SIMPLES, MAS CONSCIENTE
Acreditando estar no exercício de sua cidadania, o eleitor caminha garboso em direção à s urnas. É feriado, poderia relaxar, esquecer o tic-tac do relógio, o despertar de sobressalto, o corre-corre do dia-a-dia, mas, orgulhoso, enfia sua melhor roupa, lustra seu sapato surrado e, ajeitando seu chapéu de couro, desfila pelas ruas pobres de sua cidade - fartas em aclives e declives criados pela ação da natureza e agravados pelo vaivém dos carros de propaganda eleitoral. Cumprimenta amigos, conhecidos e até estranhos.
A cidade parece em festa. Explode numa estatística demográfica nunca vista. Famílias inteiras se dirigem aos diversos pontos onde estão as urnas. Votantes e não votantes vão se enfileirando na procissão espontànea. E o cidadão prossegue, carregando o peso da responsabilidade: definirá o rumo do seu destino. Agora sim, - ao menos uma vez - será ele o juiz e, como tal, fará valer o seu voto: assinará a sentença.
Dezenas e dezenas de aspirantes a cargos políticos circulam discretamente, arriscam subornos, insistem no cansativo e desgastado rosário de promessas, mas o eleitor consciente, indiferente ao assédio, segue a passos firmes, lamentando - é certo - a escassez de bons candidatos.
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