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Artigos-->Era uma vez um jardim... -- 10/10/2007 - 21:24 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Joana vibrava enquanto tomava conta do jardim. Passava o dia feliz e cantarolando, desenvolvendo um dos maiores trabalhos de extensão universitária jamais visto. Suas plantas, sua sala, seu pequeno prédio, seus funcionários, seus pássaros, seus orientados, e os alunos das escolas públicas que ela lá acolhia tão bem eram todos testemunhas. Eu já conhecia Joana há muito, mas a partir de 2000 começamos a nos encontrar mais nas maravilhosas paisagens do jardim. Em 2001 começamos a realizar os encontros de nosso grupo para estudar tópicos da linha de frente da ciência: teoria do caos, fractais, complexidade, homeopatia, técnicas de medicina complementar, regressões terapêuticas, espiritualidade, física quântica, etc... Tópicos que mexiam muito com quem com eles nada tinham de afinidade. No entanto, a fase do jardim era ótima! Os encontros semanais começaram a atrair mais e mais gente e em pouco tempo lotávamos o auditório do prédio contíguo ao jardim. Alunos aos montes, dos mais variados cursos e todos entusiasmados com a nova face da ciência. Além deles, médicos, psicólogos, biólogos, veterinários, agrônomos, advogados, engenheiros, etc, esse era o eclético público das reuniões do jardim. Cientistas, religiosos e místicos se encontravam nessa arena semanal. Um éden no árido terreno acadêmico, um oásis no deserto. Enquanto o público crescia, a inveja dos doutores da lei também o fazia em proporção ainda maior. Não deu outra! Um conluio entre o superior responsável pelo jardim e o superior do superior deflagrou o processo de destruição dos planos de Joana e da equipe que com ela trabalhava. Senti meu tapete violentamente puxado por alguns que se diziam colegas, amigos. E aí os conluiados tinham justificativas para tudo. Foi um duro golpe! Os freqüentadores do jardim ficaram pasmos: o que acontecera? Como nós poderíamos ter permitido aquela afronta à opinião pública? Afinal, o jardim não era um local de uma universidade pública? Pelo grande chefe local, fora designado uma interventora no jardim para “restaurar a ordem”, atitude típica do final da década de 1960 em nosso país. Primeira providência: trancafiar todo o jardim com cadeados que, a partir de então, proibiram o público de adentrar a área para deleite. Se quisessem usufruir da área pública, passava-se a se exigir um alvará, mediante solicitação impressa e oficial. Foi o começo do fim. Eu fiquei triste, muito triste, mas para Joana foi pior. Foi exigido que ela ocupasse uma outra sala em outras dependências de péssima energia que ela, naturalmente, não queria. Outros absurdos foram dela exigidos como represália, já que o sinédrio tinha que colocá-la “na linha”. Mas o que vale a opinião de um ser humano mediante a decisão política e burocrática de uma equipe de involuídos? Joana fora enxotada do jardim! O jardim perdia o brilho porque perdia a energia dos seus freqüentadores. Nem mesmo os prêmios que vieram depois, forçados e forjados, puderam lhe trazer o mesmo ânimo. Os conluiados ignoraram que a boa energia das boas pessoas não se repõe com nada material, nem mesmo com grotescas e esquivas canetadas. Foi-se a época áurea do jardim, mas as boas lembranças ficaram com cada um dos ex-admiradores. Também ficaram as fotos, inclusive em jornais da cidade, das atitudes despóticas tomadas na época, coisa que eles jamais conseguirão apagar. Para o público freqüentador assíduo, ficou a saudade, mas também o sentimento de que outros momentos inebriantes como aqueles no jardim conseguidos se seguirão em outros locais, talvez fora do espaço-tempo. Afinal, cada um é arauto das mais variadas construções do sistema dinâmico chamado vida. Joana pagou um preço alto, teve que reorientar sua vida. Com certeza, um carma a ser vivenciado com seus algozes. De certa forma, eu também. E os filhotes da ditadura que seguiram os ditames da entropia, pagaram e ainda pagam pelas escolhas espúrias e casuísticas, ainda que bem envernizadas para os empoderados da época. Olho para traz hoje e digo de coração aberto: que bom que aquele jardim existiu...

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