(Recolhido da tradição árabe)
O príncipe morava no distante castelo, sem família, sem amigos, isolado. Tinham-no como muito rico, mas naqueles amplos domínios residiam apenas ele, seu cavalo, e três velhos serviçais da casa.
Certa manhã, picado por uma cascavel, o cavalo do príncipe morreu. A notícia se espalhou por todo o Oriente levada por uma caravana que por lá passara. Horas depois, novas caravanas de peregrinos atravessaram léguas no deserto em direção ao velho palácio, a fim de levar os pêsames ao príncipe.
Era tanta gente, mas tanta gente que o príncipe gastou horas apertando mãos, recebendo abraços e condolências, enxugando lágrimas dos mais sentimentais.
Todos faziam questão de revelar sua imensa dor pelo infortúnio do príncipe, os mais exagerados lamentavam-se por não terem morrido em vez do cavalo.
O príncipe a tudo assistiu com profunda tristeza.
Muito profunda mesmo. Tanto que caiu em depressão, deixou de comer, não dormia, definhou. Foi um corre-corre entre os idosos serviçais, o príncipe se acabava de melancolia, com fundas olheiras e rosto chupado.
Não resistiu ao abatimento. No oitavo dia encontraram-no frio e emborcado no peitoril da janela com o olho parado na sepultura do cavalo.
Os três velhos criados recolheram o corpo do príncipe, prepararam o caixão no salão principal e sentaram-se para esperar pelas caravanas de lamentadores, que haveriam de retornar de todos os quadrantes do deserto para os pêsames. Dar os pêsames, a quem, se o príncipe todo poderoso estava morto.
No dia seguinte, emudecidos e desapontados, os três serviçais, exaustos da solitária noite de vigília, abriram a cova e enterraram o príncipe junto ao seu cavalo.
Sem ninguém por perto, sem a presença de qualquer puxa-saco.
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