Aproxime-se, me disse docemente minha mãe, certo dia.
(Ainda parece que escuto sua voz ecoar no silêncio em doce melodia)
- Aproxime-se e me diga que causas tão estranhas te arrancam essa lágrima, filho meu, que macula tuas trêmulas sobrancelhas como se fosse uma gota úmida de orvalho.
Tens um padecer e me a escondes.; não sabes que a mãe mais incessível sabe ler a alma dos seus filhos como tu lês a cartilha?
Queres que te adivinhe o que sentes?
Aproxime-se meu pirralho, que, com um par de beijos na fonte te dissiparei a tempestade dos teus pensamentos.
Eu comecei a chorar. Nada lhe disse.
A motivo de minhas lágrimas, ignoro. Mas, de vez em quando, sinto que algo me aperta o coração, e choro!
Ela se ajoelhou, pensativa, semblante nebuloso,
e olhando dentro dos meus olhos me disse com brandura:
Chama sempre a tua mãe, quando sofrer, que ela virá morta ou viva. Se estou no mundo, compartilho do teu padecer.; e se não, consolar-te-ei lá de acima.
A partir daquele dia, quando não tenho uma boa sorte,
como hoje, e algo me perturba a tranqüilidade do meu lar, invoco o nome de minha mãe amada.
E então, sinto um bafejo de alegria na alma.
(OLEGÁRIO DE ANDRADE)
|