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Cartas-->O Corpo amado -- 17/07/2002 - 04:08 (Jose Antonio Teixeira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Corpo amado
Como pode alguém sonhar á distância com o corpo amado? Como pode alguém escrever sobre ele? Fazer da pele folhas de papel? Transformar as marcas mais secretas, a geografia dos poros, a arqueologia das cicatrizes em palavras, frases, textos? Como embalsamar as pernas em letras? Não, isto não é possível. Muitas coisas ficariam esquecidas. As palavras coxas, mão, rabo, ombro, lábio, queixo, pêlo, umbigo, pescoço, joelho e outras tantas, é preciso esquecê-las para não turvar este corpo.
Como pretender que os pequenos abismos das consoantes possam acolher as superfícies desta paisagem, com seus tremores e nervosismo? Como nomear, descrever, narrar este corpo que entre a penumbra se esconde e se anuncia? Sequer ouso tocá-lo. Olhar basta-me. Como um menino doente que, às escondidas, abre a janela do quarto e, mesmo quando a chuva e a noite dissolvem a cidade, imagina as bicicletas, o carrossel, piscina, passeio de mãos dadas, cinema... A visão do corpo amado é minha hora mais silenciosa. Para que tocá-lo? Para que escrevê-lo?
Ainda em febre, olho através da chuva. Tremores ínfimos parecem ventos, o rumor do silêncio faz tremer as nuvens, os olhos fechados não prometem menos que o sol.
Afinal, não é um corpo o que vejo assim distante, mas os volumes de uma inteira biblioteca, jamais escrita. Como traduzir o barulho dos cabelos ao vento, as cintilações do escuro acenando nas unhas, a linhagem das orelhas, a prosódia líquida da perna esquerda?
Afinal, não é um corpo, mas uma minúscula tempestade, um oceano encolhido no aquário que qualquer mão brusca pode entornar.
Por mais que estenda o braço, não consigo tocar o corpo de que gosto tanto. Por mais palavras que tenha, não posso escrever este corpo que me dá as costas e se oferece. As palavras nada podem, vacilam entre o espelho e a penumbra. Quando muito, as minhas mãos estremecem e recuam com medo das sombras.
Como cobrir de palavras um corpo que, desde e para sempre nu, parece dançar nas poças d’água e abrir a janela para a chuva?
Simplesmente recordo. Vagueiam na minha mente as imagens, as palavras, os gestos e também os movimentos. Como traduzir para palavras tudo o que o pensamento teimosamente me faz recordar. Impossível será verter em palavras tudo isto.
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