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Contos-->DALIDÁ -- 05/06/2000 - 17:49 (ANTONIO LUIZ RAMALHO CAMPOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


DALIDÁ

Músico, 45 anos, nenhum sucesso, tem caso
passageiro com menina de 20 , filha de um de seus
melhores amigos. Tudo secretíssimo.
Num fim de semana em Itaipava, mostra ao violão,
letrada em francês uma balada: Dalidá. Dalidá era uma
velha recordação, cantora francesa semi obscura nos anos
sessenta; tinha conhecido em um lote de discos
promocionais de um amigo divulgador de gravadoras.
Música suave, doce e pequena; cool, tinha sido seu
destino, João Gilberto, seu ídolo, sabia tudo de música mas não
conhecia a voz rouca e as divisões de Dalidá.
Dalidá era alta, morena, argelina, grande
de nariz, de corpo, de boca sempre gulosa, sempre
vermelha. Um cult de poucos, mais exclusiva que Julie
London, aliás uma Julie London européia, mais
sofisticada. A música falava dela, uma moura sensual,
bela doce e agressiva.
A menina também conhece música, toca e canta,
copia a letra e cantarola a balada até decorar,adorou Dalidá. Tem um
outro amante, também mais velho, produtor musical de
algum sucesso e nenhum caráter, ao qual mostra a música.
Ele gosta, grava na voz dela e sem nenhum aviso, envia a
canção, como se sua, a um produtor amigo nos EUA.
Seis meses depois, DALIDÁ é um enorme sucesso
mundial, tocada e cantada por Eric Clapton. No Brasil é
tema de novela, cantarolada por todos em sua versão
nacional. Os autores? Os dois produtores, o brasileiro e
o americano.
Sem entender nada o músico, reconhece sua balada do
primeiro ao último acorde e procura a gatinha, que não
sabe se explicar. Andou cantando-a por aí, para alguns
amigos, coisa sem importância. Nem de longe podia dizer
quem suspeitava ser o ladrão, seria um escândalo
duplo, o outro também era amigo da família.
Era bonitinha, alta, loira, falsa magra, cabelos
longos como nos anos setenta, feliz, alegre, atrevida,
sem medos aparentes, mais ou menos inteligente, mais ou
menos burra. Estudava psicologia, falava sempre
recheando seus vazios com citações, as mais variadas.
Pensando bem, tinha que levar a seu analista essa sua fixação por homens mais velhos, parecidos com seu pai.
Milhões de dólares estavam sendo arrecadados em
direitos autorais e ele, funcionário público e músico
mal remunerado, nem de longe via o dinheiro. Também, não
sabia como fazer valer seus direitos, principalmente sem
trazer a público seu afaire com a mocinha. As dúvidas
eram muitas e só com a loira poderia discutir uma saída.
Chamou-a para um papo sério em sua casa. Nesta
altura, ela já sabia que o amante produtor também estava
cheio de dinheiro, de casa, carro e lancha novos. Ficou
revoltada com a explicação que ele lhe deu “música é
como passarinho, se está no ar, pode-se pegar”e pior, disse tudo isso em francês,como na balada.
Ficou perplexo, chocado, com a
promiscuidade dela, a cara de pau dele e o cinismo de
ambos. Afinal o produtor era amigo dele, da família dela também e como todo bom canalha tinha a simpatia como ferramenta de
trabalho.Resolveu contar tudo.
Digeridas as primeiras e dolorosas revelações precisava raciocinar, agir com a cabeça.A menina, por alguma participação nos lucros,
topava ir à juízo. Contratou um grande advogado, também
amigo de todos mas sem casos com a garota.Tinha a certeza que isso era garantia de que o rolo com a filha do amigão cairia na boca do povo mas fazer o que? Tudo bem, se o dinheiro
fosse garantido. Tudo mal, muito mal, se não
recebesse nada, porque com certeza perderia os amigos
aí, sem nenhuma compensação. Embora ainda achasse que
uma amizade não tivesse preço, ia pagar pra ver ,com as poucas cartas que tinha na mão.
A demanda foi notícia na imprensa mundial. Ficou
famoso. Suas músicas que nunca haviam sido gravadas,
agora também eram sucesso, aqui e lá fora, afinal qual o
cantor que não queria arriscar um êxito como Dalidá. Nos
tribunais não conseguiu provar nada, nem com o
depoimento da lourinha e o escândalo que se seguiu.
Ao final,num acordo amigável, recebeu um bom dinheiro da produtora
americana.
Hoje, sem os velhos amigos, mora em Londres e é
sempre assediado pelas estrelas do show business mundial
em busca de sua última canção. Afinal, todos sabem que
Dalida é dele mesmo e que ali está um grande artista.

ANTONIO LUIZ RAMALHO CAMPOS em Novembro de 1999


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