ANAC SÓ TEM UMA DIRETORIA COM PROFISSIONAL
Tribuna da Imprensa, 260707
BRASÍLIA - Apenas uma das cinco diretorias da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é ocupada por profissionais do setor. Os outros três diretores e o presidente, Milton Zuanazzi, são apadrinhados políticos de ministros e aliados do governo e foram escolhidos também para atender ao lobby das companhias aéreas.
Como na Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), os postos-chave da agência criada na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para regular o setor, fiscalizar empresas e proteger os usuários foram loteados. Com o comando da Anac nas mãos de um economista, uma advogada, um ex-deputado, um engenheiro mecânico e só um aviador, o setor enfrenta a maior crise depois de ter crescimento médio de quase 12% ao ano e um lucro que saltou da faixa dos 3% para mais de 15%. Dez meses e 350 mortos depois, esse loteamento é apontado como fator agravante da crise.
Não é por acaso que Leur Lomanto, sete vezes deputado, foi o único diretor aprovado por unanimidade no Senado. Foi ele que, ainda deputado, relatou o projeto de lei que criou a Anac, negociado com as empresas aéreas. Rejeitado pelas urnas em 2002 Lomanto foi acomodado na assessoria parlamentar da Infraero e, de lá, transferido para a Anac.
Desde que assumiu, o feito de maior repercussão foi a festa que promoveu no casamento da filha, em março. O evento, que teve a participação da cúpula do setor aéreo, ocorreu no mesmo dia do motim dos controladores de vôo. Ficou conhecido como o Baile do Apagão.
Zuanazzi foi secretário de Turismo do Rio Grande do Sul. A maior credencial para assegurar a presidência da Anac foi a amizade com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, antiga companheira de partido e de secretariado. A relação é ainda anterior ao PT: os dois militaram juntos no PDT.
O ex-deputado José Dirceu, antecessor de Dilma, garantiu uma diretoria para a ex-assessora Denise Abreu. Ela apareceu nos jornais em duas ocasiões: a primeira, na festa de Lomanto. A outra foi na semana passada, três dias após o acidente da TAM. Denise, Lomanto, Zuanazzi e o diretor José Barat foram condecorados pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito. O único diretor não homenageado é Jorge Luiz Brito Velozo coronel aviador especialista em segurança de vôo que foi indicado pela Aeronáutica para a vaga. Sua escolha também agradou as companhias.
BERLINDA
Um especialista do setor aéreo que acompanha a Anac desde o início não tem dúvidas de que, com a troca no Ministério da Defesa, "a agência, que já nasceu torta, entrou na berlinda". Ele diz que, antes de a Anac sair do papel, ainda no governo Fernando Henrique (1995-2002), Lomanto já estava escolhido como diretor, com a bênção do Planalto, do PMDB, do então PFL (que virou o DEM) e das companhias aéreas. Até a Força Aérea acatou a escolha.
"A Anac só não foi criada no governo tucano porque o Planalto considerou o relatório de Lomanto muito favorável às empresas e decidiu engavetá-la", diz. A idéia de substituir o Departamento de Aviação Civil (DAC) por uma estrutura mais moderna e eficiente só vingou no governo do PT, mas a avaliação é de que prevaleceu o "espírito favorável" às companhias.
A questão técnica foi relegada a tal ponto que o DAC não foi procurado pela nova agência para fazer a transição.
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