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Contos-->"PARA SEMPRE FIEL" -- 02/06/2002 - 21:46 (Ris Catherine) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vira-se para uma pequena:
- Quer saber de uma coisa ?
E ela:
- Quero.
Estavam tomand refrigerante, com um canudinho, num bar da Quinta da Boa Vista, ao ar livre. E, então, meio sério, meio brincando, ele baixa a voz:
- Não acredito que você goste de mim.
Admirou-se:
- Sério?
- Palavra de honra!
- Por quê?
Puxa um cigarro:
- Porque não acredito em mulher nenhuma, compreendeu? Olha: eu tive, até agora, digamos, umas dez namoradas.
Dez ou doze ou treze. Muito bem. Todas, absolutamente todas, sem exceção, me passarm pra trás. Às vezes eu penso que minha sina, minha vocação é ser traído.
Impressionada, Odaléia mexeu com canudinho no fundo do copo vazio. Ergue o rosto:
- Posso falar?
- Claro!
Por cima da mesa, ela apanha a mão do namorado:
- Nào há no mundo um amor que se compare ao meu.
Você é meu primeiro amor e será o último!

Saíram da Quinta da Boa Vista mais enamorados do que nunca. No ponto do bonde, Odaléia, comovida da cabeça aos pés, pergunta:

- E agora? Você acredita em mim? Acredita no meu amor?
Respira fundo:

- Acredito
Quando Odaléia chegou em casa, a mãe aparece na porta da cozinha, com um prato e um pano de enxugar. "Como é? Tudo Bem?". A garota pòe a bolsa em cima da mesa e suspira.

- Mamãe, parece que o negócio engrenou.
A velha quis saber:
- Falou em casamento?
E a filha.
- Falou mamãe, pela primeira vez. Ah, mamãe, eu sou a mulher mais feliz do mundo!
- Deus te abençoe, minha filha, Deus te abençoe!
No dia seguinte, encontraram-se novamente. Mas a euforia de Odilon extinguira-se até o último vestígio. Taciturno, um jeito cruel na boca, quase não falava. Súbito, Odaléia: "O que é que há ? Está aborrecido?" Encaram-se. odilom baixa a vista:
- Você pode achara que é complexo, ams fato é o seguinte: eu não acredito em você. Nào consigo acreditar. Pergunto:
Você acha que posso me casar sabendo que vou ser traído?
Ergueu-se atônita:
- Mas assim você até me ofende!
- Viu? Você já está ofendida! E a mulher que ama no duro, que ama batata, começa por não tr amor-próprio. Com amor-próprio não há amor
Odaleía agarra-se ao namorado:
- Você quer que eu faça o que para provar o meu amor? Eu faço o que você quiser!

Separam-se, tristíssimos. Antes de largar a pequena no ônibus, ele dissera: " Quer um conselho meu ? QUer? Então, ouça"
Suspira e continua:
- vOCÊ deve me chutar enquanto é tempo. Eu não interesso nem a você, nem a mulher nenhuma. Agora mesmo, neste momento, eu estou pensando que você há de me trais um dia. Isso deve ser doença. Eu sou doente mental. - Num esgar de choro, pede: - Arranja outro namorado, arranja um sujeito que acredite em ti!
Responde chorando:
- E se eu provar que te amo? Se eu provar que te serei fiel, até morrer?
Ele balança a cabeça:
- Provar como? Você pode jurar pelo futuro? Hoje você gosta de mim. Muito bem. E amanhã? Gostará ainda?
- Evidente! Eu não mudo!
Odilon segura a pequena pelos dois braços:
- Foge de mim! Eu sou um caso perdido, completamente perdido!
Chegou o ônibus, eles despediram-se.
"Vai, vai! Amanhã conversaremos! " Ela entrou no ônibus e dá janelinha dava adeus.

A mae, que era uma senhora gorda e cheia de varizes, acompanhava, passo a passo, aquele romance. Viu a filha chegar chorando e tomou um susto: " Mas o que foi que houve ?"Pela primeira vez, Odaléia contou o romance inteirinho, inclusive com os detalhes que vinha omitindo. A velha pôs a mào na cabéca:
- Mas esse homem é maluco, minha filha!
Oodaléia assoou-se no lencinho:
- Nào sei e nem interessa, mamãe, o fato é que gosto dele e pronto.
- Ora veja!

A pequena continuava:
- Já pensou como Odilon deve sofrer? Imagine um homem que não acredita em mulher nenhuma. Deve ser terrível. Eu tenho que arranjar um jeito, um meio de provar que eu serei fiel sempre, que serei fiel até morrer, que eu não trairei nunca! E provarei.

Ainda se viram três ou quatro vezes. Foram encontros penosissímos; ele a atormentava, sem dó nem piedade."Quando me trairás? Quando?" Odaléia, que o amava muito, que o amava cada vez mais, respondia:
- Guarda as minhas palavras. Ainda hei de provar que nunca, nunca trairei você.!
E ele:
- Duvido!

Cessaram os encontros. Quinze dias depois, Odilon, numa amargura tremenda, faz os seus cálculos: " No mínimo, arranjou outro e deve andar se esbaldando por aí" Uma manhã porém, aparece, esbaforido, na casa de Odilon, um amaigo. Diz-lhe: " Corre, rapaz, corre que tua pequena está morrendo!"
Vestiu-se às pressas e voou para a casa da garota. E, lá, soube de tudo: Odaléia matara-se durante a noite, tomando não sei que veneno. Varando os grupos de parentes e vizinhos, Odilon cheg ao quarto da pequena. Espia da porta o cadáver na cama. Entra, dá dois passos no interior do quarto e estaca. Via, na parede, o que Odaléia escrevera a lápis, antes de morrer. Eram estas palavras: "AS MORTAS NÃO TRAEM". Apavorado, Odilon cai de joelhos, diante da cama. Apanha a mão da mulher que seria para sempre fiel e a cobre de beijos e lágrimas.

Ris Catherine




** Com respeito ao saudoso Nelson Rodrigues
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