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Contos-->CONTRA PROVA -- 01/06/2002 - 13:28 (José Roberto Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Homem nasce com medo de mulher.

E vive com medo de mulher.

Quando eu comecei a ver as mulheres como algo mais que objeto de nojo, isso lá pelos meus 8 anos, ao mesmo tempo em que os hormônios cantavam uma suave canção em minhas veias, muitos medos foram aparecendo.

O primeiro medo que tive foi o toque. As meninas que me tocavam eram visivelmente diferentes. Tinham coisas nos cabelos, metais nas orelhas, unhas pintadas, não tinham calças, nem cuecas. Falavam mais fino.

Minha vizinha me puxou num canto e disse que queria brincar de casinha. Eu, amigo, fui. Ela passava as panelinhas em minha perna, guardando as tampinhas dentro de meu short. Ela me fez abaixar meu short e expor meu pirulito, com que ela brincou um tempão. Eu, inocente, deixei-me manipular, sentindo um medo estranho, animal, de fumaça aonde não havia fogo.

Outra vez em que o medo virou real, foi quando a filha nova da empregada foi dormir no mesmo quarto que eu. Ela era uma pretinha feia, bocuda, mas muito alegre e brincalhona. Quando eu disse que ia dormir, ela, que tinha pouco mais de um ano que eu, disse que queria me mostrar uma coisa. Ela sabia que eu era curioso e concordei em descobrir a tal coisa. Ela sentou na cama, levantou o vestido e abaixou a calcinha, mostrando que não tinha pintinho.

O medo criou cara.

Os hormônios desceram em cascata, anos depois. Eu virei uma espécie de pára-raios de meninas provocadoras. Elas sentiam o cheiro de meu medo e vinham farejando minha perna, meu braço... e meu pescoço.

Nas aulas, tinha Valéria, uma loirinha de nariz de batata, que me pegava por trás e apertava seu corpo contra o meu. Me lembro que ela esfrega os ombros e eu sentia seu mini-soutien em minhas costas. No ano seguinte, as brincadeiras dela ficaram mais ousadas: ela aproximava o nariz de minha nuca e o esfregava em mim, ao mesmo tempo que me assoprava. Eu ameaçava chorar de medo, ela parava, e saída de perto de mim, rindo feliz e satisfeita com a tortura.

A segunda mulher que me mostrou mais detalhes do medo foi Nely (lê-se Nê-líh). Cabelos curtos e crespos, ditadora, retrucona, excelente aluna, me intimava constantemente. Me jogava giz (eu sentava lá na frente, ela lá atrás), bolinhas de papel expelidas pelo corpo da Bic laranja, papel de bala.

Um dia ela jogou-me um apagador que acertou em cheio minha testa. Abriu um galo, caí no chão, meio demente pela dor. Só me lembro de ver o sapato preto dela, brilhante, fivela com florzinha de plástico, perto de nem nariz, e algumas salivas que caíam em meu rosto, saindo das gargalhadas que ela dava.

Aos 12 anos veio a Ligia me atormentar, parecia que elas coreografavam os ataques. Ela era menina mais linda da escola. Disputada por tudo quanto era marmanjo, tinha cara da sétima série mandando bilhetinho pra ela. Loira também, olhos verdes grandes, peitinhos de pomba, cabelos arrumados em duas marias-chiquinhas, presos por laços ora azuis, ora vermelhos. Era moda na escola.

Ligia foi a menina que mais medo me deu. Ela via quando a Nely me jogava coisas e me olhava com uma cara esquisita, como se eu fosse uma lesma amassada por um sapato, uma barata que levou uma chinelada. Tentei conversar com ela um monte de vezes, pra entender o porque da coisa, mas Ligia recuava sempre que eu chegava perto. Uma vez ela me mostrou a palma das mãos, quando cheguei perto demais.

Um dia o Raimundo, um baianinho branco como cal e cara de maracujá novo, me empurrou na classe e sem querer caí em cima da Ligia. Ela me empurrou e me bateu como se eu fosse um cachorro. Quando me abaixei em posição fetal, no chão, ela começou a me chutar violentamente, como se eu fosse culpado pela morte de Jesus. Até que o servente impediu-a de quebrar uma costela minha.

Me lembro dela sendo arrastada pelo corredor de ladrilhos vermelhos, as mãos como garras unhando o ar, os olhos soltando um vapor mistura de lágrima, suor e fúria, os pés batendo no chão um sapateado sem ritmo, epilético.

Quando entrei na adolescência, me vestia de preto o tempo todo. As espinhas chegaram e tudo quanto foi mulher se afastou de mim. Até minha mãe me evitava.

Mas Lucia não me evitou. Magra, nariz arrebitado, morena, cabelos compridos, ela tinha 16 anos. Eu, 14. Estudávamos na classe do colégio Maria José. Eu não tinha amigos, só o Lobo, um mulatinho que fazia maromba e que ria de minhas piadas. Era o único.

Lucia conversava comigo e eu a ajudava nas matérias que ela não sabia e vice-versa.

Ela me chamou ao apartamento dela para estudarmos. Eu, fumante inveterado, acendi meu cigarro e ela o dela. Era um quitinete na Nove de Julho, uma caixa de concreto. A tia dela tinha ido trabalhar de enfermeira. E eu lendo sobre a batalha dos Farrapos.

Lucia tirou a blusa na minha frente e mostrou seus seios.

- Você sabe o que quer, heim? - comentei, pela primeira e última vez na vida.

Ela me empurrou no sofá, abriu minha braguilha e o botou na boca. A cabeça dela subia e descia entre minhas pernas, suas costas se esticando para o chão, suas pernas debaixo da mesinha de centro. O aparelho de som, um três em um da National, cara preta e azul, tocava Planet Patrol.

Manipulado oralmente, ele cresceu como eu nunca vira. A boca de Lucia ficou pequena demais para ele mas ela insistiu na coisa, subindo e descendo. Suas mãos abaixaram a calça jeans e os chinelos de pompom foram para direções diferentes e aleatórias.

Ela tirou ele da boca, veio de joelhos para cima de mim, afastou minha jaqueta de couro, levantou minha blusa preta e me unhou o peito, ao mesmo tempo que se ajeitava sobre o que acabara de chupar.

Lucia ajeitou aqui, ajeitou ali e ele entrou nela. Ela rebolou no mesmo ritmo da batida eletrônica e abaixou a boca na minha, enfiando sua língua dentro de minha garganta. Tive vontade de vomitar, ao mesmo tempo que sentia um forte prazer.

Lucia rebolou umas vezes e a cada vez que eu entrava fundo dela, ela apertava as pernas, agitava a cabeça e mordia os dedos. Ela dançou daquele jeito umas cinco vezes, desmontou de cima de mim e foi ao banheiro.

De lá de dentro ela disse:

- Vá embora.

Acanhado, confuso, chateado, com o saco doendo, decepcionado...

Eu fui embora.
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