Na mitologia grega, as ninfas eram divindades femininas secundárias, associadas à fertilidade e identificadas de acordo com os elementos naturais em que habitavam. Representadas como lindas virgens, amantes da música e da dança. Embora não fossem imortais, as ninfas tinham vida muito longa e não envelheciam. Benfazejas, tudo propiciavam aos homens e à natureza. Tinham ainda o dom de profetizar, curar e nutrir. Belas, graciosas e sempre jovens, as ninfas foram amadas por muitos deuses.
Costumo dizer que nada se compara em termos de cultura aos anos 60/70. Eles foram um psicodélico caleidoscópio cultural. Ted Lapidus, o estilista dos Beatles, encontrou a resposta para a moda feita em série: "Devemos ensinar à s máquinas a linguagem da beleza". Pierre Cardin declara, na abertura da Fenit em 1960: "Pela primeira vez somos livres para vestirmos o que quisermos". A calça Saint Tropez, lançada por Brigite Bardot, deixa o umbigo à mostra. Londres se transforma na pátria da contra-cultura jovem e, em 66, Mary Quant lança a minissaia, distante 30 cm dos joelhos, para horror do Vaticano. Os movimentos musicais liderados pelos Beatles e Rolling Stones inspiram uma nova forma de expressão. Eric Clapton, ungido deus da guitarra, recebe Jimi Hendrix, o Rei Cigano. São os anos rebeldes. Sim, nós somos hippies.
Toda esta nostalgia foi motivada por um encontro com nosso escritor Clemar Dias. O computador dele estava emburrado e lá fui eu, ver se nos entendíamos. Minha maior recompensa entre um clique e outro, além do bom papo e o chimarrão gostoso, foi admirar o testemunho de uma época estampado nas paredes de sua usina de criação. Entre James Dean, Marylin Monroe e todas as cenas que relembrei no início, lá estava ela, a suprema encarnação das ninfas, eternamente jovem e sedutora: Brigite Bardot.
Minha admiração por aqueles que conseguem realçar a beleza das mulheres na sua forma mais íntima e nos seus mínimos detalhes beira à devoção. Hoje, as mulheres dispõem de um verdadeiro arsenal de sedução em seu vestuário. Mas, de todas as criações da moda que se eternizaram no tempo, a que mais me atrai e faz sonhar, é a calça Saint Tropez ou calça de cós baixo. A anatomia feminina é rica em detalhes para enfeitiçar os homens, mas destes, o ventre é o que mais me seduz. A genialidade desta peça do vestuário feminino é justamente exibir toda a sensualidade da mulher, atiçando a libido dos homens atentos.
Para os homens, é uma dádiva dos céus visualizar aquele pequeno território de sonho e loucura, que nos leva em direção ao cálice que guarda o mais doce vinho. E deve ser também muito excitante para as jovens mulheres exibirem assim, tentadoramente, suas melhores promessas de uma bem-aventurança, mesmo que seus olhos quase sempre teimem em dizer que nunca teremos aquilo que desejamos.
Este território abençoado, fruto do mais doce exibicionismo, é como velas abertas num barco que navega de encontro a uma tempestade de sensualidade, que nos desvia o rumo; é como estar diante de uma visão que nos altera a face, acelera os batimentos cardíacos e faz ouvir cànticos celestiais, tendo como recompensa, ao final, o encontro com uma serenidade tal qual manhã de domingo, embalando nossos sonhos de menino.
Assim como Olavo Bilac, quando escreveu "Delírio", me socorro do perdão dos moralistas. É difícil resistir a essa exposição tentadora a qual nos submetem as ninfetas, quando chega a primavera e depois o verão. É uma verdadeira covardia o que fazem conosco.
Ah, menina. O que saboreio me fascina, mas como é cruel a juventude do teu coração!
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