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Artigos-->NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR -- 04/08/2007 - 15:07 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CAMPO VISUAL DE NOSSA ROTINA:

“nada é impossível de mudar” *





(org. por Heleida Nobrega, 2007)





“OLHAR não é apenas dirigir os olhos para perceber o “real” fora de nós. É tantas vezes, sinônimos de cuidar, zelar, guardar, ações que trazem o outro para a esfera dos cuidados do sujeito: olhar por uma criança, olhar por um trabalho, olhar por um projeto...” (Alfredo Bosi, Companhia das Letras)















Olhar! Olhar de novo, dar uma segunda chance...



Costumamos ver tudo que está sob o domínio de nossos olhos?



Espalhar o olhar e constatar que nada é impossível de mudar no campo visual de nossa rotina torna-se uma prática, no mínimo, interessante. Por quê?



Porque saímos pela mesma porta todos os dias e se alguém nos perguntar o que vimos no caminho, saberíamos responder com precisão?



O que acontece é que de tanto ver, transformamos o olhar numa coisa corriqueira. Permitimos que ele se transforme num VER que não VÊ. Contudo, há sempre o que ver: pessoas, animais, plantas, objetos... e ‘infinitos movimentos’.



Experimente ver pela primeira vez o que você vê todos os dias, sem ver. Parece fácil, mas não é.



Vemos? Não vemos. Nossos olhos se gastam no dia-dia, opacos, e é justamente por aí que pode se instalar no coração o monstruoso ‘virus’ da indiferença”: a porta de entrada da ’desumanização’.



No entanto, há um fundo inexplicável onde se entretecem teias que nos ligam e nos conduzem à coisas novas. Basta que haja disposição para olhar e VER! Um encontro casual, uma palavra, uma frase, um gesto inesperado, pode nos revelar algo e representar, não raras vezes, a imagem desse fundo não pré-concebido.



Infelizmente, perdidos nos movimentos dos fios dessa trama, sequer percebemos quando deixamos de lado pequenos detalhes, aparentemente insignificantes, os quais poderiam alterar o curso de nossas vidas e inclusive, o de tantas outras que nos cercam.



Quantas vezes nos deparamos com um olhar que nos constrange por trazer o sofrimento à superfície real, agredindo e denunciando uma tendência à indiferença aos problemas alheios, à falta de solidariedade, de humanidade, de ajuda e de participação?



Talvez as lentes usadas para olharmos a vida não estejam ajustadas adequadamente. Talvez, o segredo resida em voltarmos a olhar tudo com o olhar de menino (a), como se pela primeira vez o mundo nos entrasse pelos olhos da alma. Talvez, quem sabe? Talvez uma aplicação cuidadosa da mente à algum episódio, de modo a decifrarmos o código do aparentemente vulgar, de vermos ‘o novo’ onde só víamos ‘o mesmo’. Ver de novo!



Isso não significa, absolutamente, o apelo de nos deixarmos ir ao sabor da corrente. Ao contrário, trata-se da capacidade de podemos perceber que há uma corrente. Tampouco, significa a apologia da passividade, à pura entrega ao acontecer. Ao contrário, é o saber que continuamente estamos mergulhados no acontecer.



Não é o fato de o homem definir-se pela ação, pela escolha, pela assunção de caminhos, a razão que o leva à total expressão de sua individualidade?



Por que olhamos, olhamos... e tantas coisas ainda nos escapam?



Imperioso será a abertura da alma, a disponibilidade do coração, desse olhar interior, impedido infinitas vezes, de VER. Impedido de ver, quer pela ganga com que nos revestimos, quer pela presença cotidiana das normas que não podemos descartar, quer pelo cumprimento de horários, o delírio que não nos deixa tempo para parar, respirar fundo e voltar a sentir como isso é bom.



Olhares repletos de imagens tornam-se esvaziados, perdidos, presos a nada. E cada vez mais retardam o movimento de olhar tudo ou pedaços do tudo... “Até mesmo o sol chora as ausências e olhares vazios das pessoas que passam”



Na realidade, olhos vazios estão cheios de momentos ou de alguém e não conseguem ver para além do que não se vê.



Parar e escutar alguém que de repente se coloca ao nosso lado e começa a falar, gente que talvez nem conheçamos, mas que naquele momento nos escolhe para dizer algo porque precisa falar, ou antes, necessita ser escutado, acaba sendo uma oportunidade ímpar que o dia-a-dia nos oferece.



Aproveitar o caminho, abarrotar os olhos de descobertas, olhar pela segunda vez...



“Nove horas da manhã. A janela fechada oculta o sol ou a chuva. Não sei o que o dia espera de mim, se eu nada espero dele. Acordar pra quê?”



Vimos TUDO? Vimos realmente tudo? Tudo que está por detrás de cada olhar que um dia cruzou com nosso OLHAR?



"... cada um de nós vê o mundo com os olhos que tem, e os olhos vêem o que querem. Os olhos fazem a diversidade do mundo e fabricam as maravilhas, ainda que sejam de pedra, e altas proas, ainda que sejam de ilusão" (Saramago)



Quando nos deparamos com o horizonte pela abertura de uma porta ou janela nossos olhos tendem a voejar em sua direção em busca do sonho e do novo. Quando retornam, acabam por trazer na bagagem a vontade do ‘fazer’.



Um FAZER com vontade de ACERTAR faz muita diferença no campo de nossa rotina.



Oferecer uma segunda chance ao nosso olhar significa tentar descobrir coisas novas na velha rotina. E, tal qual a imagem de um campo, temos que afofar a terra com paciência, plantar sementes de ENTUSIASMO, abranger a perseverança, confiar no tempo da colheita para que finalmente possamos constatar com nossos próprios olhos, que nada é impossível de mudar.



Nossos olhos são porta de entrada?



São porta de entrada para o aprendizado ‘do olhar para o outro’, isto é, do olhar que vê além do que os olhos vêem; à escuta atenta, inclusive às palavras que se ocultam nas intermitências; ao tato, de tal forma que oportunize o ‘contato’ e que não se perca de vista a forma do ‘lidar com o outro’; ao olfato, através da captação de odores que exalam dos movimentos que circundam nosso ambiente, conduzindo-nos ao ‘exercício da compaixão’; ao paladar, “na degustação de cada elemento do imponderável, diluindo um a um sem qualquer ajuizamento, sem qualquer pré-conceito”?



São porta de entrada?





Bibliografia:



1- Resende, Otto Lara, “Vista Cansada”

2- Bitelman, Flavio Mendes, publisher , “Descondicionando o olhar”

3- Morais, Moacyr Mendes, psicólogo, anotações de aula/curso: Fundamentos da Antropologia Intuitiva e a Arte de Curar/ 2006-2007

4- Bosi, Alfredo, “O Olhar”, Companhia das Letras

5- Nobrega, Heleida - 2007, “Nossos olhos são porta de entrada?”

6- Sites: usuarios.cultura.com.br/migliari; anjosdeprata; surpresaatrasdaporta; fotossebastãosalgado; abarcadelyra2.blogspot.com/; ciegreja.blogspot.com/; (pesquisa, abril 2007)







Heleida Nobrega, 2007



*(texto organizado para o V Encontro de Profissionais da Área Social do Programa Estadual de Hanseníase: Campo Visual de Nossa Rotina: "nada é imposssível de mudar" - DTH do CVE/CCD/SES-SP, maio de 2007)

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