Sartre talvez tenha razão: somos nós mesmos os responsáveis.
Você é responsável por todos e por tudo.
Queimadas na Amazónia? a culpa é sua. Culpa por omissão. Mulheres sendo cortadas por um costume bárbaro? a culpa é sua! porque a sua cultura é diversa. Havaianos perdendo as suas tradições? a culpa é sua! sua, por ser um turista bundão alimentando a perda das tradições milenares.
A culpa é sua. Não entendeu? A CULPA É SUA. Percebeu agora? ou vai bem querer que eu contrate o J.J. Marreiro para desenhar, heim?
E agora que você se convenceu de que a culpa é sua, saiba: existir é um ato responsável. Os irresponsáveis deveriam ser elogiados por tentarem escapulir do inexorável. Os suicidas deveriam ser facilmente compreendidos por não tentarem ser super-humanos carregando todo o existir sobre suas cabeças. Os eternos adolescentes deveriam ser invejados por sua resistência em aceitar o inevitável fardo.
Porque a partir do momento em que se assume que se existe, assume-se a responsabilidade. É um pacotaço. Indissolúvel.
Obviamente que não assumir o encargo que todos esperam seja assumido refletirá em mau-grado que os demais terão em relação a essa atitude - ou antes, falta de atitude.
Crer em Deus é uma coisa. Culpá-lo por tudo é outra. O verdadeiro ateu não condena a crença em Deus, mas vive sabendo que a civilização é sua culpa e que não poderá culpar mais ninguém.
Mas - ah, debilidade humana - quão cómodo pode ser o se assumir crente de uma força superior. O mundo todo é transferido para as potentosas espáduas de um Atlas qualquer.
E nesse passo contínuo, só temos a certeza sartriana de que "o inferno são os outros". E mais: de que cada um escolhe o próprio papel a desempenhar - o de ser ou não ser existencial.