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Artigos-->Encantado, Fagundes Varela! -- 06/07/2007 - 19:43 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A História da Literatura Brasileira, como qualquer outra abordagem histórica, tem seus prediletos. Ninguém duvida da importância de Gregório de Matos Guerra, Tomás Antônio Gonzaga ou Castro Alves. Entre os modernos, Bandeira, Drummond, João Cabral, Cecília, para citar alguns, são unanimidade. Rodeados pelo prestígio entre os acadêmicos, historiadores e críticos, todos esses autores conseguem espaço nos livros didáticos e são lidos por muita gente. Qualquer pessoa com formação média conhece as pedras drumondianas no caminho ou a voz indignada do eu-poético de Navio Negreiro. Essa cesta-básica da lírica brasileira garante que uma pequena chama poética ainda queime em alguns corações. Calor necessário em tempos de prosa fria.

A mesma História que glorifica, no entanto, sepulta. Por mais que se faça um esforço para entender os critérios literários e supostamente científicos usados para medir o maior ou menor valor de uma obra, ainda resta muito da desconfiança de que a subjetividade (leia: gosto pessoal) de alguns intelectuais possa ser a grande juíza de escritores que acabam num anonimato perverso. Muitos dos chamados epígonos, tidos como meros imitadores de seus predecessores geniais, poderiam estar no time dos prediletos, se não dos catedráticos, da maioria dos leitores mortais. Pergunta metonímica para exemplificar: você conhece Fagundes Varela?

Os jovens há mais tempo talvez tenham guardado na boa memória o trecho que abre o Cântico do Calvário, poema mais conhecido de Varela: “Eras na vida a pomba predileta/ Que sobre um mar de angústias conduzia/ O ramo da esperança!... eras a estrela/ Que entre as névoas do inverno cintilava/ Apontando o caminho ao pegureiro!...”. Há algumas décadas os professores, ainda livres de sistemas apostilados, adoravam ouvir seus alunos recitando essa elegia que o autor romântico escreveu ao filho morto meses após o nascimento. Para os aprendizes de leitores de hoje, Luis Nicolau Fagundes Varela é apenas um nome na lista dos “Outros Poetas do Romantismo”, bem depois dos estudos mais detalhados sobre Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves.

O grande pecado de Fagundes Varela parece ter sido nascer entre uma geração de poetas e outra e, ao contrário do que querem, não se encaixar exato em nenhuma delas. Em vida, mesmo sendo popular, foi medido com Azevedo, do qual nada tinha além do olhar voltado para algumas paixões mundanas. Depois de morto, foi Castro Alves quem lhe fez sombra injusta. Os poemas de Varela são maduros, tecnicamente bem construídos e tão bravios quanto os de seu sucessor abolicionista. Aliás, foi ele quem primeiro levantou seu canto contra a ideologia escravagista: “A escravidão não cinge-se unicamente aos ferros! / Há uma inda mais negra, a escravidão dos erros!”

Há o Varela tristonho: Minh’alma é como o deserto/De dúbia areia coberto,/Batido pelo tufão;/ É como a rocha isolada,/Pelas espumas banhada,/Dos mares na solidão. O Varela indignado: “Erguei-vos, povo de bravos, / Erguei-vos, brasíleo povo,/ Não consintais que piratas/ Na face cuspam de novo!”. O religioso: “A noite desce - lentas e tristes/ Cobrem as sombras a serrania, /Calam-se as aves, choram os ventos,/ Dizem os gênios: - Ave! Maria!”. Até o prosaico: “Pelas rosas, pelos lírios,/Pelas abelhas, sinhá,/Pelas notas mais chorosas/ Do canto do sabiá,/ Pelo cálice de angústias/Da flor do maracujá! (...) Por tudo o que o céu revela,/ Por tudo o que a terra dá / Eu te juro que minh’alma /De tua alma escrava está!.../Guarda contigo este emblema /Da flor do maracujá!”

Se eu continuar escolhendo trechos dos livros de Varela, até vou conseguir provar a minha tese de que uma eleição literária é sempre orientada pelo gosto pessoal e q ue só isso explica a ausência de determinados nomes dos livros didáticos atuais (Souzandrade é outro caso interessante). Ainda assim, se não é na escola que os jovens conhecem certos autores, onde será? E para quem vai além do conteúdo programático e pretende promover o poeta beatnik romântico, sugiro a obra: Fagundes Varela, Melhores poemas: seleção de Antonio Carlos Secchin, Global Editora. Na Internet: www.spectrumgothic.com.br/literatura/autores/fagundes.htm. Por fim, a noção que Varela tinha de sua situação de poeta isolado pela História: “O exilado está só por toda a parte!/ Passei tristonho dos salões no meio,/ Atravessei as turbulentas praças/ Curvado ao peso de uma sina escura;/ As turbas contemplaram-me sorrindo,/ Mas ninguém divisou a dor sem termos/ Que as fibras de meu peito espedaçava./ O exilado está só por toda a parte!”

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