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Contos-->O amor é uma imagem -- 05/06/2000 - 15:43 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“As vezes você encontra uma pessoa
e acha que ela juntou-se ao seu eu
mas quando você perde ela a toa
descobre que nunca aconteceu.”
M.d.R. – Gaiola

Numa sombria noite do mês de Abril de 2000, lá estava eu, um jovem solitário e inquieto, tentando fugir de toda a assustadora tecnologia que nos deglute a cada segundo. Caminhando lentamente em busca de outro coração vazio, dominado pela minha própria angustia e pelo temor de não realizar a tão sonhada conquista de uma grande paixão.
O frio do início da madrugada, o sofrimento, um determinado pânico silencioso e a vontade de adormecer num seio quente, entre braços femininos, loucamente apaixonados. Sigo pelas ruas úmidas, caminho para um único destino: o desejo de não temer a mim mesmo, perdido em emoção, e na calúnia da fuga em tirar a própria vida.
Secaram-se as lágrimas de meus olhos. Somente sinto um tremendo vácuo que atrai tudo o que vê de horrendo neste triste mundo para o meu interior. Minha mente poluída de idéias mórbidas, se embriaga, usa o álcool como fonte de esquecimento. Uma vida, apesar de momentânea, uma vida, da qual desfruto em momentos de total insanidade como este que descrevo.
Já em minha casa, dirigi-me ao banheiro, com as luzes apagadas, molhei as mãos e as levei ao rosto abaixando a cabeça numa linha um pouco abaixo do espelho. Quando levantei meu corpo, ainda com as mãos em minha face, pude observar pelo vão de meus dedos entre abertos, uma imagem, uma garota, morena, com lindos cabelos longos e negros com os lábios entre abertos. Num súbito movimento, esfreguei os olhos, a imagem havia sumido de meu espelho. Agora, eu me via, assustado, curioso confesso e extremamente ébrio.
Deitado na cama, no meu pequenino quarto, fiquei a observar o teto, lembrando daquela imagem. Ah! Que bela! Quem me dera, tocar aquela bela face... acariciar tão bela pele. Desvendar os segredos da linda figura... a qual não passou de uma ilusão duma mente perturbada pelos medos e ansiedades de uma sociedade vazia de sentimentos e valores, quão nem os mais belos e puros homens não souberam usufruir, nem tão pouco se aproximar desta conquista maravilhosa uma dádiva, a mais perfeita e que, para a infelicidade da raça humana, Deus não nos deu.
Como num piscar de olhos, a manhã já vinha bater na janela, pedindo para entrar e me trazer o calor que, apesar de ser uma pessoa frágil, sempre neguei. Um ser da noite, este sou eu. Com ódio da falsa alegria dos pássaros que gorjeiam sobre as árvores das praças onde diversas ignorâncias que se dizem humanas insistem em sorrir e lançar fúteis comentários sobre a vida alheia para o ar.
Mas foi naquela manhã, na manhã do único dia feliz de minha vida que conheci algo semelhante a paz. Não, paz não seria a palavra correta, poderia substituí-la por...não sei, talvez... um bom contentamento. Permaneci deitado até as minhas costas não aguentarem mais de dor e me obrigarem a levantar. Descalço, somente com uma velha calça de moletom, fui até a cozinha. Abri a geladeira, que surpresa! Duas cervejas e um queijo estragado. Aí estão as desvantagens de viver só. Voltei ao quarto, vesti uma camisa velha, peguei umas moedas e saí em direção à padaria.
Andando em baixo daquele sol muito quente, extremo oposto da noite anterior, coloquei a mão sobre os olhos para proteje-los da claridade. Foi na entrada da padaria. Assim que subi o degrau da porta, topei com uma moça, não entendi o que aconteceu, assustei-me. Ela me olhou dos pés a cabeça e com uma expressão vazia, me cumprimentou. Parecia me conhecer... fiquei paralisado enquanto ela saia...
Meu Deus! Era ela! Era ela a imagem no meu espelho! Saí da padaria e corri em sua direção. Tive medo de tocá-la, então parei e observei aquela imagem se afastando. Ao chegar na esquina, onde moro, a garota parou e disse: “Porque me olha?” Por alguns segundos minha voz sumiu. É como se quisesse dizer tantas coisas belas, coisas que eu não conhecia, eu não sabia por onde começar! Não sabia o que dizer!
Ela percebeu meu desajeito e partiu. Eu havia perdido minha única e última esperança. Pela primeira vez senti meu coração bater. Voltei para casa frustado, nem tomei café. Abri uma cerveja, sentei no chão entre a cômoda e minha cama e fiquei a pensar... a sonhar, me iludir.
As horas foram passando. A cerveja esquentou. Eu conseguia ver meu corpo de fora, é como se minha alma estivesse flutuando pelo quarto a observar sua própria decadência física. Horrível. Congelada. Com a vista funda e longínqua. Naquele momento percebi que nunca soube o que é o amor.
A campainha tocou. Demorei à levantar, não estava interessado em quem poderia ser. Só conseguia pensar nela e em como seria acariciar seu corpo de menina moça, a pele lisa e aconchegante de seus ombros e costas. Me sentia, pela primeira vez, apaixonado. Passei pelo corredor. Entrei na cozinha. Deixei a cerveja sobre a mesa e segui até a porta. Quando abri... senti meu coração bater novamente, mas o que ela estava fazendo na minha casa!?
“Posso entrar?”, disse ela já vindo em minha direção. Eu, totalmente sem jeito, levei-a para a cozinha e pedi para se sentar. Muito afobado, fiz diversas perguntas. Ofereci até da comida que não havia, por sorte, recusou. A perfeição da mulher na Terra de Deus, apenas fazia sinais com a cabeça até quando perguntei seu nome. Ela levantou e com movimentos lentos se aproximou de mim. Não me mexi. Fiquei totalmente imóvel. Senti mãos frias tocarem minha nuca, estava anestesiado pela estranha menina.
Me virei. Fiz com que ela ficasse em pé dentre as minhas pernas. Com minhas mãos nas costas frias dela, comecei a beijar seu abdômen. De repente, com os dedos entrelaçados atrás da minha cabeça, me fez levantar. “Mas me diga, você ainda não me disse o seu nome.” Falei.
Observando-me com aqueles olhos negros como o universo sem fim, disse: “Vou te dizer quem eu sou.” Apesar de estranho, foi o melhor momento de minha triste vida. Abraçou-me com força, tentando demonstrar sinceridade. Eu percebia isto nela, mas aquele abraço me trazia muito frio! Muito frio mesmo! Nem o sol do início da tarde me esquentaria.
Encostado com aquele corpo frígido, não senti um outro coração bater...apenas o meu. Foi quando, num inesperado movimento, me beijou. Fechei os olhos, quando nossos lábios se tocaram... ela não tinha saliva... durante aquele, que deveria ser um maravilhoso beijo, fui dominado por uma enorme infelicidade e lágrimas brotaram de meus olhos.
Deu um passo para trás. Segurou as minhas mãos e disse com o mesmo olhar sem expressão: “Eu sou o que vocês chamam de amor, os homens me criaram e também me destruíram, através do que você chama de sociedade vazia de valores. Desculpe, mas vocês me fizeram assim.” Virou as costas. Saiu e desapareceu na rua.
Novamente paralisado, lá estava eu... tentando compreender todos os meus atos até então. Notei que até as mais belas ações humanas são totalmente podres e baseadas nos infinitos mundos egocêntricos existentes. Me senti tão sujo! Estava com nojo de mim mesmo, mas simultaneamente via crescer dentro da minha devastada alma uma certa alegria que me mostrou que tirar a própria vida não é uma fuga, não é fragilidade e sim, coragem. Coragem de se assumir como um ser medonho, prejudicial e indesejável para este complexo mundo.
Abri a última garrafa de cerveja. Dei um último gole. Quebrei-a na beirada da pia, derrubando todo o conteúdo no chão. Segurando-a pelo gargalo, inferi um forte golpe contra o meu próprio pescoço, o que me levou ao falecimento. “Eu encontrei com o amor, e ele me provou que não existe.”
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