Poesia de "cordel"
não se toca em qualquer lira
não são dedos que se contam
não são choros de mentira
há poeta que não chega
ao alvo que sempre mira.
Isso é coisa de despeito
- me desculpem a ousadia,
certos sabidos frustrados
com a sua poesia
chamam de "cordel" o verso
por temer essa porfia.
A peleja é arretada
cada pé é afiado
o cabra que não se cuida
sai até desconfiado
espia, dá ré e volta
entra mudo, sai calado.
Me desculpe se assim chego
já botando pra lascar
é que sou de Pernambuco
onde o Leão foi morar
se estranho, verifico
aponto o erro quando há.
O "cordel" foi apelido
d algum intelectual
não podia concebê-lo
como expressão natural
não achava literária
nossa poesia oral.
Como "sub-literatura"
o folheto resistiu
declamado no sertão
e aí alguém já viu
que é não é mero folclore
ou qualquer versinho vil.
Entro aqui pra reclamar
dessa classificação
pano pra manga que dá
tal leviana distinção:
poesia e cordel -
qual a diferenciação?
O folheto é poesia
da mais bela e enriquecida
verso em seis, sete ou dez
e tem mais, se eu for ouvida
posso dizer àquela gente
que disso for esquecida.
Mas aqui eu me despeço
não quero polemizar
foi entregue minha crítica
para quem interessar
que o "cordel" se reconheça
como arte de poetar.