, nada aconteceu à raposa, que agiu diligentemente, como sábia.
Não quis, com essa história, dizer que eu gostaria d ser uma raposa - minha
visão não é tão limitada e nem sou tão estúpido assim. Nunca negaria minha
vida pra ficar atacando aves e pequenos mamíferos, sem falar que não ficaria
nada bem com aquele monte de pêlos longos, focinho pontiagudo e cauda
comprida. Também não queria nem de longe ser o urso, o macaco ou o leão, que na
história foram personagens de pouca relevância.
Mas algo é certo: Tenho certa inveja daqueles que têm uma boa noção das
circunstâncias, e que por isso conseguem ter vários pontos de vistas, optando
por uma boa solução, que sempre resulta em algo bom.
"Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como
sábios..." (Efésios 5.15).
Até,
Anderson
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