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Frases-->Filhotes de cachorros imperialistas não comem frango! -- 21/07/2009 - 15:17 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Revista Veja - 22/7/2009

Da entrevista com XINRAN XUE

"...

Que tipo de pesadelo a atormenta?

São tantos... Durante a Revolução Cultural, meus pais foram presos, acusados de ser capitalistas porque haviam trabalhado com estrangeiros e falavam inglês. Os guardas vermelhos entraram em casa e fizeram uma fogueira com tudo o que diziam ser "reacionário" ou "burguês": livros do meu pai, meus brinquedos e até minhas tranças. Eu usava duas tranças, amarradas com fitas. A guarda gritou que era um penteado burguês. Cortou-as e jogou-as no fogo também. Depois disso, fui levada, com meu irmão mais novo, para um quartel da Guarda Vermelha. Vivi lá por seis anos e meio. Como nossos pais eram considerados reacionários, éramos chamados de "crianças negras" e não podíamos brincar com as outras. Dormíamos no chão. Muitas noites, os guardas vinham, no escuro, pegavam uma criança e a levavam para o quarto ao lado. Era a hora dos abusos, dos espancamentos... Eu ouvia o choro e os gritos e ficava tão assustada que meu corpo todo tremia. A cada noite eu achava que seria a minha vez. Era aterrorizante. Acho que escapei porque era muito pequena. Até hoje, quando meu marido está viajando, não durmo sem colocar minha bolsa, minhas chaves, tíquetes de avião, qualquer coisa assim, ao lado da cama. Faço isso para não entrar em pânico quando acordar no meio da noite – para lembrar que não estou mais lá e quem eu sou agora. Não consigo me livrar disso. Procurei psicólogos, mas não funcionou. Acho que eles eram ocidentais demais para me entender.

O que, por exemplo, eles não entendiam?

Bem, faz parte do tratamento você falar tudo. E isso eu ainda não consigo. Nem ao meu filho contei tudo o que aconteceu comigo durante a Revolução Cultural.

Por quê?

Porque acho que, se eu contar, não terei mais condição de continuar vivendo.

Seu irmão passou pela mesma experiência na infância. Como ele vive hoje?

Sinto que ele desistiu de tudo. Vive em Pequim, não tem confiança nele, não faz nada. Sei que sofre muito, embora não fale. Nunca mais o vi chorar desde aquele episódio do frango. (Ela relata a história em seu primeiro livro: o irmão tinha pouco mais de 2 anos quando, por ocasião de uma celebração nacional, serviram frango assado no quartel da Guarda Vermelha em que ambos viviam. Ao ver os outros comendo, o irmão começou a chorar, gritando que também queria. Alguém, furtivamente, deu-lhe um pedaço, mas um guarda viu a cena, arrancou a carne das suas mãos, atirou-a ao chão e pisoteou-a. Gritou: "Filhotes de cachorros imperialistas não comem frango!")

..."




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