"O coração das mulheres varia: para mil gênios diferentes, lança mão de mil recursos diferentes. Há nos corações tantas inclinações diferentes quanto há no mundo rostos diferentes. O sensato saberá como lidar com esses inúmeros caracteres." (Ovídio)
Ainda ontem, pela passagem de mais um aniversário, estava eu recebendo presentes. Ao observar os detalhes de alguns deles, enviados por algumas mulheres que fazem parte de meu cotidiano, com arranjos delicados e altamente sugestivos, que deixam transparecer uma sensibilidade impressionante, minha imaginação foi provocada, especialmente, por um deles, o qual tinha a indisfarçável intenção de causar fantasias delirantes a qualquer homem, não importando se amigo verdadeiro ou amante.
Enquanto me embriagava com o frescor agradável do aroma daqueles minúsculos sabonetes de mel e amêndoas que invadia meus pulmões, li as palavras do cartão, carregadas de uma eloquência que não necessita de lições para conseguir provocar meu desejo.
Então, agora que ela, generosamente, me revelava o perfume de sua pele, um mundo de fantasia começou a se formar diante de meus olhos, e foi a glória poder imaginá-la na intimidade, banhando-se com aqueles aromas mágicos de seus pequeninos sabonetes.
De repente me veio à mente, Mistérios Gozosos de Affonso Romano de Sant ana, quando descreve o que acontece com a mulher depois que faz amor e, ao mesmo tempo, passa uma bronca nos homens desatentos.
Tudo o que a mulher faz ou pretende fazer, tem um certo ritual, uma preparação muito bem estudada de todos os passos que pretende dar na sua conquista. Tudo nela é delicado e isto me causa um imenso fascínio, uma atração quase irresistível para cair nesta armadilha de tentar entender este estado de espírito, estes verdadeiros truques de sedução que compreendem o universo feminino. É uma coisa mais ou menos assim que descobri invejar nas mulheres: A arte de se preparar para fazer o momento mágico do amor acontecer.
Todo homem tem seu lado feminino. Uns mais, outros menos brutalizados, mas é muito difícil para nós lidarmos com isso numa sociedade estigmatizada. São poucos os homens que se aventuram a tentar compreender o universo feminino. Muitos não conseguem deixar a sensibilidade andar diante da impulsividade, da praticidade masculina. Outros, simplesmente não se atrevem; os poucos corajosos que se encantam com ele são muito bem recompensados.
Muitos homens já escreveram sobre as mulheres, mas todos nós continuamos errando sobre elas. Bruna Lombardi, musa do poeta Mário Quintana, escreveu que "as mulheres são feitas de mistérios, portanto, o homem que descobre uma mulher será sempre o primeiro a ver a aurora". Mesmo tendo Freud morrido sem entender as mulheres, continuo achando fascinante essa tentativa e não temo em me aproximar de suas deliciosas armadilhas.
Só os tolos se apressam em percorrer um caminho onde os homens sábios jamais pisariam, mas como poderia ser diferente se somente os tolos recebem a dádiva de apaixonar-se? Basta lhes mostrar a possibilidade de vislumbrar o paraíso, ainda mais, quando em forma de mulher.
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