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cronicas-->Pensamentos Neuróticos de uma Caloura -- 16/03/2002 - 17:58 (Elaine Lima da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Arrumei todo o material, as duas canetas azuis, uma lapiseira, um corretivo, um caderno já encapado. Tudo isso na pasta nova que comprei quando fiz a matrícula.

Amarrei o cabelo, coloquei a calça jeans nova, a camiseta branca e o tênis impecavelmente limpo, que a minha mãe lavou.

Fui para a parada. Achei melhor ficar em pé esperando, mesmo que faltassem trinta minutos para o ónibus chegar, era bom prevenir. Chegou e entrei: eu, a iniciante, a caloura.
Claro que todos me olhavam, pois esqueci de pór os brincos.

Olhei todas as poltronas que ainda estavam vazias. Pensei em sentar. Seria minha primeira tentativa de demonstrar minha personalidade.
Na frente, com certeza achariam que eu faria o tipo "comportada", que não incomoda e não quer ser incomodada. Que lê com aquela luz escassa na ida e na volta dorme até babar. Nem pensar, muito careta!

Estiquei os olhos até o final do corredor e me deparei com o conglomerado de passageiros que cantarolavam músicas conhecidas no meio de muita bagunça! Era a turma do fundo que berravam e davam gargalhadas sem nenhum motivo aparente. Ééé... legal, até divertido, melhor que sentar na frente.

Porém, a idéia de ser caloura voltou aterrorizando meus pensamentos e todos os trotes e sacanagens que sempre me contaram, com certeza se tornariam realidade se não me sentasse rápido. Enfim, sentei num dos bancos do meio.

Fiquei no lado da janela, pois nunca se sabe se o almoço iria fazer a digestão ou voltar recusando-se a fazê-lo. Colei o rosto no vidro por dois motivos:
- evitar os olhares indiscretos de um possível passageiro tarado que pudesse sentar ao meu lado;
- decorar o trajeto que durante quatro anos eu iria percorrer. Se um dia quebrasse o ónibus, eu poderia ir andando.

Acalmei-me. Até então, não tinha mistério e fiquei nervosa só de pensar que pudesse ter algum.
Resolvi antecipar minhas preocupações quando chegasse na universidade: onde ficaria o banheiro? A sala? A cantina? Deveria chamar o professor(a) de senhor(a) ou apenas pelo nome?Deveria colocar os óculos já no primeiro dia de aula?

Enfim, foi melhor pensar em coisas mais concretas ... e tratei de segurar bem firme a pasta e a bolsa, pois caso o ónibus freasse, eles estariam seguros. Dito e feito. Numa ultrapassagem mal pensada do motorista, me desloquei da minha postura normal e quase bati no banco da frente. Sorte que segurei bem os meus materiais. Pensei: "Sou mesmo um gênio!"

De qualquer forma, iria exigir da empresa para que colocasse cintos de segurança em todos os assentos, a turma iria me agradecer!

Estava feliz, meus três anos de curso pré-vestibular e os fins de semana trancada estudando, valeram meu ingresso no curso de jornalismo, que teve o "alto" índice de 0,8 por vaga. Meus pais com certeza tinham orgulho de mim.

Foi em meios a essas divagações que o barulho ensurdecedor do motor parou. Havíamos chegado. O corredor inundou de veteranos que se dirigiam até a porta. Observei um a um. Pareciam todos espertos, alegres, confiantes, inteligentes e acostumados à vida universitária. Engoli em seco.

Eu parecia "tansa", ingênua, desconfiada, mentecapta, perdida e sozinha. Epa! Sozinha??? Foi então que me vi só, encolhida no banco. Todos haviam saído. Levantei depressa e tentei me lembrar de como os outros chamavam o motorista. Parecia algo como "batata", ouvia dizer:
- Até depois batata!
Estranho, batata? Suei frio, deveria ter prestado mais atenção e não ter pensamentos neuróticos.
O melhor era ficar quieta e sair rápido do ónibus. Foi em vão. Não quis ser antipática logo de início e balbuciei baixinho uma frase desastrosa:
- Até depois "rabada"!
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