Ela entrou exuberante.
Com um trejeito de top model desfilou pelo recinto do penhor. Sentou-se em uma poltrona bem em frente ao meu guichê. Loura, esbelta e com um bronzeado de fevereiro em pleno novembro chuvoso. Após alguns minutos, ao chamar a senha 24, o monumento ambulante encaminha-se em minha direção. De repente aquele World Trade Center humano desaba sobre a banca de atendimento, apoiada apenas nos belos cotovelinhos acastanhados de sol. Os seus maravilhosos olhos verdes, da mais pura reação do ácido clorídrico com o cobre, sorriem para mim.
- Ooooooiiiii!
- Bom dia.
Após analisar os quatro anéis e duas pulseiras, devolvendo-lhe um colar de prata, comunico que pelo prazo desejado ela levaria pelo lote a quantia de R$ 69,00.
- Meia nove?
- Sim, por este lote tu levas R$ 69,00.
- Só meia nove?
- Infelizmente...
- Tudo bem vou fazer o penhor.
Para digitação do cadastro peço a sua documentação: Carteira de identidade, CPF e comprovante de residência. Ao ver a sua carteira verifico que o nome no documento não combinava com a pessoa em minha frente. Antecipadamente ela responde a pergunta que eu ainda não tinha feito.
- Sou eu mesma. Viste os meus cabelos... quanta diferença!
Chamava-se Luiz Valdemar do Couto Barbosa.
No vaivém da conversa contou-me que em sua adolescência havia jogado de quarto-zagueiro no Grêmio Santanense de Livramento. Era conhecido como Parada Barbosa. Nenhum atacante passou incólume pela mais famosa muralha juvenil da fronteira sul do Rio Grande.
Hoje era apenas a Luiza Tatuagem.
- Tatuagem?
- Aqui não é o lugar mais apropriado para eu te mostrar a tatuagem.
- Bom! Luiz... Luiza, por gentileza o teu endereço?
- Eu moro na rua Conde D´Eu, dois meia nove.
- Conde o quê?
- D´Eu, dois meia nove.
- Ah!
Após receber a quantia combinada, levanta-se abruptamente e dá meia volta, seus longos cabelos louros esvoaçam e fazem uma varredura no meu guichê. De súbito, joga o nariz para o alto e se vai exuberante como uma top model desfilando pelo recinto do penhor.