O posto de penhor, recém aberto, estava em fase de implantação, e lá estava um avaliador dando informações e contribuindo em alguma tarefa que ajudasse na organização e andamento do setor, pois como em todo começo as avaliações novas, dos penhores de jóias, são um pouco escassas.
Certa tarde, de um dia quente desse nosso verão escaldante, entra no recinto do penhor, um senhor alto, suando até a ponta do nariz. Era um gringo da colónia com larga vivência urbana, esperto e conversador, dirige-se diretamente ao avaliado, que estava absorto na leitura de um fax da executiva que trazia notícias sobre as negociações salariais.
- Boa tarde moço.
- Boa tarde.
- Aqui dentro tá fresquinho, não imagina como está lá fora.
Queria obter informações sobre o penhor, suas vantagens, desvantagens e se as jóias estariam seguras no banco, tinha ouvido falar de um assalto lá em Belém, aonde os ladrões roubaram todas as jóias do cofre. Tinha muito medo de roubo e não queria amargar a perda de suas jóias que possuíam um grande valor de estimação, sendo que algumas delas vieram da Itália quando sua avó migrou para o sul do Brasil.
Após obter as informações necessárias e ser tranquilizado acerca de tal operação e de sua segurança, disse que já era cliente do penhor de uma agência em Porto Alegre, mais precisamente o posto de Penhor da Praça da Alfàndega. Com a abertura de uma agência de penhores na cidade, iria trazer suas jóias para o posto em implantação. Assim, não teria que viajar a Porto Alegre toda vez que quisesse resgatar ou renovar um contrato.
- Então o senhor vai trazer suas jóias de Porto Alegre?
- Não, eu já estou com elas aqui...
- O senhor vai fazer o penhor hoje?
- Sim.
Pediu licença, levantou-se, virou um pouco de lado, de frente para a parede.
- Tem que ser meio escondido. Comentou.
Abriu o zíper da calça, meio desajeitado e atrapalhado, enfiou a mão com uma certa demora, talvez pelo difícil acesso. Antes mesmo do avaliador, meio assustado, dizer que "pinto" a Caixa ainda não aceitava como garantia para fins de empréstimo sob penhor, o cidadão, ali em frente, retirou de dentro de sua calça um pacote envolto em papel branco e amarrado com atilhos.
- Quero penhorar estas jóias.
Largou o pacote em cima da mesa e mais que depressa fechou o zíper e estatelou-se na cadeira. O suor corria-lhe pela testa, embora o ar condicionado do ambiente estivesse funcionando normalmente. O avaliador, com o constrangimento devido a tal situação ser inusitada num posto de penhor, solicitou.
- O senhor desfaça o pacote, por gentileza.
Provavelmente com um pouco de receio em tocar no invólucro branco e suado das jóias, que certamente ladrão nenhum jamais encontraria.
Com uma análise rápida e visual, o lote, de seis anéis, três colares e quatro pulseiras, foi considerado como jóias de ouro 18 quilates e em bom estado de conservação. Pularam da mesa para a balança e da balança para o envelope com o lacre da Caixa, o mais rápido possível. Total da avaliação R$ 860,00.