Recebi comentário de um leitor chamado Cleyton Oliveira, que chutava o
balde, dizendo:
"...a grande maioria de seus textos são críticas (...) este país, ou mundo,
não vai mudar através de críticas, e sim com atitudes...".
Bom, apesar de não concordar que a grande maioria de meus textos sejam
críticas, e apesar de Cleyton ter feito uma crítica, muito parecida com as que
costumo fazer, não irei refutá-lo, e por dois motivos:
1 - Tal afirmação é irrefutável.
2. Dizer o que faço ou deixo de fazer fora do teclado, soaria como
auto-defesa; uma tentativa de dizer que sou ser humano exemplar e sublime -
virtudes, aliás, que não as tenho nem de longe.
Portanto, concordo com a crítica de Cleyton. Aliás, foi através dela que me
lembrei que urge dar importância às certas circunstâncias, que poucos se
importam:
Quem se importa pelo futuro de um povo sem direção?(...)Pelas crianças
pedindo e os ricos dando de ombros, ou dando de vidros fechados?(...) Quem se
importa quando o frio e o vento atormenta os moradores de rua, e balança o
barraco, que cai do barranco?(...)Ou quando a empregada é humilhada pela patroa
enrugada, ou quando o bêbado fracassado, desesperançado e desempregado
tenta se matar? Quem se importa ainda quando o pedestre passa pela calçada,
cheio de problemas, pensando num jeito de sobreviver - qual o motorista que
espera, observa e se importa?(...)Quem se importa pelo vendedor de chicletes
atropelado, pelo nordestino discriminado e massacrado, pela amizade
interrompida a tiros, pelo soropositivo, pelo favelado andando na Paulista com medo de
ser preso, pela auto-estima em baixa, pela tristeza do garoto em saber que
tem que mudar de bairro de novo, pelo pedinte que perdeu o orgulho de viver,
quem se importa?...
Diante disso tudo acho que no fundo só nos resta, à base de muitas obras,
raça e fé, aguardar que as esperanças conversadas, e sonhadas entre goles de
cafés das tardes aconteçam.
Repito: "à base de muitas obras, raça e fé"
Sinceramente, esse texto não conseguiu esclarecer o que eu almejava. Na
verdade queria dizer que todos nós somos grandes hipócritas. Sepulcros
caiados.
Desculpe o jeito, não sou a prova de certas circunstâncias, talvez você
também não seja?
Mas quem se importa?
P.S.: "Café da tarde porque faço isso com certa frequência, porque é lá que
falo dos sonhos e pesadelos. Cafés das tardes ficam nas lembranças de
todos, todos que já tomaram bons cafés das tardes".
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